Por maior QUALIDADE nos dados

O mais importante para trabalhos sérios de agrimensura nem sempre é a ferramenta tecnológica. O que conta muitas vezes é o conhecimento do profissional e o cuidado com que o trabalho é feito.

Nesta era da informação observa-se o aumento da geração e fluxo de dados. No campo da geo-informação é preocupante a tendência de confiança excessiva nas novas tecnologias e um certo descuido com a certificação da confiabilidade dos dados determinados. A automação de processos tem facilitado o acesso de pessoal menos preparado à fase de coleta e tratamento de dados georreferenciados. Por vezes, toma-se como satisfatório somente o conhecimento sobre a operação de equipamentos de coleta ou dos programas computacionais que irão processar uma massa de dados observados.

Atitudes deste tipo originam-se em ambientes sem pleno domínio dos conceitos necessários a estas atividades, onde a questão de coleta e tratamento de dados geralmente é encarada como uma atividade marginal, "um mal necessário", como às vezes ouve-se dizer. Esta forma de conduzir traz consigo pouca atenção sobre os métodos de controle de qualidade, já que esta, para ser assegurada, deve fazer parte do projeto desde o início.

Um exemplo deste comportamento pode ser verificado no uso da tecnologia GPS aplicada a levantamentos geodésicos e topográficos. É possível encontrar pessoas que empregam receptores de navegação para realizar levantamentos topográficos de imóveis. A maioria destes usuários é composta por indivíduos pouco informados sobre os conceitos e a tecnologia. Em benefício, deve-se dizer que há casos em que o posicionamento absoluto pode ser usado para georreferenciar informações e até mesmo para uma avaliação de área expedita em grandes glebas.

Os equipamentos e programas apresentam cada vez mais simplicidade em sua operação e permitem que uma pessoa após pouco tempo de instrução possa operá-los. Contrastando com seus antecessores, alguns receptores GPS geodésicos de última geração podem requerer apenas o apertar de um botão. Há bastante tempo eles já podiam ser programados para entrar em operação durante determinado período, realizar observações e desligar em seguida. Terminado o processamento, analisa-se o tipo de solução, procurando pela fixação das ambigüidades e o desvio padrão das coordenadas.

Muitos usuários param por aqui e se dão por satisfeitos neste ponto. Poucos têm compreensão de que somente a solução do vetor é insuficiente para o adequado controle de qualidade do posicionamento. Os programas têm módulos de ajustamento vetorial e até exibem avisos para que seja feita a verificação definitiva nos módulos ou programas específicos. Poucos são os casos observados de recorrência ao módulo de ajustamento vetorial. Sem este último passo não é possível saber sobre a exatidão do levantamento realizado.

Assegurar o controle de qualidade exige mais do que alta tecnologia e apertar de botões. É necessário ter em mente que o controle da qualidade dos dados é um processo que acompanha todas as etapas de produção. Nos levantamentos geodésicos e topográficos isto significa, em primeiro lugar, recursos humanos, depois planejamento, gerenciamento e fiscalização. As coletas de dados, via de regra, ocorrem em ambientes ao ar livre, na maioria insalubres. Não é necessário comprovar isto trabalhando na Amazônia, basta fazê-lo em um grande centro urbano, por exemplo.
A primeira conseqüência da falta de capacitação é o relaxamento dos procedimentos em detrimento de vencer adversidades, obter produção e diminuir o prejuízo. É condição necessária que os projetos sejam realizados e conduzidos por profissionais habilitados.

Só o equipamento não basta para realizar um bom trabalho.

Desta forma obtém-se maior eficiência, ou seja: dados confiáveis com o menor custo. Não é necessário o emprego de especialistas para tarefas onde exista maior grau de automatização, mas devem ser profissionais com embasamento teórico suficiente para executar o que foi planejado e projetado.

Em um primeiro momento haverá aumento de custo, mas no final a eficiência adquirida dará suporte para seguir em frente e recuperar nas demais fases subseqüentes. Evitar a proliferação de dados incorretos requer também especificações adequadas e fiscalização contínua na execução de projetos.

Para especificar é necessário conhecer a respeito do que será executado. São necessárias normas para que todos executem os serviços dentro de procedimentos padrão. É preciso ter o correto discernimento para analisar as propostas que irão retornar em atendimento a solicitação feita através da especificação.
A fiscalização não deve ser limitada ao levantamento de problemas a posteriori, é necessário detectá-los durante o processo e corrigir em tempo. Tradicionalmente, até algum tempo atrás, a execução de serviços topográficos e geodésicos era bem pouco fiscalizada pelo contratante, até mesmo por falta de normalização.

Hoje esta situação está sendo revertida por estar havendo maior conscientização sobre esta necessidade. Os órgãos contratantes estão atualizando seus procedimentos orientados por normas específicas da ABNT. Outras normas estão a caminho. Estes e outros procedimentos servem de instrumento durante a fase de fiscalização.

Não devemos esquecer dos conceitos. É necessário ser firmes e determinados, sem perder o senso de engenheiros. Somente com a disseminação dos conceitos que sempre nortearam os procedimentos de agrimensura e cartografia é que teremos dados georreferenciados confiáveis para gerarem análises corretas.

Régis Bueno é engenheiro agrimensor pela Escola de Engenharia de Agrimensura de Pirassununga, mestre em engenharia e doutorando pela Escola Politécnica da USP e professor da EPUSP, UNIP e UNISANTOS. Integra a Comissão de Normas para Serviços Topográficos da ABNT e trabalha como consultor. E-mail: rfbueno@ibm.net

Esta coluna tem o apoio da Apeaesp
Associação Profissional dos Engenheiros Agrimensores do Estado de São Paulo.