O despertar de uma nova era para os usuários e fornecedores de Sistemas de Informações Geográficas

Vários são os desafios enfrentados pelos fornecedores de tecnologia GIS (Sistemas de Informações Geográficas em inglês), quando tomam decisões estratégicas sobre o futuro de seus produtos. Há muitas variáveis em jogo e, também, muitas incertezas. Os fornecedores precisam ter de forma clara, acima de tudo, qual é o correto posicionamento de seus produtos, seus mercados-alvos e sua base tecnológica.

Ao longo dos anos, estes fornecedores têm mostrado visões muito diferentes ao escolherem caminhos bem distintos para trilhar. Na decisão pela utilização de uma ou outra tecnologia, o cliente deve considerar o grau de adequação destas visões aos seus objetivos de longo prazo.

Algumas companhias optam pela utilização de API proprietárias e caixas-pretas para acesso a bancos de dados, deixando cada vez mais isolados do mundo externo os seus clientes e, ao mesmo tempo, tornando-os cada vez mais reféns daquelas tecnologias e companhias. Essa abordagem faz bastante sentido se considerarmos dois fatores, além dos puramente comerciais.

Em primeiro lugar, as razões históricas. As companhias que promovem as plataformas proprietárias hoje são, em sua maioria, aquelas cujos produtos foram criados há um par de décadas. Aqueles que se lembram dos recursos computacionais disponíveis nos anos 70 e início dos 80 (infelizmente, este é o meu caso) entenderão as razões da utilização de plataformas proprietárias. Afinal, absolutamente tudo era proprietário naquela época.

Para os fornecedores de GIS mais remotos, a melhor opção no momento em que as tecnologias abertas começaram a se consolidar comercialmente, como o SQL e os bancos de dados relacionais, foi a de "adaptar" as antigas soluções proprietárias aos novos ambientes, sem com isso perder os enormes investimentos já feitos naquelas plataformas proprietárias. Em outras palavras, era economicamente inviável reescrever o produto "do zero". Então, implementaram- se novas camadas de software para conectar a tecnologia antiga à nova. O alto preço a pagar foi o fato de que essas novas camadas tornaram as soluções mais complexas, mais lentas, menos escaláveis e de administração bem mais difícil.

Em segundo lugar, no momento em que foi feita a opção pela "colagem" de uma tecnologia antiga e proprietária sobre as novas tecnologias, não houve grandes protestos da base de clientes existentes, uma vez que, naquele momento (e não mais hoje), tais clientes encaravam o GIS apenas como mais uma aplicação isolada, da mesma forma como era visto, por exemplo, um simples editor de textos.

Como resultado das escolhas acima, há hoje no mercado uma categoria de soluções GIS baseadas em arquiteturas obsoletas e fechadas, que são razoavelmente utilizáveis em ambientes departamentais, mas que apresentam sérios problemas quando utilizadas em um contexto corporativo. Eis alguns destes problemas:

– Introdução de Erros: ferramentas de tecnologia altamente evoluída, como os sistemas CAD, utilizadas amplamente na criação das bases de dados que alimentam os GIS, operam com inteiros de dupla precisão (64 bits), ao passo que GIS proprietários usam inteiros de precisão simples (32 bits);

– Formação de "Ilhas de Dados": o armazenamento de dados em formato binário em bancos de dados relacionais impede que outras aplicações tenham acesso via SQL, padrão absoluto da indústria de software, ao que deveria ser uma base de dados corporativa, aberta e interoperável;

– Número de Usuários Limitados: com a utilização de camadas proprietárias para conexão com bancos de dados relacionais, o número de usuários simultâneos para um determinado nível de performance cai drasticamente;

– Altos Custos dos Servidores: da mesma forma, os servidores GIS necessitam ser maiores e muito mais caros;

– Altos Custos de Customização: maior nível de customização é necessário pela não utilização de padrões como o SQL. Além disso, a oferta de profissionais com conhecimentos de linguagens proprietárias no mercado é muito pequena;

– Altos Custos de Administração: as camadas proprietárias tornam o ambiente de software complexo e de difícil administração;

– Custo Total de Propriedade: como visto acima, não apenas o custo das licenças deve ser considerado, principalmente quando falamos de soluções GIS corporativas;

– Altos Riscos: a taxa de sucesso na implantação de sistemas GIS corporativos é ainda muito baixa, mesmo em escala mundial, em boa parte devido a todos os fatores citados acima.

