Ortofotocarta usada no plano de concessões do Anel de Integração do Paraná. Ortofotocartas são usadas em diversas etapas de projetos de engenharia viária, fornecendo informações sobre solos, geologia, geomorfologia, rampas, declividades, riscos de desmoronamentos, uso da terra, cadastro para fins de desapropriações, inserções, acessos, etc.

Andando por uma estrada, nossa percepção da paisagem limita-se ao alcance dos nossos olhos. Muitas vezes, acidentes geográficos e feições de ocupação do solo fazem com que nosso campo de visão se restrinja às margens da estrada.

É fácil imaginar a importância das imagens de sensoriamento remoto para técnicos que trabalham com estradas e que necessitam obter uma visão circunstanciada da região de estudo.

Sensores instalados a bordo de aeronaves e satélites artificiais dão uma visão de conjunto do meio ambiente, fornecendo enorme quantidade de informações multidisciplinares. Aplicações de sensoriamento remoto em estradas podem ser divididas em 3 grupos principais: projetos de engenharia viária; mapeamento e atualização; e estudos ambientais.

Projetos de Engenharia Viária
Foi-se o tempo em que o projeto de construção de uma estrada era baseado em cartas topográficas existentes e métodos convencionais de topografia. Quando a definição do traçado da estrada era feita através da exploração locada em campo (onde o sentimento do engenheiro ou topógrafo era fator preponderante) os erros eram inevitáveis e o tempo de execução extremamente dispendioso.

Um projeto otimizado, multidisciplinar, permite a análise eficaz de alternativas de traçados viários. Atualmente, as ortofotocartas, imagens fiéis e atuais da realidade, que apresentam de forma integrada todas as feições da faixa de estudo, podendo chegar à escala 1:1000, são ferramentas indispensáveis na elaboração de planos funcionais, anteprojetos e até projetos finais.

O uso de ortofotocartas integradas a modelos numéricos de terreno em meio digital permitiu a transferência do campo para o escritório de quase todos os estudos que apresentam detalhes e especificações técnicas a ser seguidos na execução de uma obra viária. Com isso, ganhou-se tempo e qualidade na elaboração de projetos e houve grande aumento de produtividade com diminuição de custos.

Como exemplo podemos citar a Secretaria de Transportes do Estado do Paraná. Ao estabelecer o plano de concessão das rodovias que compõem o Anel de Integração do Paraná totalizando 2.035 Km usou como elemento de apoio um projeto básico, contratado pelo DER, executado sobre ortofotocartas na escala 1:5000. O projeto contemplou o estudo de interseções, viadutos, pontes, duplicações, retornos, vias marginais, contornos de cidades, entre outros.

Até o momento, imagens de satélites não possuem resolução suficiente para o ramo da engenharia viária. No entanto, o surgimento de imagens como as do IKONOS 1 (Space Imaging), Early Bird e Quick Bird (Earth Watch), EROS A e B (West Indian Space) e Orb View 3 e 4 (Orbital Sciences Corporation) com resoluções variando entre 1 e 3 metros, incrementará as alternativas de produtos de sensoriamento remoto a ser empregados em estudos de obras viárias.

Mapeamento e Atualização
Estradas municipais na grande maioria das vezes são construídas e mantidas por necessidades ocasionais. Implantadas sem projetos ou plantas, geralmente não têm pavimentação e fazem interligação de lugarejos, fazendas, distritos, povoados e pequenas vilas com a sede municipal e/ou com a rede viária estadual ou federal. Raramente as Secretarias de Planejamento possuem a malha viária do município mapeada e, principalmente, atualizada. Como um planejador pode colocar em prática um plano de desenvolvimento sem conhecer a distribuição espacial das suas estradas?

Imagens de satélites (sensores ópticos e radares) com resoluções iguais ou superiores a 10 m são solução extremamente eficiente tanto no mapeamento como na atualização das estradas de um município. Esta abordagem também é válida para atualização de qualquer base cartográfica até na escala 1:20.000.


Exemplo de utilização de imagens SPOT pancromática (10 m de resolução) para mapeamento e atualização de stradas municipais no estado de Santa Catarina.

Outro setor que se beneficia de sensoriamento remoto para mapeamento de estradas é o florestal. Com o incentivo fiscal iniciado em 1966 e extinto nos anos 80, empresas reflorestadoras investiram no plantio de grandes extensões de terras. No entanto, os projetos aprovados que deveriam apresentar além das áreas de plantio e preservação as estradas a ser implantadas para o correto manejo e extração das árvores não condizem com a realidade atual. Como não havia tecnologias adequadas para se projetar as estradas, as condições ambientais locais influenciaram de maneira acentuada a locação dessas estradas, e hoje existem grandes discrepâncias em relação ao projeto original aprovado.

Isso é ainda mais evidenciado em áreas de relevo acidentado, o que aliás é bastante comum no setor. Em vista disso, dados atualizados de imagens de satélites e fotografias aéreas estão sendo empregados no mapeamento de estradas florestais, já que uma boa estrutura viária é fundamental para exploração racional e econômica dessas áreas.

Estudos Ambientais
Outras atividades relacionadas a obras viárias que se tornam cada vez mais dependentes de imagens remotamente sensoriadas são os EIA/RIMA (Estudos de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto de Meio Ambiente) e AIA (Avaliação de Impacto Ambiental). Estudos multidisciplinares envolvendo impacto ambiental estão sendo requisitados com freqüência e em prazos praticamente inexeqüíveis. Assim, o uso de produtos de sensoriamento remoto se torna quase obrigatório em estudos desta natureza, já que possibilitam a obtenção de vasta gama de informações a ser manipuladas por profissionais de diversas áreas de conhecimento em períodos curtos de tempo.

O próprio monitoramento das condições ambientais nas adjacências de auto-estradas como localização e mapeamento de áreas degradadas, é hoje uma tarefa factível graças às imagens de sensoriamento remoto.

Com o incessante desenvolvimento do sensoriamento remoto, produzindo imagens cada vez mais precisas e com maior freqüência de observações sobre a mesma área, atividades como monitoramento de tráfego, fiscalização de concessões, prevenção de catástrofes entre outras, que hoje dependem de intensivos trabalhos de campo, poderão ser extremamente beneficiadas com aplicações da tecnologia espacial.


Integração de imagem SPOT pan + Landsat ilustrando presença de áreas urbanizadas, estradas vicinais, instalações industriais e áreas degradadas ao longo da BR-116 (RS)

Dirley Schmidlin é engenheiro agrônomo, mestre em Interpretação de Imagens e Cartografia de Solos pela UFPR, responsável pelo Sensoriamento Remoto Orbital na Engefoto Engenharia e Aerolevantamentos S.A. (PR). email:engefoto@sul.com.b