Outro dia um colega me perguntou de que forma eu organizava meus arquivos digitais. Respondi com algumas perguntas: como você organiza seus documentos impressos? Como você sabe onde estão seus diplomas, certificados, comprovantes de pagamento e notas fiscais? Felizmente a resposta dada foi a que eu esperava: “em pastas e caixas com etiquetas descrevendo o conteúdo”.

Imagine o seu computador como um grande gaveteiro. As gavetas principais contêm pastas que, por sua vez, contêm as folhas de papel com as informações. Esses são os arquivos à moda antiga. A lógica de organização de arquivos no computador guarda uma diferença singular: as pastas dos micros podem conter outras pastas!

Os arquivos podem ser classificados mediante a sua colocação em diferentes pastas e as próprias pastas podem ser classificadas do mesmo modo. Dessa forma, pastas podem conter arquivos, junto com outras pastas, que podem conter mais arquivos e mais pastas, e assim por diante.

Organizando seus arquivos

A elaboração de projetos em uma empresa, seja ela um profissional liberal ou uma grande companhia, exige primeiramente uma excelente organização da base de dados. Isso assegura que as informações sejam facilmente recuperáveis para uso posterior, quer seja para uma simples visualização do conteúdo ou uma análise espacial avançada.

A definição de locais de armazenamento dos dados é fundamental para a boa recuperação dos mesmos.

Mas o que isso tem a ver com geotecnologia? A resposta é: tudo.

De maneira simples e efetiva, a organização e a disposição dos dados ocorre em três situações:
– Estrutura de diretórios – garante que dados espaciais sejam armazenados em  pastas específicas, de modo que o usuário saiba onde procurar pelas informações;
– Regras de nomenclatura – dados espaciais são nomeados segundo regras que explicitam que tipo de dado é aquele, o local, a data, etc.;
– Uso de metadados – informações sobre os dados. Por exemplo, os metadados de um mapa digital são as informações sobre a escala, data de criação, data de revisão, autor e outras informações pertinentes.

Há muito tempo convivemos com padrões e dependemos deles para o estabelecimento das relações de troca de informação.

A melhor maneira de implantar este sistema de organização é definindo regras de armazenamento. À medida que os dados forem gerados ao longo da execução do projeto, eles serão armazenados em pastas pré-definidas. Caso um componente da equipe necessite recuperar os dados, ele saberá onde encontrá-los.

Estrutura de  diretórios

Uma breve explicação do conteúdo das pastas é descrita a seguir:
 – Pasta do Projeto ABCD: nessa pasta estão contidos os dados referentes ao projeto, sejam eles administrativos, mapas, resultados analíticos, dados brutos e analisados;
 – Pasta 1_Documentacao: nessa pasta encontram-se os dados referentes à documentação do Projeto – contrato e anexos;
 – Pasta 2_SIG: aqui são guardados os dados do projeto gerados por um determinado programa, dados raster, dados vetoriais, arquivos GNSS e mapas gerados. Pode-se também inserir uma pasta BD com o banco de dados gerado.

Estrutura de Diretórios
Estrutura de diretórios

Regras de nomenclatura

A definição de nomes de arquivos, se seguir algumas regras, pode fornecer diversas informações. Isto facilita a recuperação das informações desejadas, uma vez que a própria inspeção visual do conteúdo de uma pasta evidencia quais arquivos contêm as informações necessárias.

Sugestão de exemplo de nomenclatura de arquivos:
PPP_LLLL_DDDDDD-Descricao_detalhada,
Onde,
PPP: sigla do Projeto, com 3 letras
LLLL: sigla para o Local, com 4 letras
DDDDDD: sigla para DATA da informação, com 6 números
Descricao_detalhada: livre, mas que informe o máximo no menor espaço possível

Exemplo:
ABC-CTBA-20090220-Sistema_Viario.shp: Projeto ABCD, Curitiba, 20 de fevereiro de 2009, Informação – Sistema Viário.

Uma recomendação importante é evitar  os espaços em branco e caracteres acentuados na elaboração dos nomes dos arquivos. Este procedimento impede que ocorram confusões de endereçamento. Nestas situações, é melhor utilizar Underscore_.

O exemplo acima pode ser adaptado a situações específicas de cada usuário ou gerador de informação cartográfica, dependendo da aplicação e ambiente de trabalho.

Metadados

Os metadados descrevem textualmente a informação geográfica, permitindo conhecer e avaliar a informação geográfica a priori, em relação à sua precisão, extensão geográfica e temporal, produtores da informação e a forma de aquisição.