Do outro lado, estão os fornecedores de tecnologia GIS que, seja por terem desenvolvido suas soluções após o surgimento dos maiores padrões da indústria computacional, seja por terem uma visão mais corporativa e comprometida com o sucesso de seus clientes no longo prazo ou por ambos, entenderam que o caminho das soluções de plataforma aberta é a única saída viável para aplicações corporativas.

Mas o que é uma plataforma aberta? O conceito é bastante simples e se fundamenta em um único pilar: Padrões da Indústria. Não estamos falando simplesmente de tecnologia, mas sim de valores e fundamentos. A tecnlologia pode e vai mudar com o passar do tempo, mas os princípios devem permanecer os mesmos.

Atualmente, a maior expressão destes princípios encontra-se na plataforma GIS da Autodesk (vide diagrama), que se confunde com os termos "OpenGIS", "bancos de dados relacionais comerciais", "Oracle Spatial", "SQL", ".NET", "XML", "www", "DWG", "DWF", "interoperabilidade" e "escalabilidade", dentre outros. Esta plataforma é composta por uma suíte de produtos integrados, cada um deles voltado para um tipo específico de usuários, sejam eles conectados ou remotos, seja para atividades de edição pesada de dados, projeto, análise, levantamento de campo, geomarketing, acesso via intra/internet ou DTM.

Por ser de arquitetura totalmente aberta, a suíte GIS da Autodesk permite a integração com aplicações desenvolvidas em ambientes de outros fabricantes e facilita a integração com outros sistemas corporativos. Por ser totalmente integrada e customizável, permite ainda que aplicações GIS departamentais possam migrarpara o ambiente corporativo, com a preservação dos investimentos anteriores.

A Autodesk é hoje membro Principal Plus do Consórcio Open GIS, trabalha ativamente e de forma conjunta com outros fabricantes pelo bem da interoperabilidade no mundo GIS e é a única plataforma total e diretamente integrada ao banco de dados Oracle 10g e suas features, Spatial e Locator.

Para concluir, gostaria de dizer que, diferentemente do que alguns possam pensar, a "onda" do GIS corporativo já chegou ao Brasil há quase 15 anos! Foi no princípio dos anos 90, quando a extinta Telebrás realizou uma concorrência internacional para escolha de uma plataforma GIS, que viria a ser utilizada por todas as empresas de telecomunicações de forma integrada. A escolha? Uma plataforma aberta, totalmente relacional, um conceito inovador: o sistema Vision.

A "nova onda" é, na verdade, uma completa mudança na mentalidade de alguns fabricantes e da maioria dos usuários corporativos, com relação aos parâmetros para avaliação dos resultados de projetos GIS, parâmetros que, em última instância, determinam se um projeto vai ou não sair do papel.

As decisões giram, cada vez mais, em torno do Retorno dos Investimentos (ROI – sigla do inglês), um conceito bastante simples, embora muito esquecido no passado. Aspectos de tecnologia são muito importantes, mas apenas até o ponto em que estes possam afetar o ROI.

Investimentos em GIS não se justificam mais com mapas, mas sim com resultados concretos e mensuráveis, em termos de redução de custos, ampliação de faturamento e aumento de lucratividade. O mercado passa agora a ver os projetos GIS como assuntos da esfera econômico-financeira e, não mais, da técnica. Há um forte viés de mudança, do Dogmatismo para o Pragmatismo.

Uma última mensagem ao leitor: Se você ainda não percebeu essas mudanças, fique esperto, pois todos nós temos concorrentes. O ROI é REI.

Nelson Ismar
Engenheiro de Minas e M.Sc. em Ciência da Computação Gerente de Contas – Autodesk
nelson.ismar@autodesk.com