Instrutor de cursos aeronáuticos e consultor na área de VANTs

Engenheiro eletricista, piloto instrutor da Aviação de Caça e piloto de provas, Luiz Munaretto é instrutor do curso de ensaios em voo, com 25 anos de experiência na área. Coronel da reserva da FAB, Munaretto foi inspetor de aviação (INSPAC) pelo DAC. Ministra cursos aeronáuticos no Brasil e no exterior e provê há 4 anos cursos e consultorias na área de Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) pela DCA-BR, onde é especialista, instrutor e consultor de VANTs e em engenharia aeronáutica. Munaretto foi instrutor do Curso VANTs & Drones, realizado no MundoGEO#Connect LatinAmerica 2014.

MundoGEO: Quais os componentes necessários para se efetuar operações com VANTs com segurança?

Luiz Munaretto: Vou responder a pergunta com 4 outras perguntas: a) o VANT está regular e obedece as normas da Anac, do Decea e da Anatel? b) o VANT tem documentação operacional e segue um programa de manutenção? c) o piloto do VANT está bem treinado e tem conhecimentos de aerodinâmica, de meteorologia e de regras de tráfego aéreo? d) a empresa tem padrões de operação estabelecidos? Se as 4 respostas foram “sim”, pode-se dizer que essa operação tem padrão um mínimo aceitável de segurança.

MG: As empresas do setor de mapeamento estão prontas para atuar com VANTs?

LM: A maioria das empresas considera a operação de VANT como uma operação de aeromodelo mais sofisticado e não como uma atividade aeronáutica como deveria ser. Outro aspecto é que as empresas concentram-se na parte da coleta dos dados (razão maior da operação) e confiam demais na baixa probabilidade de falhas, em problemas de tráfego aéreo e no dano a terceiros (pessoas ou propriedades).

MG: Como estão caminhando as questões legais para uso de VANTs no Brasil?

LM: Para operações experimentais de VANT já existe regulamentação específica da Anac e do Decea. Para operações não-experimentais a Anac deverá aprovar legislação (estima-se) até o fim de 2014.

MG: Qual a importância de se ter diferentes níveis de regulamentação?

LM: Os diferentes níveis de regulamentação implicarão em que VANTs maiores terão níveis “mínimos” de segurança regulamentares mais elevados. Destaca-se a palavra mínimos, pois a própria empresa pode elevar os seus requisitos para patamares mais altos em beneficio da segurança das operações. Esses níveis irão variar, basicamente, nos requistos de projeto e de manutenção do VANT e na habilitação do piloto.

MG: Quais as possibilidades e possíveis aplicações ainda não estabelecidas para esta tecnologia?

LM: Hoje, a maior parte das operações no Brasil se concentram em coleta de dados em uma área específica, tais como: uma plantação, uma obra de engenharia civil, uma mina. Porém, existe um nicho de mercado ainda não explorado: o mercado de operações legais para atender grandes empresas governamentais e privadas, que não aceitariam operações fora da legislação da Anac e do Decea.Tais empresas demandam inspeções em grandes áreas e grandes linhas (florestas, hidrelétricas, fronteiras, linhas de transmissão de energia, oleodutos, gasodutos, estradas etc.).

MG: Qual a sua visão sobre o uso civil de VANTs no Brasil?

LM: Existe um potencial muito grande de aplicações, conforme mencionado na resposta acima. Em geral, as necessidades de aplicações serão atendidas, na sua maior parte, por operações ilegais.

MG: E para uso militar, quais as principais vantagens e como os VANTs já vêm sendo utilizados no país?

LM: As vantagens principais em uma operação militar, quando comparado com uma aeronave tripulada, são: o menor custo operacional por hora de voo, a maior autonomia e nenhuma perda de tripulação nas missões. No Brasil, as três Forças Armadas já fazem operações com VANTs, sendo que a Força Aérea e a Marinha já têm emprego operacional regular dessa tecnologia.

MG: Como você enxerga o futuro desta tecnologia em relação ao mercado brasileiro?

LM: Dada a extensão territorial do País, o emprego ainda é incipiente. O mercado de VANTs pequenos e médios ainda tem muito potencial de crescimento. Com o tempo, as empresas sentirão necessidade, por questões legais e financeiras, de se profissionalizarem e terem uma visão aeronáutica para operação dos VANTs.