Automação Topográfica e as Normas Brasileiras NBR 14.166

Normas Técnicas para topografia existem há bastante tempo no Brasil. Porém, infelizmente, parte dos profissionais da área deixa de usá-las e, pior, muitas vezes nem sequer conhece o seu conteúdo. As Normas Técnicas regem conceitos e procedimentos indispensáveis nos levantamentos topográficos, que garantirão a qualidade e segurança para quem executa os serviços e também para quem os contrata.

A NBR 13.133, que trata da execução de levantamentos topográficos, estabelece condições para obtenção de características e informações relativas ao terreno, e além disso seleciona métodos e instrumentos que sejam compatíveis com os objetivos do levantamento. Bem, onde entra o conceito da Automação Topográfica em tudo isso?

Aqui estão alguns exemplos:
Em função de seu desvio-padrão, as estações totais são divididas em 3 classes de precisão: baixa, média e alta.

Todos os ângulos, distâncias e outros dados de levantamento, como altura do instrumento e altura do sinal (prisma) deverão, segundo o item 5.21.2 ser registrados de maneira ordenada e completa, o que se encaixa perfeitamente à coleta de dados com registro eletrônico disponível nas estações totais e coletores.

O item seguinte, 5.21.3, se refere aos cálculos, que poderão ser executados por computador. De acordo com a Norma, as saídas impressas deverão conter os dados de entrada, resultados e erros de fechamento. Esse exemplo tem ligação direta com o software topográfico que vai efetuar todas as tarefas de cálculo citadas anteriormente, além de produzir relatórios com todos os dados especificados.

Na tabela 7 são especificadas classes de poligonais, definindo a aparelhagem de acordo com as classes de precisão de teodolitos e distanciômetros que são exatamente as mesmas das classes de precisão das estações totais.

Os Critérios de Inspeção, Aceitação e Rejeição no levantamento topográfico, nos cálculos e no desenho topográfico podem ser feitos também por meio das estações totais e do software topográfico respectivamente.

O Anexo B define todas as Convenções topográficas que são configuráveis nos sistemas CAD do software topográfico, como tipos de linha e inserção automática de símbolos.

Tendo como base as etapas de automação como o levantamento, registro, comunicação cálculos e desenhos, cada característica é plenamente compatível com o que a Norma recomenda confirmando sua utilização efetiva e a própria confiabilidade dos sistemas.

A Grande Novidade

Aprovado em 1996 pela Comissão de Normas para Serviços Topográficos, o Projeto de Norma que se refere à Rede de Referência Cadastral Municipal originou desde agosto deste ano a NBR 14.166 da ABNT chamada Rede de Referência Cadastral Muncipal, que compatibiliza os procedimentos para estabelecer a base para apoio geodésico e topográfico para a normalização de todos os levantamentos topográficos.

Entre duas características representativas da norma, como ela mesma descreve, estão os objetivos de amarrar os serviços de topografia visando incorporá-los às plantas cadastrais em nível municipal e também de referenciar todos os serviços topográficos de demarcação, implantação e acompanhamento de obras em geral. Ele servirá também para auxiliar levantamentos para qualquer finalidade nos limites municipais, em qualquer escala, e executados por empresas públicas ou privadas. As conseqüências desse aspecto, desde que a rede seja estabelecida e densificada serão, além da padronização nos levantamentos, uma referência de partidas com coordenadas exatas e não arbitrárias como são amplamente utilizadas, limitando o acesso de informações e dados somente a quem executa os serviços.

Na estrutura da rede, existe uma hierarquia de elementos para pontos planimétricos e altimétricos que serão determinados com equipamentos como GPS (marcos geodésicos), estações totais (pontos topográficos e de referência) e níveis (referências de nível) buscando precisão adequada na sua determinação, seguindo os procedimentos de levantamento da NBR 13.133. A diversificação dos equipamentos permite a total integração de dados, pois os elementos podem ter as coordenadas plano retangulares em sistema UTM ou no sistema topográfico local, é claro que sofrendo as devidas transformações estabelecidas em anexos da norma, com explicações detalhadas. Também cabe ao software topográfico executar automaticamente as transformações interligando os procedimentos à automação.

Podemos também ressaltar alguns itens como o 3.29 na definição de ponto topográfico, que são determinados em função de poligonais secundárias classificadas (IPRC) e estabelecem como metodologia a utilização de teodolitos classe 2, que podem ser substituídos por uma estação total da mesma classe. Outro item é o 6.3.4 b), onde as coordenadas dos marcos geodésicos devem ser transformadas para o Sistema Geodésico oficial brasileiro e depois para o plano topográfico local, tarefa que pode com certeza ser executada também pelo Software Topográfico.

A implantação efetiva da rede, desde que bem aplicada e difundida só tem a acrescentar em novas frentes de trabalho com a busca pela qualidade como uma nova ferramenta de apoio para tarefas cadastrais e intercâmbio de informações para as mais variadas finalidades. A manutenção e conservação da rede é um aspecto preocupante, pois quantas e quantas vezes as equipes de campo procuram marcos de referência que não são encontrados por motivos de desconhecimento da comunidade, comprometendo o planejamento e o próprio trabalho.

Para conhecer as Normas: ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas Tel: (021) 210-3122 E-mail: abnt@embratel.net.br www.embratel.net.br/infoserv/abnt

Fernando César Ribeiro é engenheiro civil e consultor técnico da Manfra & Cia Ltda (PR).
Email: fcribeiro@manfra.com.br