Com a Copa de 2014, deverão afluir ao Brasil milhares de torcedores e turistas de todo o mundo, que precisarão deslocar-se entre hotéis, estádios, restaurantes e locais dentro e fora das cidades sedes dos jogos. É necessário, portanto, que sejam disponibilizados a esse público mapas adequados às suas necessidades e que atendam a determinadas características.

Vejamos dois tipos de mapas: os mapas convencionais, impressos ou digitais; e os mapas impressos em placas verticais, para orientação dos cidadãos. Para cada caso, existem características que devem ser pensadas desde agora.

Os mapas das cidades são desatualizados, em sua grande maioria. Como nem todos podem acessar o Google Earth ou dispor de um GPS no veículo, vamos esperar que os governos atualizem os mapas e que os hotéis elaborem panfletos e mini-guias turísticos com confiabilidade do seu conteúdo, tanto topográfico quanto temático. Os mapas topográficos podem ser produzidos atendendo rigorosamente às normas da cartografia nacional, mas é comum que os mapas turísticos não tenham a mesma qualidade, fazendo com que as proporções e posições dos pontos de interesse não sejam representadas em sua posição correta, o que leva o usuário a avaliações erradas das distâncias a serem percorridas a pé ou de carro.

A abordagem deste texto refere-se aos mapas de orientação colocados em placas e painéis nas estações de metrô, pontos de ônibus, locais turísticos, shoppings, entradas de feiras e exposições, mas que poucos conseguem entender e utilizar. O problema envolve dois aspectos: a falta de habilidade na leitura de mapas, que é muito comum, mesmo de mapas existentes em estações de metrô, rodoviárias e shoppings.

A empresa Nokia fez uma pesquisa e constatou que 80% dos brasileiros não sabem ler um mapa. Existem pesquisas acadêmicas que mostram que existe uma deficiência no ensino de tópicos de educação cartográfica nos conteúdos de geografia ensinados em todos os níveis, e que os alunos do ensino fundamental raramente trabalham com mapas em escalas grandes, como 1:1.000 a 1:10.000, usadas em mapas de cidades.

A maioria dos mapas em painéis que existem estão em escala e bem acabados graficamente, mas a posição e orientação (Norte e Sul) deles em relação ao local é, muitas vezes, inapropriada. Assim, a tradicional seta indicando “você está aqui” não ajuda muito porque o usuário não consegue se posicionar no mapa. Note que, para usar um mapa impresso, o usuário deve primeiro orientar o Norte do mapa com o Norte verdadeiro, ou identificar prédios, objetos ou acidentes geográficos no mapa em volta de sua posição, e procurar deixá-los paralelos. Isto é o que se ensina nos manuais de esportes, como trilhas, rallies, orientação esportiva e treinamentos militares. Porém, no caso em discussão, o mapa está pintado num painel ou muro que o usuário não pode manusear ou girar.

Assim, é necessário colocar o mapa em posição relativa ao usuário, observando o princípio de associação do sistema intuitivo de orientação natural da pessoa (esquerda-direita, frente-atrás, abaixo-acima), com a posição real dos objetos em volta dele. O sistema intuitivo de orientação pessoal natural pode ser associado facilmente com um sistema cartesiano XYZ:

• Esquerda-direita — x
• Frente-atrás — y
• Abaixo-acima — z

Esse novo sistema não tem que ficar associado ao sistema de pontos cardeais Norte-Sul, Leste-Oeste, porque o mapa estará num plano vertical, a não ser que esteja pintado no solo ou sobre uma mesa. Aqui surge o problema da infinidade de posições nas quais os usuários podem estar, enquanto que os mapas terão somente algumas posições possíveis, e fixas. Para resolver o problema, o novo sistema tem que estar “paralelo” com as linhas retas das ruas em volta, considerando o mapa girado em torno da sua base e colocado na horizontal. A figura 1 mostra o sistema do usuário em paralelo com a Avenida A.

Associação do sistema de orientação do observador com eixos XYZ
Figura 1 – Associação do sistema de orientação
do observador com eixos XYZ

O desenho básico pode até ser o mesmo para compor vários mapas de uma área, mas cada um tem uma orientação diferente para cada posição do observador e as legendas devem estar em acordo. A figura 2 mostra uma perspectiva de uma área próxima de um estádio e a figura 3 o mapa com algumas posições para um observador. Um painel pode ter mapa nas duas faces e o observador pode também observá-lo de duas posições (como nas posições 1 e 2 na figura 3).

Perspectiva da área
Figura 2 – Perspectiva da área

Mapa com posições de um observador de painéis colocados em paralelo (1, 2 e 4) ou normal (3) ao meio fio mais próximo
Figura 3 – Mapa com posições de um observador de painéis colocados em paralelo
(1, 2 e 4) ou normal (3) ao meio fio mais próximo

Como os mapas devem estar integrados com a posição do painel, para o observador na posição 1 o mapa deve ter o aspecto da figura 4a. O mesmo painel, visto pelo lado contrário, deve ser como na figura 4b. Um painel normal ao meio fio da mesma Avenida A, como na posição 3, deve ter o mapa rotacionado como na figura 4c. Já para o painel na Avenida B, que forma um ângulo qualquer com a Avenida A, o mapa teve que ser girado convenientemente, conforme a figura 4d.

Mapas de acordo com as posições do observador na Figura 3Figura 4 – Mapas de acordo com as posições do observador na Figura 3

Daniel Carneiro da SilvaDaniel Carneiro da Silva
Docente e pesquisador da UFPE
danielcs@ufpe.br