Da teoria à prática. Os conceitos e caminhos que levam ao diferencial competitivo da integração GIS e DW

Voltamos ao tema dos Spatial Data Warehouses. Resgatem a InfoGEO 24 para lembrarem do que eu estou falando. Dessa vez, em parceria com o Rogério Penna, estaremos apresentando, em dois artigos (neste e no próximo número da InfoGEO) a importância, o que é e os ganhos que a integração entre GIS e DW permite.

O ambiente de negócios atual, altamente competitivo e cada vez mais globalizado, exige das organizações agilidade e inteligência na busca constante por vantagens competitivas. Neste contexto, informação e, sobretudo, o conhecimento habilitado pelo bom uso da informação, têm papel preponderante na tomada de decisão tanto tática quanto estratégica.

A demanda por sistemas de informação que possam suportar a tomada de decisão gerencial é antiga. As primeiras iniciativas remontam à década de 70. Contudo, na medida em que o ambiente de negócios torna-se mais dinâmico e competitivo, a necessidade de implementação de tais sistemas cresce significativamente. Conforme pesquisa realizada com 139 das maiores empresas do país, a prioridade em aplicativos administrativos no ano de 2002 eram os sistemas de apoio à decisão para 47% das empresas pesquisadas, sendo que tais sistemas já foram utilizados em 2001 por 45% dessas empresas. De 2002 para cá, o aumento do ambiente competitivo nas organizações fortalece gradativamente essa tendência.

Se os sistemas transacionais (OLTP) apóiam as operações da empresa, registrando uma a uma cada operação que precisa de registro, os sistemas de apoio à tomada de decisão, bem diferentes, são orientados para análises realizadas de forma imprevisível e menos freqüente.

Suas consultas acessam grande quantidade de dados históricos, atuais e previsões, exibindo dados derivados complexos e usualmente resumidos. Por isso, a estrutura e o processo de desenvolvimento de um sistema de apoio à decisão gerencial e estratégica precisam ser específicos para atender estas características, sendo substancialmente diferentes dos sistemas transacionais. A partir da necessidade das grandes corporações de dispor de melhores informações para tomada de decisão, surgem e prosperam os conceitos de data warehouse (DW) e as ferramentas analíticas (OLAP) que alteram significativamente as possibilidades para uso da informação.

Mas, o que é um Data Warehouse Espacial? Vejamos alguns conceitos de DW e da importância da caracterização espacial antes disso.

Em termos genéricos, pode-se entender o DW como um grande banco de dados corporativo, com o objetivo de ser base de consultas da organização e não o repositório para registro das transações. Por essa razão, o DW precisa ser organizado por assunto, suportar diversos níveis de granularidade dos dados e ser modelado de forma a facilitar o acesso aos dados e a compreensão dos usuários finais.

Tempo e espaço são os dois pilares analíticos do DW. O espaço é tão importante para nossos pensamentos, reflexões e análises quanto o tempo, porém sua representação e perspectiva são bem mais complexas. A partir de um endereço é possível construir uma ou mais dimensões relacionadas à localização.

Cerca de 80% das informações requeridas em um negócio possui uma localização geográfica que precisa ser considerada na operação e gestão da organização. Como sabemos, o geoprocessamento vem sendo estudado há décadas e os sistemas de informação geográfica sãoutilizados em vários setores. Porém, a informação geográfica ainda é muito pouco utilizada na gestão das organizações. Utilizar a localização geográfica como argumento de consulta, bem como visualizar os resultados das análises em mapas, localizando geograficamente as informações, pode agregar substancial valor para a organização.

Um data warehouse espacial (chamaremos de SDW, ou Spatial Data Warehouse doravante) é uma coleção de dados espaciais e não espaciais, orientados por assunto, não voláteis, integrados e variáveis no tempo. Ou seja, um data warehouse suporta operações OLAP tanto com dados espaciais quanto com não espaciais. Grande parte das pesquisas sobre o tema foca o uso do DW espacial para a geografia ou cartografia. No entanto, nosso objetivo é discutir possibilidades e benefícios do DW espacial no ambiente de negócios.

Sistemas espaciais de suporte a decisão podem existir independentes da utilização de um DW, assim como acontecia na origem dos sistemas de suporte à decisão. Portanto, é importante frisar que um DW espacial integra o GIS (enquanto ferramenta de suporte ao negócio) com o DW, visando ampliar o suporte à inteligência do negócio.

Para ilustrar bem o potencial de uso do SDW no ambiente de negócios, vamos apresentar uma situação comum e mostrar que a simples integração da informação do DW com funções simples de representação espacial do GIS pode trazer um rápido ganho de tempo e entendimento. Considere a seguinte necessidade de informação para uma organização comercial: qual o potencial de mercado e desempenho comparativo de vendas dos produtos A, B e C em cada estado do país?

Uma representação tabular seria extremamente confusa, como na Figura 1, dificultando muito as análises e comparações.


