Jack DangermondUm apaixonado por GIS, Jack Dangermond é formado em ciências ambientais pela Faculdade Politécnica da Califórnia, com especialização em planejamento urbano pelo Instituto de Tecnologia da Universidade de Minnesota e em arquitetura paisagista pela Universidade de Harvard. Jack foi o fundador da Esri e é presidente da empresa desde 1969.

InfoGEO: Por que a Esri decidiu mudar este release do ArcGIS, de 9.4 para 10? O que há de realmente novo nesta versão?
Jack Dangermond: Nós decidimos mudar o nome do ArcGIS 10 porque este é um release gigantesco, refletindo mais de meio bilhão de dólares em investimentos e muitos anos de pesquisa e desenvolvimento. É uma versão muito estável, bem documentada e de fácil migração.
    O objetivo global da versão 10 é criar um GIS mais simples – um sistema universal para o uso de mapas e informação geográfica de forma mais natural e intuitiva. O ArcGIS destina-se a três tipos de clientes: desktop, móvel e web. Isso torna o GIS acessível a todos. Já que alguns desses clientes são basicamente gratuitos, usuários podem criar suas bases geográficas no desktop e visualizá-las na web ou em dispositivos móveis.
    Um modo de tornar as operações mais simples com a versão 10 foi focar na experiência do usuário quanto aos mapas. O mapa é uma metáfora; um modo familiar de experimentar o conhecimento geográfico. A versão 10 coloca os dados, modelos e representações cartográficas por trás da cena. Você pode interagir com os mapas (consultar, editar, compartilhar e analisar). Você pode também combinar mapas através de mashups. Tudo gira em função do mapa.
    Na versão 10 nós também introduzimos os templates, que podem incluir o mapa, o modelo de dado, a simbologia por trás do mapa, etc.. O ArcGIS 10 permite criar templates interessantes e compartilhá-los; sendo que tudo é carregado junto com o template.
    A versão 10 também melhorou radicalmente algumas coisas básicas nos ambientes desktop e server. A apresentação de dados é muito mais rápida e a edição mais simples. Além disso, integra Python como uma linguagem científica para o desenvolvimento de aplicações. Os dados temporais são integrados em vários níveis. A análise 3D é suportada e as imagens são completamente integradas no ArcGIS 10.
    O ArcGIS 10 também enfatiza a mobilidade e a integração de dispositivos móveis. A habilidade de usar smartphones para acessar o ArcGIS permite a conexão de trabalhadores em campo e torna-os parte da corporação. Isso envolve várias coisas, como a habilidade de capturar fotos e colocá-las no banco de dados da companhia.

MG: O ArcGIS 10 é realmente um “GIS 3D”? Você acha que as pessoas que costumavam trabalhar em 2D irão migrar ao 3D com o ARCGIS 10?
JD: Sim, o ArcGIS 10 é um GIS 3D. E não somente um modelo de dados 3D, ele está cheio de ferramentas analíticas 3D, assim também como visualização em 3D. Na versão 10, o ArcGIS se tornou um sistema 3D. Nós estamos melhorando gradualmente isto nos  últimos anos; por um tempo nós tivemos visualização e também a habilidade de armazenar objetos 3D. Mas agora tudo isso vem junto com as ferramentas analíticas 3D.
    O que é novo na versão 10 é a capacidade de edição em 3D; o ambiente padrão de edição está disponível dentro do ArcGlobe e do ArcScene. Agora, também é possível criar e armazenar linhas verticais na base de dados geográfica. O ArcGIS 10 permite que usuários manuseiem melhor dados GIS em 3D, através da edição direta em ambiente 3D, adicionando componentes 3D ao 2D através de ferramentas de geoprocessamento.
    O foco principal deste lançamento é a análise de vetores em 3D – a capacidade dos usuários analisarem dados GIS em um ambiente verdadeiramente 3D, usando ferramentas de geoprocessamento. Estes operadores em 3D permitem que os usuários possam realizar análises avançadas em 3D, como a análise de sombra volumétrica, algo nunca antes feito. Além disso, nós temos várias ferramentas avançadas de geoprocessamento para trabalhar melhor com o 3D.
    Nós também adicionamos novas e melhoradas ferramentas para edição Lidar, incluindo limpeza de dados e detecção e remoção de outlier.
    Também fizemos avanços significativos na visualização em 3D. Na versão 10 não há mais tanta necessidade de incluir serviços 2D e 3D no mesmo mapa.
    Há também mais opções de visualização de terreno e de simbologias 3D, fazendo com que a simbologia e rotação 3D possa ser dirigida diretamente através de atributos.
    O manuseio também melhorou, com funções chave de criação no software, sendo mais fácil completar gráficos que demonstram as mudanças feitas. Outra melhoria no manuseio é um modelo melhorado de navegação, que permite uma visualização em 3D mais simplificada. Além disso, houve a revisão da documentação e de exemplos práticos para o usuário, incluindo a adição de uma cidade virtual 3D como exemplo.
    O ArcGIS 10 é um grande passo para o GIS em 3D. É um sistema completo de visualização, gerenciamento, análise e compartilhamento de dados 3D. A substituição do 2D pelo 3D depende do usuário e de suas necessidades. Mas, como vocês podem ver, nós estamos fornecendo um ambiente robusto, uma grande variedade de recursos para fazer com que a migração do 2D para o 3D seja a mais fácil possível para que os usuários possam aproveitar este novo e empolgante ambiente.  

