Por Eduardo Freitas Oliveira

Michael Frank Goodchild foi o primeiro a cunhar a expressão “Ciência da Informação Geográfica”, em 1992, e mostrou que poderia existir um novo campo de estudo acadêmico. Formado em física pela Universidade de Cambridge e Ph.D em geografia pela Universidade de Hamilton, Goodchild é atualmente diretor do Centro de Estudos Espaciais na Universidade de Santa Bárbara, na Califórnia. Foi colaborador no projeto Terra Digital, do ex vice-presidente dos EUA, Al Gore, sobre os efeitos do aquecimento global.

IGEO: Em um artigo, de 1992, você fala sobre como utilizar o potencial da tela do computador para visualizar o globo ao invés de usar projeções. Naquele tempo, você já previa o aparecimento de globos virtuais, como Google Earth, Nasa World Wind e Virtual Earth?

MG: Sim, mas não imaginávamos que a internet seria capaz de fornecer dados em uma freqüência suficiente, ou pensar na manutenção de um nível de detalhamento e acervo que os globos virtuais utilizam, ou mesmo antecipar que em 2005 os gráficos utilizados seriam visualizados em simples PCs. Então, em 1997, ajudei a escrever o discurso Terra Digital de Al Gore, e fiz uma apresentação na qual sugeri que a comunidade trabalhasse para implementar uma Terra Digital até 2005.
 
IGEO: O Google Earth popularizou a geoinformação e a forma como as pessoas se relacionam com a informação geográfica. Você prevê o aparecimento de alguma tecnologia que possa, no futuro, ser tão revolucionária quanto o Google Earth?

MG: Acredito que o Microsoft Virtual Earth dá um passo significativo ao permitir exploração total de cidades em 3D, com texturas dos exteriores dos edifícios. Há ainda algumas coisas no discurso de Al Gore que nenhum dos globos virtuais pode fazer, como simulação de alternativas futuras. E esse é um direcionamento de pesquisa que eu gostaria muito de seguir. Eventualmente acredito que teremos também a estrutura interna de edifícios e programas que adentrarão os prédios e mesmo instalações abaixo do solo.

IGEO: Quais são as áreas emergentes na Ciência da Informação Geográfica atualmente? A neogeografia é uma delas?

MG: Acho que a neogeografia ainda não foi bem definida. Acredito que existem algumas questões fundamentais emergindo, além da habilidade dos cidadãos de criar informação geográfica. Acho também que a neogeografia é uma razão para a reabertura de toda a questão dos metadados e da criação de uma aproximação que é muito mais centrada no usuário.

IGEO: Já existem previsões de que a web 3.0 será a web geográfica. Como você imagina essa internet com fortes componentes geográficos?

MG: Os prognósticos anteriores diziam que a web destruiria a geografia, que seria a morte da distância. Mas nos últimos 15 anos tem-se visto um aumento virtuoso na importância da geografia na web, e os sistemas operacionais mais recentes da Microsoft automaticamente tentam localizar o usuário a partir do endereço IP. Meu PC sempre soube qual era a hora, e agora, finalmente sabe onde está. Os sites de procura estão utilizando endereços de IP para priorizar resultados. Acredito que mudaremos para um mundo em que toda a informação sobre um lugar estará disponível de uma vez. O Google Earth está nos levando a uma direção, mas ainda temos um longo caminho a seguir.

Mike GoodchildMike Goodchild
Físico pela Universidade de Cambridge
Ph.D em geografia pela Universidade de Hamilton
Atualmente é diretor do Centro de Estudos Espaciais na Universidade de Santa Bárbara