Flávio Lampert é gaúcho de Porto Alegre. Tem 49 anos e trabalha há 24 anos como jornalista. Já realizou coberturas na Amazônia e foi correspondente internacional em Nova York. Além disso, também é um aficcionado por tecnologia e entrou no mundo dos multirrotores quando morou em Manhattan, entre 2010 e 2012. Apresentado a um Phantom 2 da DJI, virou entusiasta do hobby.

O jornalista logo percebeu que havia um grande espaço para o crescimento das atividades de recreação e profissionais nesse ramo. Também começou a frequentar grupos em mídias sociais que reuniam centenas de aficcionados como ele. A falta de organização, de conhecimento técnico das pessoas e até de uma regulamentação que pudesse tranquilizar os praticantes e profissionais desse tipo de voo foi determinante para que o jornalista se juntasse a outros integrantes dos grupos e ajudasse a fundar a Associação Brasileira de Multirrotores (ABM), a única entidade no país que representa os reais interesses de quem deseja se divertir e trabalhar com esse equipamento.

MundoGEO: Qual é a missão da ABM?
Flávio Lampert: A Associação Brasileira de Multirrotores foi fundada para defender os interesses de quem trabalha e se diverte com o equipamento. Hoje, por exemplo, vivemos uma espécie de vácuo regulatório enquanto aguardamos a ANAC publicar a regulamentação para o setor. O que vale até lá são regras de aeromodelismo que não cobrem todas as necessidades de regulamentação de uma tecnologia nova. O problema se repete nos EUA, por exemplo, que também discutem sua regulamentação enquanto, na prática, milhares de multirrotores decolam todos os dias. Aqui no Brasil, neste momento, há profissionais usando o equipamento para registrar imagens para audiovisuais, comerciais de TV, inspeção agrícola, venda de imóveis, segurança pública, combate a incêndios, registro em 3 dimensões e até no combate à dengue. São milhares de pessoas usando a tecnologia para melhorar a sociedade, esperando a regulamentação que dará mais segurança, credibilidade e tranquilidade para quem quer voar dentro das regras e de forma segura.

MG: Além da legislação, quais os principais desafios para o mercado de usos profissionais dos Drones Multirrotores crescer no Brasil?
FL: O principal desafio é a qualificação. As empresas que fabricam os multirrotores se baseiam em uma característica das máquinas mais novas para alavancar as vendas: o controle por GPS e a volta automática para o ponto de partida no caso de perda de controle. A DJI, por exemplo, se tornou uma empresa bilionária, em parte, por causa desse marketing. O que ninguém fala na hora da venda é que é indispensável também a manutenção constante e vigilância sobre configuração de bússolas, de controladoras, o estado de motores e hélices e ainda de alguns componentes eletrônicos. Situações perigosas e não permitidas pelas regras adotadas na maioria dos países, como o sobrevoo de pessoas, são apresentadas em vídeos de divulgação de venda como se fossem algo natural e seguro. O resultado é a crença de que não há risco em determinados tipos de voos por quem é seduzido pelas promessas publicitárias. Hoje, existe um número muito grande de profissionais pilotando multirrotores acreditando que não há nenhum risco. Por consequência, os clientes desses profissionais também são prejudicados, porque não recebem todas as informações que deveriam receber antes de autorizar voos, por exemplo, dentro de igrejas, sobre convidados, em shows, rodeios e outras dezenas de situações onde esses voos se tornaram, infelizmente, comuns.

MG: Quem são os fundadores da ABM? Quem são os pioneiros?
FL: A ABM foi fundada no fim de 2014 por 20 aficcionados por multirrotores que se conheceram em grupos de mídias sociais. Nestes grupos, se tornava evidente que havia muito a fazer pela atividade: ainda hoje há dúvidas sobre legislação, manutenção e até sobre o funcionamento dos equipamentos. Seduzidos pela facilidade de pilotagem, pessoas compram o multirrotor, abrem a caixa e saem voando sem ao menos ler os manuais. Não é a toa que virou um bom negócio abrir oficinas de conserto de multirrotores. Um dos projetos da ABM é trazer auxílio técnico aos seus associados. Para isso, a entidade precisa crescer ainda mais. Não recebemos verbas oficiais e nem doações. Todos os recursos que temos vêm dos nossos associados. Por isso, há o reconhecimento aos que entraram para a ABM nesse período inicial: temos um grupo especial de sócios considerados como “Pioneiros”, formado por pessoas que acreditaram na proposta da ABM e se juntaram à entidade logo depois da sua fundação, dando à entidade a força e a credibilidade que temos hoje junto às autoridades e à comunidade.

MG:Qual o perfil dos associados da ABM? São empresas e/ou profissionais liberais? Em que ponto da cadeia produtiva atuam? Fabricantes, importadores, acessórios (sensores, softwares, etc.) ou prestadores de serviços? No caso dos prestadores de serviços, em quais mercados atuam?
FL: Hoje já temos mais de 1.500 pessoas associadas ou a caminho de se tornarem integrantes da ABM. É um universo que reúne desde lojistas, técnicos e prestadores de serviços que trabalham com multirrotores a muita gente ligada ao voo recreativo. Entre os lojistas, destaco o representante da DJI no Brasil, que está entre os primeiros a fazer parte da ABM. Entre os prestadores de serviços, há uma maioria ligada à produção de imagens.

MG: Como está o estágio atual de operacionalização da ABM?
FL: A ABM vive hoje um momento de consolidação. Os associados acabaram de aprovar nosso Regimento Interno que tem como característica a defesa do voo seguro e dentro das normas. Estamos nos organizando em dois departamentos: um para profissionais e outro para praticantes, voltado a quem faz uso recreativo do equipamento. Buscamos também a criação de um seguro para nossos associados.

MG:Quais são as expectativas da ABM na realização do evento DroneShow 2015, que se propõe a atuar como integrador e educador da comunidade que fabrica, importa e presta serviços deste setor?
FL: A realização de eventos como a DroneShow 2015 é fundamental para o setor. Esse é o motivo pelo qual a ABM decidiu apoiar o evento: ainda estamos dispersos e, por isso, à margem das decisões das autoridades e de quem domina o mercado. O momento é de estimular a organização do setor, dar voz ao mercado profissional e criar oportunidades para o treinamento da mão de obra que vai operar os multirrotores. Além disso, é preciso também esclarecer a comunidade não só sobre os benefícios do uso dos multirrotores, mas de suas limitações. É preciso que todos trabalhem dentro das normas de segurança.

MG: A ABM pretende ter associados que atuam com Drones de asa fixa ?
FL: Por enquanto, a ABM reúne aficcionados por multirrotores. Nada impede que, no futuro, essa participação seja ampliada. A verdade é que o mundo dos multirrotores está em ebulição e, a cada dia, uma novidade aparece no mercado. O futuro está saindo dos laboratórios e indo parar rapidamente nas mãos do consumidor. Estamos vivendo uma nova revolução tecnológica e, até agora, ninguém conseguiu prever ao certo onde tudo isso vai dar.