Por Marcello Giuseppe Deliza

Vista aérea da represa Atibainha, que faz parte do reservatório da Cantareira, durante seca em Bragança Paulista, com margens expostas/ Exame

A questão das perdas de água em tempos de crise hídrica ressalta aos olhos quando o mais leigo dos leigos faz uma conta simples e nota que, em certas cidades, se perdem em média 50% da água captada e tratada.

Um absurdo! Como vir perdendo tanta água há tanto tempo e só agora, com a escassez hídrica e ameaça de racionamento, começa a cair a ficha sobre a seriedade e complexidade do problema? Na região sudeste, rodeada de rios e represas, com intensa precipitação de chuvas, pensava-se em água abundante e para sempre.

Estas perdas comprovadas e recorrentes acontecem durante o trajeto da água desde a captação até a achegada nas casas. Na maioria dos casos os vazamentos são invisíveis, acontecem nas tubulações enterradas. A água vazada se dissipa ou vai para o lençol freático. Não aflorando, fica invisível à percepção e identificação imediata.

As causas dos vazamentos e perdas são conhecidas. Tubulações antigas, materiais inadequados, construções fora de padrão e até a má operação estão entre elas. Um erro de manobra, por exemplo, provoca aumento abrupto de pressão, que acaba estourando redes e ramais por todos os lados.

O mais sério na questão toda é a falta de cadastro técnico. Há um desconhecimento generalizado sobre o que se tem enterrado, onde, que tipo e materiais foram utilizados durante a obra, que muitas vezes nem projeto tinha – era um prolongamento para atender aqui e acolá.

Outra constatação relevante e comum a quase todas as cidades é que antigamente, em função da cultura e da visão política dos prefeitos, havia um entendimento errado sobre saneamento. Não raro, se preferia construir praças e viadutos a enterrar canos. O que era enterrado não dava voto.

O uso da Geoinformação como ferramenta de apoio e geração de subsídios para apurar e obter melhores resultados se confirma de fundamental importância. Por meio desta tecnologia, torna-se possível identificar onde se perde mais água. E, também, o porquê de se perder tanta água nestes locais identificados.

A definição do onde se dá pela aplicação das funcionalidades de geoprocessamento voltadas para a obtenção do balanço hídrico. Ou seja: identificação das áreas com maior índice de perdas por setor de abastecimento. Nesse ponto, um cadastro técnico confiável faz a diferença. Conhecendo a infraestrutura enterrada, pode-se, com o geoprocessamento, ter cenários diversos e saber onde e porque as águas se perdem.

Identificado o onde das grandes áreas críticas, o passo seguinte é conhecer o porquê das perdas de água. Análises geoespaciais geram mapas temáticos específicos, relacionados com os atributos dos elementos enterrados: época da instalação e idade das redes e ramais; tipos de materiais e volume de ocorrências de vazamentos. Com isso, pode-se obter resultados surpreendentes, que permitem atacar os pontos mais críticos.

Em síntese, cadastro técnico e geoprocessamento são indispensáveis para debelar perdas visíveis e invisíveis. Como resultado, aumento de oferta de água para a população.

*Marcello Giuseppe Deliza é Gestor de Informações Geográficas – GIS, pós-graduado em Geoprocessamento pela UFSCar e diretor da GSIG Engenharia. marcello@gsigengenharia.com.br, (011)987817545; www.gsigengenharia.com.br