MG: Como a computação nas nuvens, o GIS móvel e os mapas colaborativos estão relacionados a este lançamento?
JD: A computação nas nuvens está surgindo como uma importante tecnologia em quase todas as indústrias, incluindo a comunidade GIS. Recentemente nós anunciamos que o ArcGIS 10 está pronto para a computação nas nuvens, o que significa que as pessoas estarão aptas à implantar servidores GIS nas nuvens, ampliando seus sistemas de maneira fácil e rápida, a fim de resolver maiores problemas. Para muitos usuários, isto irá fornecer soluções mais eficientes para a manutenção de algumas ou de todas as suas infraestruturas. Além disso, para muitas agências governamentais, ele fornece uma solução para que estas possam hospedar seus dados sem ter despesas com administração de hardware.
    Aparelhos e aplicações móveis são muito importantes, hoje, para a computação empresarial. Sistemas móveis são também uma parte integrante do ArcGIS.  A ESRI continua a melhorar nossos já existentes produtos móveis para o Windows Mobile e equipamentos do tipo Tablet, e ao mesmo tempo está expandindo aplicações móveis para novas plataformas como o iPhone da Apple e o iPad.
    No ArcGIS 10, a ESRI tem suporte a quatro tecnologias de GIS móvel:  ArcPad, ArcGIS Mobile, ArcGIS Desktop e ArcGIS para iPhone. Cada uma destas tecnologias possui funções específicas, que vão ao encontro das diferentes requisições do usuário final. Preço, tamanho, durabilidade do aparelho e da bateria e sistema operacional são características que ajudam a determinar qual destas tecnologias ESRI é melhor para a empresa, projeto ou organização.
    Com os chamados mapas colaborativos, ou, em outras palavras, dados vindos de fontes não autorizadas, cidadãos comuns podem fornecer dados, prática antes feita somente por profissionais. O desafio aos usuários do GIS é garantir a usabilidade desses dados em um ambiente GIS, ou tornar esses dados brutos em um conhecimento geográfico que seja útil. Isto significa checar os dados para garantir que estejam corretos, além de um envolvimento maior com a coleta de dados, estruturando o processo para garantir que os dados coletados sejam significativos e acurados.
    Usuários e profissionais de GIS estão começando a levar os dados colaborativos mais a sério. Este tipo de dado fornece aos usuários comuns a oportunidade de fornecer um feedback diretamente ao governo, criando oportunidades extraordinárias. É um verdadeiro “exército” de voluntários que podem finalizar grandes projetos em pouco tempo.
    As ferramentas GIS que fornecem suporte a estes dados irão mudar as maneiras com que organizações coletam e gerenciam dados espaciais. As novidades do ArcGIS 10 fornecem aos usuários a possibilidade de modificar conteúdo geográfico em qualquer aplicação de Web Mapping, além de fornecer uma alternativa para comunidades online se tornarem contribuidoras ativas de bases de dados geográficas. A edição Web torna mais fácil a captura de ideias e de observações para a solução colaborativa de problemas. Isto faz com que todos, desde editores de dados autorizados até cidadãos na rua, contribuam com conteúdo para as bases de dados, enriquecendo ainda mais o GIS e fazendo com que usuários GIS tenham novos tipos de dados para usar, gerenciar, interpretar e incorporar ao seu trabalho.

