MundoGEO resgata algumas entrevistas históricas ao longo dos últimos 15 anos

MundoGEO: Como é a estrutura do Sirgas e quais são os objetivos do Sistema para promover seu uso na América Latina e Caribe?

Claudio Brunini: O Sirgas nasceu na Conferência Internacional para a Definição de um Sistema de Referência Geocêntrico para a América do Sul, celebrada em 1993 em Assunción (Paraguai), com o objetivo de enfrentar a problemática que o nome da conferência enunciava e que gerou o acrônimo que identificou aquela iniciativa que foi acompanhada pela grande maioria dos países sulamericanos. Posteriormente, o significado das duas últimas siglas mudou de “América do Sul” a “Américas”, com a incorporação, em 2000, do México e dos países da América Central e Caribe, e a recomendação da Organização das Nações Unidas, em sua Sétima Conferência Cartográfica das Américas (Nova York, de 22 a 26 de janeiro de 2001), acenando para a adoção do Sirgas como sistema de referência oficial em todos os países das Américas. A visão que rege o Sirgas é a consolidação, em todos seus Estados membros, de uma vanguarda geodésica com nível científico internacional, articulada no trabalho coletivo que contribua a resolver os problemas sociais, econômicos e ambientais da região e melhorar a qualidade de vida de seus habitantes. Dessa visão emerge sua missão, orientada a gerar e por a disposição das instituições da América Latina e Caribe, dados e produtos de origem geodésica que contribuam a compreender a relação complexa e mutante que existe entre o Homem e a Natureza.

Claudio Brunini, Presidente do Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas (Sirgas). Revista MundoGEO, Edição 70


MundoGEO: Como você avalia o desenvolvimento das Infraestruturas de Dados Espaciais (IDE) na América Latina e Caribe, com relação a outras regiões do mundo?

Eric Van Praag: Considero que se tem alcançado importantes avanços nos últimos anos na região, especialmente no estabelecimento de IDEs em vários países pela via de decretos ou diversos tipos de mandatos legais. Porém, em aspectos técnicos e no desenvolvimento de aplicações práticas que tenham utilidade para um número amplo de usuários, considero que ainda falta muito caminho a percorrer. Países como Estados Unidos, Canadá ou Espanha, para mencionar uns poucos, apresentam avanços importantes e nos mostram modelos interessantes a seguir na região. Outros países com um desenvolvimento mais consonante com os países de nossa região, como Coréia, Taiwan e África do Sul, nos demonstram que se podem alcançar importantes avanços na formação de IDEs nacionais sem a necessidade de contar com fortes recursos finaceiros.

Eric Van Praag, Coordenador do Programa GeoSur, uma iniciativa de Infraestrutura de Dados Espaciais Latinoamericana, liderada pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) e Instituto Panamericano de Geografia e Estatística (IPGH). Revista MundoGEO, Edição 69


InfoGEO: Quais são as contribuições das geotecnologias para o desenvolvimento sustentável do país? O Brasil está pronto para crescer de forma sustentável?

Mateus Batistella: O conhecimento do espaço e do território é a base para a promoção do desenvolvimento, não apenas no sentido de somar riquezas, mas também de distribui-las, minimizando possíveis impactos ambientais e sociais resultantes da atividade humana. No Brasil, graças ao esforço conjunto de instituições de pesquisa e ensino, a tecnologia necessária para implantação de sistemas sensores orbitais tem evoluído rapidamente. Metodologias eficientes para extração de informações derivadas desses produtos também têm sido desenvolvidas e aprimoradas. Esses projetos são elaborados em diversas escalas e níveis de análise, a partir dos dados obtidos por instrumentos sensores específicos, apropriados aos temas e objetivos da aplicação. Atenta a essas tendências, a Embrapa Monitoramento por Satélite deve investir em um salto tecnológico rumo a um futuro onde a ciência da informação geográfica e a tecnologia geoespacial serão cada vez mais presentes na gestão da agricultura. O tema transversal de atuação da Unidade revela muitas oportunidades nesse ambiente plural, interdisciplinar e transdisciplinar.

Mateus Batistella, Chefe Geral da Embrapa Monitoramento por Satélite. Revista InfoGEO, Edição 59


InfoGNSS: A escassez de engenheiros é mito ou realidade? A que se deve isso?