Figura 1: Consulta analítica tabular

O uso de gráficos e cores tornaria mais imediato o entendimento, mas ainda seria difícil a comparação entre os diversos estados. A visualização da consulta através de interfaces georreferenciadas permite uma análise muito mais profunda da questão, incluindo ainda outros pontos relevantes como localização dos escritórios de venda no exemplo da Figura 2.


Figura 2: Consulta analítica georreferenciada
Fonte: GEMPI, 2000, "ERP / CRM e GIS- Geographic Information Systems: Conceitos, Facilidades e Oportunidades", SAP Universe, São Paulo, SP, Brasil.)

A grande diferença das duas figuras apresentadas no exemplo está no fato do geoprocessamento reunir o poder dos mapas e gráficos à riqueza das planilhas para que se possa desenhar um cenário simples e realista da distribuição da informação, sendo intuitivo e facilitando análises que seriam muito complexas sem o uso dessa tecnologia.

A localização geográfica também pode ser usada como argumento de consulta. Tomando como base o exemplo anterior, a consulta poderia filtrar somente as vendas realizadas em um raio de X quilômetros dos escritórios de venda, avaliando melhor o impacto desses para os resultados do negócio. O uso de informações de inteligência competitiva viabiliza comparar o desempenho de vendas de acordo com a localização geográfica dos concorrentes. Isto é, posicionando geograficamente os concorrentes, é possível avaliar o desempenho de vendas em regiões dentro do raio de ação de cada escritório ou ponto de vendas de cada um dos adversários.

O potencial de análises espaciais neste exemplo é bastante amplo. Aliás, o uso de informações geográficas em aplicações de análise de vendas, mercado e clientes tem sido intensamente discutido pela indústria de soluções de tecnologia GIS – o já aclamado geomarketing. É importante notar que não necessariamente uma solução de geomarketing demanda um DW espacial, porém ao implementá-la através de um DW espacial, ela torna-se componente integral e perfeitamente inserida no ambiente de TI corporativo.

Conforme o perfil de distribuição geográfica da organização, questões de produção, armazenagem, distribuição e transporte demandam análises que requerem um DW espacial para serem adequadamente compreendidas. Não se trata apenas de implementar soluções de roteamento e roteirização no setor de transportes ou aplicações para otimizar a localização de unidades de produção e armazenagem, atividades em que a indústria e pesquisadores de GIS já se debruçam há tempos. Um DW espacial consegue apresentar, com a clareza dos mapas, problemas pontuais ou crônicos de estoque e indicar alternativas de solução através de produção, transferência ou aquisição.

Alguns setores têm uma relação particularmente importante com a localização geográfica das informações, sendo usuários especiais deste tipo de solução com perspectivas únicas na implementação de DWs espaciais. Para o setor de seguros, por exemplo, a localização dos sinistros é fundamental para mapeamento de áreas de risco e avaliação dos riscos que definem o
prêmio de cada apólice.

Para indústrias em rede, como as empresas de Utilities, a localização espacial de cada cliente e da rede de equipamentos instalados é básica para o controle da operação. Não é por acaso que estas organizações são, no ambiente de negócios, os principais usuários de ferramentas GIS. Com a implementação do DW espacial, essas organizações podem melhorar substancialmente suas análises de mercado, gerir o relacionamento com clientes e formular estratégias de marketing mais eficazes. Essas organizações podem usar o DW espacial para tomar decisões também no que diz respeito à alocação de recursos, equipamentos, pessoas e material de reposição, identificando e buscando soluções para problemas crônicos ou pontuais de operação e manutenção.

Muitas outras indústrias também podem se beneficiar dessa implementação. Mas, como viabilizá-la de fato? Quais são as questões relevantes? Como promover um DW existente para SDW? Como construí-lo se já existem sistemas transacionais baseados em GIS? Como devemos conceber um SDW se a organização não tem a cultura de GIS e de Business Intelligence difundida? No próximo capítulo dessa nossa conversa tentaremos endereçar algumas dessas questões apresentando diretrizes de projeto para a criação de um Spatial Data Warehouse.

Rogério Penna
Analista de Sistemas pela PUC-RJ, Mestre em Engenharia de Produção pela COPPE-UFRJ.
Atua há 20 anos com Sistemas de Informação. É Professor Universitário, Consultor e Pesquisador em projetos de Business Intelligence, Data Warehousing, Integração GIS – DW, Planejamento Estratégico e Gestão da Informação.
rogeriopenna@yahoo.com

Eduardo de Rezende Francisco
Bacharel em Ciência da Computação pelo IMEUSP, Mestrando em Administração (Métodos Quantitativos) pela EAESP-FGV.
Atua em GIS, Business Intelligence e Estratégias de Marketing na AES Eletropaulo, é Consultor em integração Geomarketing & Data Mining e sóciofundador da GITA Brasil.
eduardo.francisco@aes.com
erfrancisco@hotmail.com