MG: Quais assuntos serão abordados no ESRI User Conference, em São Diego?
JD: o ArcGIS 10 certamente será o foco principal das discussões técnicas, mas também serão discutidos alguns de nossos produtos, como o Bussiness Analyst e o ArcLogistics. Nós temos um palestrante muito especial este ano –  Richard Saul Wurman, conhecido pelo termo” arquitetura da informação.” Ele já escreveu dezenas de livros e fundou as conferências TED (technology/entertainment/design). Ele irá falar sobre seu último projeto, chamado 19.20.21, o qual explora a evolução das “super cidades” espalhadas pelo planeta. Como nos últimos anos, muito esforço vem sendo feito na organização para a apresentação de usuários, workshops técnicos, encontros de grupos de usuários, assim também como para fazer a experiência ganha na conferência a mais proveitosa possível.

MG: Qual a sua expectativa sobre o 1º Encontro de Usuários Esri no Brasil? Você pretende estar presente?
JD: Nós temos grandes expectativas para esta conferência. Um grande número de pessoas importantes, representando o uso do GIS em várias indústrias, estará apresentando suas implementações. Cerca de 12 especialistas da Esri e da Imagem também estarão demonstrando os mais recentes desenvolvimentos em ArcGIS 10.
Infelizmente, eu não poderei estar presente no Encontro de Usuários Esri Brasil este ano. Christopher Cappelli, Esri Sales Director, vai me representar nesta edição. Ele estará acompanhado de um grupo de especialistas da Esri que farão apresentações cobrindo várias áreas de uso do GIS.

MG: Como você vê o mercado brasileiro de geoinformação? A Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas em 2016 podem dar um impulso neste mercado?
JD: Eventos como as Olimpíadas e a Copa do Mundo levam investimentos para várias áreas, especificamente em infraestrutura e segurança pública. O GIS é uma peça chave para estas indústrias, desde o gerenciamento de tráfego em rodovias até a resposta a acidentes. O GIS dará suporte a todas essas atividades e, desta forma, nós esperamos o aumento da demanda por produtos e serviços geoespaciais nos anos que vão preceder esses eventos.

MG: Nós o vemos como um entusiasta da geoinformação. Como você vê a evolução do GIS para os próximos 10 anos? E Nos próximos 20 ou 30 anos?
JG: Esta é uma pergunta difícil de responder. Nos últimos 10 anos,  nós temos visto uma mudança fundamental na maneira como o GIS é entregue e usado, graças à internet. Os próximos 10 anos irão enfrentar uma explosão ainda mais rápida e poderosa dos aparelhos móveis, e a lacuna existente entre os telefones celulares e os computadores pessoais irá desaparecer. O uso de aparelhos móveis irá continuar a crescer, e estes equipamentos irão ter mais suporte à funcionalidade geoespacial, conectando facilmente sistemas GIS, sendo usados para o uso e criação de conhecimento geográfico.
    A democratização dos dados, tanto da criação universal de dados geográficos como o seu uso, irão resultar em um novo tipo de infraestrutura: a infraestrutura geoespacial. Ao mesmo tempo, a sociedade irá se tornar cada vez mais dependente deste tipo de  infraestrutura, assim também como ficou de outras mais tradicionais, como a rede elétrica e as estradas. Atreladas a esta dependência vêm responsabilidades para os fornecedores de infraestrutura, os profissionais que criam, operam e mantêm a infraestrutura.
    Aliadas a cada estágio de evolução da ESRI vêm grandes mudanças tecnológicas. Agora é a Web e o WebGIS. A ESRI está um passo à frente para dar suporte aos nossos usuários no ambiente Web. Nós estamos fazendo isso com nossos serviços educacionais (Campus virtuais e treinamentos online, etc.), suporte técnico, atendimento ao cliente e, claro, nossos produtos e serviços online. Recentemente nós lançamos o www.arcgis.com como parte desta evolução.
    O poder da Web irá suportar ainda mais o GIS colaborativo. Já podem ser encontradas aplicações que incluem o compartilhamento de serviços comerciais. Ela também está fazendo com que o GIS seja mais distribuído, participativo e aberto. Nós acreditamos que isto estará envolvido em uma rede de recursos GIS apoiada pela comunidade GIS, a qual irá trabalhar de maneira conjunta, a fim de criar uma implementação prática de infraestruturas de dados espaciais.
    Há ainda um longo caminho a ser percorrido para que esta visão se concretize. Porém, muitos pequenos passos já foram dados. No centro desta projeção estão profissionais de GIS (nossos usuários), os quais criam e dão suporte à implementações de WebGIS que realmente funcionam. São estes que irão cooperar com usuários de todos os campos, para criar infraestruturas e dar suporte a aplicações, envolvendo cada vez mais os cidadãos.
    Assim como no passado, a ESRI irá continuar a evoluir para apoiar esta comunidade.