Marcos Túlio de Melo: É uma realidade e com tendência ao agravamento nos próximos anos. Nosso obstáculo não é somente de abertura de vagas. Há um problema grave na formação básica, que gera evasão. Outra coisa grave é que as nossas universidades continuam olhando para o passado. Continuamos ensinando engenharia da mesma forma que ensinávamos há 50 anos. Com tantas oportunidades, como a Copa de 2014, o PAC, as Olimpíadas de 2016, o Pré-sal, claro que vamos precisar sim de engenheiros. Vamos ter que pensar o setor público, que teve, ao longo das décadas sem investimentos, seus quadros técnicos completamente desmontados. Outro agravante é que se paga salários baixos. Esse também é um desafio enorme. A área da engenharia pública precisa ser reestruturada, pois será mandatária. O PAC hoje não tem projeto para ser licitado, pois as empresas de consultoria, igualmente ao setor público, tiveram seus quadros técnicos desfeitos. Isso mostra que temos carência sim de engenheiros.

Marcos Túlio de Melo, Presidente do Confea. Revista InfoGNSS, Edição 34


MundoGEO: Na América Latina há vários países que contam com iniciativas referentes à infraestrutura de dados geoespaciais, como Argentina, Chile, Cuba e México, entre outros. De que forma a integração desses países pode ajudar o CP-Idea a desenvolver ainda mais as IDEs?

Valéria Araújo: Na medida que se tem um trabalho unificado, em que todos esses países fazem parte do CP-Idea, que são 24, e que sirva de referência para esses mesmos países e para outros. Tendo uma norma, um relatório, um guia único, que sirva de referência, facilita bastante o desenvolvimento em todos os países, não só os que já têm suas ideias, mas como aqueles que estão em processo de implantação e outros que não contam com projetos.

Valéria Araújo, Secretária-Executiva do Comitê Permanente para a Infraestrutura de Dados Geoespaciais das Américas (Cp-Idea). Revista MundoGEO, Edição 68


InfoGNSS: Qual é o futuro do GIS como um sistema independente?

David Maguire: Sem dúvida, o GIS se tornou muito mais forte como resultado de uma integração maior com tecnologias e ideias que pertencem ao eixo principal do desenvolvimento tecnológico. O uso de ambientes padrão de desenvolvimento (por exemplo o Microsoft Visual Basic), padrões de componentes de software (por exemplo, Microsoft COM e JavaSoft Java Beans) e bancos de dados objeto-relacionais (por exemplo, Oracle, Informix e DB2) revolucionou o GIS. Alguns comentaristas sugeriram que o GIS como uma entidade separada pode desaparecer. Eu não acredito que isso vá acontecer. O GIS como uma disciplina, uma tecnologia e uma ciência continua a ficar cada vez mais vivo. O GIS vai estar presente em mais tecnologias, de forma cada vez mais integrada, mas também vai crescer por si só. Existem paralelos interessantes entre sistemas de análises estatísticas e sistemas de gerenciamento de bancos de dados, sendo que ambos mantiveram sua independência por vários anos.

David Maguire, Diretor de Planejamento de Produtos da Esri. Revista InfoGEO, Edição 10


InfoGNSS: Qual é a novidade das ferramentas de dados geoespaciais?

Geoff Zeiss: Eu diria que a coisa mais importante que está acontecendo na área geoespacial, não apenas nessa área, é o que chamamos de convergência. Estamos falando de convergir arquitetura, engenharia, dados geoespaciais e visualização em 3D, incluindo ambiente de jogos. Essa convergência é vista principalmente na indústria da construção.

Geoff Zeiss, Diretor de tecnologia da Autodesk. Revista InfoGNSS, Edição 20


InfoGEO: Como você analisa o mercado de GIS na América Latina, especialmente no Brasil?

Jack Dangermond: De forma geral, a América Latina e o Brasil seguem a dinâmica do mercado mundial. Acredito que a América Latina representa 5 ou 6% do mercado global de GIS, que é similar a outros investimentos em Tecnologia da Informação. Mas acredito que as pessoas começam a perceber que há um retorno muito grande nos resultados do enfoque geográfico, tanto em eficiência como em economia. E o Brasil está despertando, como o restante do mundo, para o poder da informação geoespacial.

Jack Dangermond, Fundador e presidente da Esri, empresa líder no mercado de GIS desde 1969. Revista InfoGEO, Edição 49


MundoGEO: Quais as principais mudanças que as instituições de cartografia e geografia têm que fazer para estarem mais atualizadas com as necessidades dos usuários na América Latina?