Os metadados podem obedecer às normas ISO 19115 (modelo lógico dos metadados de informação geográfica), ISO 19139 (modelo para implementação dos metadados) e ISO 19119 (extensão da norma ISO 19115 para metadados de serviços de mapas).

A sua inserção é indispensável para a identificação e avaliação técnica (escala, sistema de referência, qualidade, extensão geográfica e temporal) dos conjuntos de dados geográficos (CDG), assim como aspectos ligados ao acesso a serviços, dados e contatos dos responsáveis.

Outro fator que deve reger um perfil de metadados é a simplicidade, um fator que favorece tanto a interoperabilidade quanto o próprio manuseio e sucesso das implementações de metadados, recebendo uma maior adesão por parte das empresas  e técnicos envolvidos.

Um exemplo de metadados, sobre localização de lugares conhecidos no estado de Nova Jersey, pode ser visualizado em:

www.state.nj.us/dep/gis/digidownload/metadata/statewide/placenam04.htm.

Organizamos nossos documentos em papel, fizemos a transposição do mundo real para o digital, apresentamos três ferramentas (estrutura, regras e metadados) e aí porque devemos utilizar uma IDE?

IDE

O conceito de Infraestrutura de Dados Espaciais (IDE) baseia-se fundamentalmente numa relação hierárquica que é possível estabelecer entre os diferentes níveis de governo envolvidos, com o compartilhamento de dados geoespaciais em  todas as esferas do governo, no setor privado, nas organizações  sem  fins  lucrativos e na comunidade acadêmica. A percepção do modo como ocorre essa  relação hierárquica entre os diferentes níveis, e de como explorar os benefícios desta hierarquia, são  fundamentais.

A teoria hierárquica defendida por Rajabifard et al. (2000) comporta a definição de  hierarquia,  a  identificação  dos  níveis  existentes  na  estrutura  e  as propriedades que lhe são inerentes. Relativamente ao conceito de hierarquia, esta pode definir-se simbolicamente como um sistema de divisão sucessiva de um quadrado em quadrados  menores  que  se  subdividem  em outros  ainda menores  até  a  um  horizonte em que esse particionamento faça sentido. Este particionamento pode-se igualmente ser representado como uma estrutura “em árvore” que, a partir de uma raiz, se divide  em sub-sistemas os quais, por sua vez, se subdividem em sub-sistemas ainda  menores, e assim sucessivamente. 

No contexto das IDE, cada nível poderá representar, por exemplo, um nível administrativo (ex: ABCD – nível  nacional, AFEI – nível regional, AKJN – nível local).

A figura a seguir mostra a estrutura hierárquica quadrangular e em “árvore”.

Genericamente, um sistema estruturado de forma hierárquica evolui muito mais rápido e é muito mais  estável do que um sistema não-hierárquico que possua o mesmo número de elementos (Simon, 1973).

A relação de hierarquia, e portanto de organização das informações, segue um padrão que se assemelha ao citado para a organização dos arquivos e diretórios. Nós tínhamos um projeto ABCD e dentro do contexto deste projeto tínhamos subpastas 1 (Documentação) e 2 (SIG) e assim sucessivamente até um nível que satisfaça a organização dos dados e informações.

Estrutura hierárquica
Estrutura hierárquica

Do pessoal ao corporativo

Intuitivamente, é possível perceber que existe uma relação entre a maneira como podemos organizar nossos arquivos e uma IDE. As etiquetas que identificam as pastas do meu colega são os metadados que identificam os meus arquivos digitais.

Quem já trabalhou em projetos que envolvem as geotecnologias sabe da importância da adoção de padrões. Critérios de organização relativamente simples nos induzem a pensar de maneira coordenada com outros integrantes de uma equipe de geoprocessamento.

Quando padrões não são estabelecidos, é imposta uma barreira que muitas vezes impossibilita o entendimento no desenvolvimento de um projeto. Novos profissionais podem ser integrados à equipe e continuarão o projeto, necessitando portanto saber onde e como estão armazenados os arquivos digitais.

Esta analogia se estende quando fala-se sobre IDE e sua relação com as entidades estatais ou privadas que podem compartilhar informações cartográficas.

A acessibilidade, interoperabilidade, sinergia, normalização, promoção de políticas públicas para a realização de uma governança com justiça social são consequências de um intercâmbio, através da adoção de padrões, de informações cartográficas, sejam elas locais ou de interesse para toda uma nação.

Como já disse Albert Einstein, “a mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”.

Wilson HollerWilson Holler
Engenheiro cartógrafo
Atua na área de gestão territorial estratégica na Embrapa Monitoramento por Satélite
holler@cnpm.embrapa.br