TutorialPor Romero Meyrelles Duarte

A existência de um catálogo digital de cartas náuticas visa a facilitação de consultas rotineiras, tais como descobrir qual a carta de menor escala que cobre uma certa área, ou que cartas com maior escala podem oferecer mais detalhes sobre informações contidas em uma determinada carta. A agilidade proporcionada por uma visualização desktop para esses e outros tipos de consulta pode implicar em um ganho de tempo de produção antes de uma eventual recorrência às mapotecas e catálogos em papel.

Na Seção de Banco de Dados Cartográficos da Divisão de Cartografia do Centro de Hidrografia da Marinha (CHM), optou-se por utilizar a plataforma Esri ArcGIS Desktop para a confecção do catálogo. O acesso a este será realizado através do software freeware ArcReader, disponibilizado junto com o arquivo pmf (publishing map format) para visualização rápida nos diversos trabalhos dentro do CHM.

Procedimentos para criação de feições

Uma vez que nem todas as antigas cartas náuticas tenham sido digitalizadas, não seria possível um simples trabalho de importação de arquivos para o formato shapefile. A solução mais segura encontrada foi a de criar os polígonos das bordas das cartas através de suas coordenadas. A Diretoria de Hidrografia e Navegação utiliza a projeção de Mercator em suas cartas náuticas, com sistema geodésico WGS-84. Para navegação, são utilizadas as coordenadas geodésicas, que possibilitam plotagens precisas e direções seguras, devido à conformidade da projeção. Mas isso causa uma primeira dificuldade: as cartas são projetadas em coordenadas métricas, embora as coordenadas de bordas disponíveis sejam geodésicas.

O data-frame e todos os arquivos criados foram projetados em Mercator, utilizando-se o Standard Parallel da Carta 1, que é -15°, uma vez que as demais cartas estão total ou quase totalmente inseridas nela. Também foi importado um arquivo .dgn da linha de costa brasileira, igualmente projetado.

O primeiro passo foi organizar as coordenadas em um arquivo de texto para transformar todas para coordenadas métricas na projeção de Mercator. Foi utilizado primeiramente o software Geocalc, que, no entanto, apresentou uma inconsistência por não reconhecer as coordenadas sul (negativas) com menos de um grau (como -0° 15’ 00“), gerando coordenadas distorcidas, entendendo o número zero sempre como positivo. Para corrigir tal questão, foi elaborada uma planilha eletrônica que transformou as coordenadas que o GeoCalc não transformou satisfatoriamente.

No ArcMap, demandaria muito esforço e tempo a inserção dos polígonos através de ferramentas manuais. Portanto, fez-se a opção pela ferramenta Create Features from Text File dentro da toolbox Sample/Data Management/Features. Para perfeita execução da rotina do software, faz-se necessário que se crie um arquivo de texto de acordo com a sintaxe exata.

Sintaxe
>Sintaxe do arquivo de texto e importação deste no ArcMap

O arquivo se inicia com o tipo de geometria na primeira linha. Na segunda coloca-se o identificador da feição seguido do identificador da parte desta, caso seja uma multi-feature. Seguem-se o identificador do vértice com suas coordenadas x e y, adotando-se o sinal negativo para coordenadas oeste e sul. Sempre repete-se o primeiro vértice para fechamento do polígono. Repete-se a mesma sintaxe para cada feição a ser criada e encerra-se o arquivo com END. Faz-se necessária atenção, para evitar espaços e parágrafos adicionais que impedirão a correta execução da rotina, o que torna esse passo uma demorada tarefa de planilha eletrônica e editor de textos, devido ao grande número de coordenadas.

Após a criação do shapefile com os polígonos das cartas, foram criados dois fields na table of contents: um de escala (numérico, com 10 caracteres) e um de título (textual, com 254 caracteres). Através dos atributos foram exportadas as cartas para shapefiles, segundo as classificações pertinentes e agrupadas em Primeiro e Segundo Planos Cartográficos Náuticos Brasileiros.

Na caixa de diálogo Layer Properties, na aba Display, foi marcada a caixa de verificação Show MapTips (uses primary display field) e na aba Fields foi escolhido o Primary Display Field, de forma a exibir a informação de um campo ao se passar a seta do mouse sobre a feição, o que facilita a consulta por parte do usuário leigo das ferramentas ArcGIS. Assim como, através da barra de ferramentas Labeling, utilizando o Label Manager, foi colocado o label das cartas, de acordo com a escala de visualização. Dessa forma, com escala de visualização até 1:30.000.000 haverá exibição do label das cartas 1, 10, 20 e 30. Entre 1:30.000.000 e 1:5.000.000 aparecerão os labels das cartas 1:1.000.000 e Costeiras. As cartas de Aproximação, Porto, Ilhas Oceânicas e 1:300.000 do Segundo Plano Cartográfico terão os layers exibidos em escalas a partir de 1:5.000.000.

Visualização no ArcReader
>Arquivo pmf visualizado no ArcReader

Publicação do mapa

Com o mapa pronto, utilizou-se a extensão Publisher, com a qual foi realizada a exportação do mapa para o formato fechado pmf. Um Data Package deve ser criado para garantir a distribuição segura dos dados. Algumas restrições podem ser impostas ao mapa, como por exemplo recursos de layout. Feito isso, o mapa pode ser distribuído juntamente com o ArcReader através de FTP, intranet ou internet, dependendo da finalidade.

O produto resultante é um acervo de arquivos a ser utilizado como catálogo de cartas de fácil manuseio, disponibilizando as principais informações das cartas em cada estação de trabalho.

Embora possa haver alguma demora na padronização do arquivo de texto, a automatização na criação das feições, possibilitada pela ferramenta Create Features from Text File, proporciona grande agilidade nos trabalhos. Assim, terrenos de um loteamento, talhões de cana-de-açúcar, pontos de estações pluviométricas, meteorológicas ou maregráficas, ou mesmo linhas de uma trilha ou derrota podem ser rapidamente criados.

Romero Meyrelles DuarteRomero Meyrelles Duarte
Cabo da Marinha
Especialista em geodésia e cartografia
Graduando em geografia pela Universidade Federal do Espírito Santo
grinerdam@gmail.com