Santiago Borrero: A pergunta é muito pertinente. Todos sabemos, em nossa comunidade, que muitas coisas têm mudado. E se muitas coisas têm mudado, provavelmente as instituições – para corresponder melhor aos seus usuários – também têm que fazer mudanças. E não se trata somente de que se capacite ou se dê um melhor treinamento aos cartógrafos, geógrafos e especialistas, para que processem de melhor maneira e com melhor tecnologia a informação, mas tem que haver ao mesmo tempo câmbios institucionais, de tal maneira que se produza uma situação na qual os técnicos tenham o melhor ambiente, o mais propício para abordar o desenvolvimento da informação espacial em seus países. Em última instância, o que é fundamental é, não tanto a mudança nas instituições, mas sim o que verdadeiramente estamos fazendo, tudo isso para ter um efeito sobre o progresso, sobre o desenvolvimento. É como a relação entre informação e desenvolvimento. Então, nossas instituições, as que produzem, as que estimulam o uso da informação geográfica na região, algumas – não todas – para sobreviver terão que fazer mudanças fundamentais.

Santiago Borrero, Secretário Geral do Instituto Panamericano de Geografia e História (IPGH). Revista MundoGEO, Edição 66


InfoGNSS: Na sua opinião, qual é o futuro do Projeto gvSIG?

Gabriel Carrión: Quando falamos de gvSIG, falamos de software, mas não fazemos referência à componente técnico-científica. Quando falamos de gvSIG também falamos de política e de economia, pois todas são disciplinas relacionadas que não podem entender-se uma sem a outra. É por isso que, quando falamos do futuro do gvSIG, devemos fazer referência a todas estas disciplinas. Nós trabalhamos para um futuro onde o modelo gvSIG se converta em uma referência mundial em geomática -ciência- através do desenvolvimento de um modelo de negócio, -economia- onde colaboração, solidariedade e democracia sejam valores fundamentais e onde a soberania resida na comunidade -política. Isto é o “que” queremos conseguir e, para isto nos é fundamental o “como”. É por isto que um dos preceitos clássicos do gvSIG é que não se trata de um caminho a percorrer, mas de um caminho a construir entre todos.

Gabriel Carrión, Diretor de Estratégia da Associação gvSIG. Revista InfoGEO 63


InfoGNSS: Qual a missão e as vantagens que o Consórcio OpenGIS oferece?

Mark Reichardt: O Consórcio OpenGIS (OGC) acredita em um mundo onde todos podem se beneficiar das informações geográficas e dos serviços disponíveis na rede mundial de computadores, em aplicações ou plataformas. A missão do OGC é tornar isto possível distribuindo especificações de interface de Geoprocessamento que estão disponíveis para uso global. Ou seja, o OGC desenvolve padrões – interfaces para softwares, principalmente – que permitem que diferentes tipos de sistemas de softwares se comuniquem.

A formação de uma associação oferece muitas vantagens. Mas a principal é um mercado de Geoprocessamento expandido, onde fornecedores de tecnologia têm mais clientes, e usuários de produtos de Geoprocessamento têm mais e melhores escolhas. Fornecedores e usuários de tecnologia, que participam dos comitês do Consórcio, recebem ajuda para planejar melhor. Isso porque eles são capazes de prever e influenciar o futuro do Geoprocessamento.

Mark Reichardt, Diretor de Marketing e Programas de Setor Público do OpenGIS Consortium. Revista InfoGEO, Edição 18


MundoGEO: Em sua opinião, quais são as tendências na indústria geoespacial para os próximos anos? O OGC já está pronto para estes desafios?

Luiz Bermudez: O escritor de ficção científica William Gibson, disse: “O futuro já está aqui. Só que não está distribuído uniformemente”. A indústria seguirá beneficiando-se de uma melhor infraestrutura. Alguns países mais que outros, mas a cada dia é menor a diferença. Quando falo de infraestrutura, me refiro a mais largura de banda para conectar-se à internet, mais computação distribuída, mais processos na nuvem, computadores que processam informação mais rápido, mais fontes de dados que produzem mais dados, muito mais dispositivos móveis com melhores processadores interconectados entre si.

Luiz Bermudez, Diretor de Certificação de Interoperabilidade do OGC. Revista MundoGEO, Edição 67