Atenção aos Sistemas de Projeção

A Cartografia sempre foi caracterizada como resultado da exatidão da ciência, pelo rigor de seus métodos, com a beleza da arte na elaboração dos produtos finais, buscando aí uma comunicação com o usuário de forma muitas vezes até abstrata.

Opções em CAD para elaboração de mapas são muito maiores, com possibilidade de criação de símbolos, definição de incontáveis combinações de cores, traços, hachuras, sombreamentos, modelo digital de terreno, tudo apoiado por estudos da semiologia gráfica, resultando em produtos belíssimos e de interpretação direta.

A fantástica popularização da cartografia digital, advinda de várias aplicações do geoprocessamento revela um desconhecimento, em muitos usuários, de alguns aspectos inerentes à Cartografia, que em muitas situações podem transformar-se em problemas futuros.

Assim, muitas vezes ao iniciar um projeto de mapeamento em um ambiente CAD é exigida uma definição de coordenadas plano-retangulares (X,Y) de forma genérica, o que é sempre realizado adotando, respectivamente, coordenadas E (Este) e N (Norte) do sistema de projeção UTM. Além da simples troca de letras, temos embutidas aí diferenças que devem ser observadas com cuidado, pois como uma carta é a representação de parte da superfície terrestre, exige tratamento especial quanto às deformações conseqüentes do desenvolvimento de sua curvatura sobre uma superfície plana.

Desta forma, adotamos os sistemas de projeção, que se baseiam em uma rede de linhas que representam os paralelos e meridianos terrestres. Todas as projeções apresentam algum tipo de deformação, de direção, de área ou linear, sendo que devem ser observados os parâmetros destas correções.

O ideal é trabalhar com sistemas CAD que possibilitem definição prévia do sistema de projeção. No Brasil, conforme prevê o Sistema Cartográfico Nacional, a projeção adotada (seguindo recomendação da União Geodésica e Geofísica Internacional) para mapeamentos em escalas maiores que 1: 250.000 é a Universal Transverso de Mercator – UTM, por se tratar de projeção conforme (mantém as áreas) que oferece algumas facilidades de utilização.

O sistema de projeção gera a construção de um sistema de quadrículas plano-retangulares, tendo como origem o cruzamento do Equador com o Meridiano Central, com acréscimo de 500.000 m para as ordenadas e 10.000.000 m para as abscissas (somente para o Hemisfério Sul, para evitar coordenadas negativas).

Este sistema, ao dividir a Terra em fusos, apresenta alguns parâmetros para correção de medições lineares e angulares. Assim, temos o coeficiente de deformação linear (K), cujo valor varia no fuso a 0,9996, atingindo seu valor máximo de redução, crescendo até os extremos do fuso, atingindo seu valor máximo (K=1,001).

Os valores de K constam nas legendas de folhas do mapeamento e devem estar embutidos no CAD, para obtenção de medidas lineares da carta com maior precisão. Assim, conhecendo a distância na carta, o seu valor no terreno será resultado da divisão pelo valor de K.
A representação, dentro do fuso de paralelos como linhas retas e os meridianos (linha N-S) como arcos, faz com que, quando superpostos com a quadrícula plano-retangular, surja uma diferença entre a linha da quadrícula (que define o Norte da Quadrícula) e a linha do Meri-diano que passa por um determinado ponto (cruzando os pólos e definindo o Norte Geográ-fico), chamado de Convergência Meridiana (g).

O valor da Convergência Meridiana varia de ponto a ponto dentro do fuso, sendo importante na obtenção de azimutes verda-deiros a partir de azimutes planos (obtidos pelas leituras das cartas).

Da mesma forma, a declinação magnética (direção que o norte magnético forma com o norte geográfico) é usada para transformação de rumos ou azimutes magnéticos em rumos ou azimutes geográficos. Rumos ou azimutes magnéticos são obtidos com bússolas em campo. A bússola é um aparelho simples mas pouco preciso, que fornece resultados satisfatórios quando empregada em levantamentos rápidos.

Marco Antônio Néia é cartógrafo e diretor técnico da Gisoft (SP). email: gisoft@gisoft.com.br