Muito ajuda quem não atrapalha

A Resolução 153 do Conselho Nacional de Trânsito pode "sabotar" nosso mercado

Nesta coluna sobre os Serviços Baseados em Localização (Location- based services – LBS) para a revista InfoGPS, hoje a publicação nacional mais alinhada com o assunto, eu planejava dar continuidade à série de artigos iniciados na revista InfoGEO e que chamei de "Emergência – O mais nobre dos LBS".

Entretanto, um fato recente ocorrido aqui no "País do Futebol" fez com que minha consciência exigisse uma matéria urgente em solidariedade e apoio aos que, como empresários e estudiosos na área de LBS, tentam bravamente elevar nosso Brasil ao nível dos lugares servidos pelos úteis e rentáveis Serviços Baseados em Localização.

Desde o início de minha coluna, ainda na revista InfoGEO, venho procurando mostrar que além das notórias vantagens comerciais e benefícios à população, o desenvolvimento, a implantação e operação de um LBS requer muita determinação e pioneirismo para transpor algumas barreiras de ordem tecnológica e comercial que no Brasil ainda se interpõe entre a população e a disponibilidade dos LBS. Já vimos como nos países do Primeiro Mundo o governo incentivou, ou até mesmo obrigou, as operadoras a oferecerem algum tipo de LBS, e como as indústrias de telecomunicações, de informática e de geoinformação estão se integrando neste novo e promissor segmento. Vimos também como o governo e organizações daquelas nações têm trabalhado no sentido de convergir para padrões tecnológicos que resultarão no barateamento e viabilização de LBS populares de primeira necessidade.

Pois bem, o que não havíamos visto até agora foi um governo, ainda que bem intencionado, atrapalhar as empresas e profissionais na área de LBS!!!

O leitor deve estar se perguntando: "Que governo em sã consciência atrapalharia o nascimento ou desenvolvimento de uma indústria geradora de empregos, de impostos e de valiosos benefícios para seu povo?!"

Preocupado com a atenção dos motoristas ao volante, o governo brasileiro anunciou uma medida tomada após a Resolução 153 do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), no dia 17 de dezembro de 2003, a qual proíbe o uso dos sistemas de navegação baseados em GPS, ou qualquer outro serviço baseado em GPS e que possua uma interface audiovisual nos veículos.

Com isso, serviços tão úteis e populares como o "Never-Lost" da locadora de veículos Hertz, ou o "Destinator" da MapLink, estão proibidos por lei, uma vez que o motorista somente pode trafegar com a tela de tais dispositivos completamente coberta (tampada), inutilizando funcionalidades dos sistemas de navegação veicular, arrancando da noite para o dia algumas facilidades que a população adquiriu, e pela qual pagou, e causando sérios prejuízos às empresas e pessoas que investiram pesado neste segmento de mercado.

Na contramão dos demais países que se esforçam para dar um adequado tratamento à questão "Atenção do motorista X benefícios ao mesmo", nosso governo pode estar provocando o aborto da indústria brasileira de LBS, pois já é sabido que os LBS de navegação veicular e AVL são no Brasil embrião deste promissor mercado.

Com a questionável explicação de que a precipitada medida evitará que os motoristas desviem a atenção para a tela dos sistemas, o que alegam favoreceria acidentes, o governo alvejou impiedosamente os negócios nos quais o empresariado vem investindo, sem sequer avaliar uma forma menos nociva e radical para forma menos nociva e radical para endereçar a questão.

Neste ponto eu me pergunto se o governo também não deveria proibir a infinidade de outdoors com fotos de mulheres maravilhosas seminuas que certamente desviam muito mais a atenção dos motoristas, ou ainda acabar com as armadilhas das câmeras fotográficas que infestam as cidades fazendo com que os motoristas conduzam seus veículos mais tempo com o olho no velocímetro do que no veículo da frente, ou ainda acabar com os insuportáveis motoqueiros que agressivamente trafegam entre os retrovisores de nossos carros aparecendo repentinamente como fantasmas predatórios, nos obrigando a trafegar raspando a roda no meio-fio?

Cá entre nós, como fica o caso do veículo com duas pessoas onde o carona poderia muito bem usar seguramente o LBS de navegação veicular enquanto o motorista presta atenção no trânsito?

Se o próprio DENATRAN ainda vai contratar este ano um estudo junto às universidades brasileiras para verificar qual a contribuição do déficit de atenção no acidente de trânsito, não seria mais sensato e justo com a indústria nacional aguardar o resultado de tal estudo antes de, sem conhecimento de causa ou embasamento científico, inconseqüentemente condenar à morte prematura o promissor segmento da indústria de LBS veicular, deixando o Brasil na contramão do resto do planeta que faz de tudo para alavancar tais serviços?

Espero que cidadãos e mercado não fiquem de braços cruzados aceitando o assassinato do recém-nascido mercado de LBS veicular brasileiro, o que seria lamentável tanto social como economicamente para todos nós.

Romualdo Henrique Monteiro de Barros
Diretor da Flogen Track
Empresa focada em LBS e Rastreamento veicular.
romulado@flogentrack.com.br