A FAPESP e a IBM lançaram no dia 9 de junho passado, durante um evento na sede da Fundação, uma nova chamada conjunta de propostas de pesquisas.

Serão apoiados projetos de pesquisadores de instituições de ensino superior ou de institutos de pesquisa do Estado de São Paulo que gerem conhecimento em Agricultura Digital, como é denominada a aplicação de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) na agricultura.

Entre os temas de interesse da chamada estão sistemas analíticos aplicados a processos agrícolas e sistemas de agricultura de precisão, de monitoramento e de previsão meteorológica e climática em contextos agrícolas.

Também serão apoiadas pesquisas relacionadas à automação de equipamentos, robótica agrícola – incluindo drones e veículos autônomos agrícolas –, processamento de imagens – abrangendo dados por satélite e em campo –, sistemas eletrônicos de monitoramento de gado, detecção, processamento e análise de dados do solo e da água, além de sistemas de realidade aumentada e virtual aplicados à agricultura, entre outros temas.

Serão destinados até US$ 250 mil para os projetos selecionados, com duração de até dois anos.

“Estamos muito contentes com as parcerias que temos feito com grandes empresas. Essas parcerias possibilitam dar origem a pesquisas que não têm somente caráter acadêmico, mas que permitem efetivamente contribuir para o desenvolvimento de produtos e atividades que beneficiem mais diretamente a sociedade”, disse José Goldemberg, presidente da FAPESP, durante o evento.

As parcerias da FAPESP com grandes empresas para o financiamento conjunto de pesquisas em universidades e institutos de pesquisa são firmadas no âmbito do Programa de Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PITE), mantido pela Fundação.

O programa tem o objetivo de intensificar o relacionamento entre universidades ou institutos de pesquisa e empresas por meio da realização de projetos de pesquisa cooperativos e cofinanciados.

“Esse tipo de parceria só dá certo fazer com empresas que têm sua própria atividade de pesquisa e seus pesquisadores, que valorizam, e querem fazer isso, para gerar conhecimento que ninguém no mundo ainda criou, como é o caso da IBM”, avaliou Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.

“Temos aqui no Estado de São Paulo uma quantidade grande de pesquisadores capazes de contribuir para os objetivos da IBM que são muito similares aos da FAPESP: aumentar muito o grau de ousadia e o impacto mundial das pesquisas que financia”, afirmou.

Base em ciência

A empresa de tecnologia norte-americana, que investe anualmente US$ 6 bilhões globalmente em pesquisa e desenvolvimento (P&D), mantém 3 mil pesquisadores em 12 laboratórios de pesquisa localizados em seis continentes.

No Brasil, onde instalou um laboratório de pesquisa em 2011, trabalham cerca de 130 pesquisadores em áreas voltadas a aplicações – principalmente no gerenciamento de recursos naturais, como óleo e gás e agricultura -, além de nanotecnologia aplicada à saúde e clouding industrial, explicou Ulisses Mello, diretor do IBM Research no Brasil.

“Como uma empresa de tecnologia, a IBM é completamente baseada em ciência. A cada 10 anos nos tornamos uma outra companhia. Já vendemos máquinas de escrever, mainframes [computadores de grande porte dedicados ao processamento de grandes volumes de informações], PCs [computadores portáteis] e agora a nossa próxima fase é a inteligência artificial. Para isso, a ciência será fundamental”, avaliou Mello.

De acordo com dados apresentados pelo executivo, estima-se que em 2020 o volume de dados gerados mundialmente totalize 44 Zettabytes – equivalente a 44 bilhões de terabytes.

“Essa quantidade de dados será impossível de ser processada pelos humanos. Iremos precisar de assistentes cibernéticos para processar essa quantidade de informações e entender os dados. Por isso, estamos criando o que chamamos de negócios cognitivos [o uso da enorme quantidade de dados gerados constantemente a favor dos negócios]”, afirmou Mello.

Uma das primeiras aplicações que a empresa tem feito disso no Brasil é na área da saúde. Uma plataforma de computação cognitiva em nuvem, chamada Watson Oncology, processa toda a base de 25 milhões de artigos na área médica publicados mundialmente até hoje, além dos cerca de 8 mil publicados diariamente.

Com base nisso, o sistema possibilita que um médico possa ter acesso aos artigos publicados nos últimos meses sobre câncer de mama que se apliquem a um caso genético específico de um de seus pacientes, por exemplo.

“Acreditamos que os setores com os quais pretendemos trabalhar esse tipo de tecnologia no Brasil – que são o da saúde, o financeiro, de óleo e gás e a agricultura – vão se beneficiar de forma astronômica dessas soluções”, previu Mello.

Computação cognitiva

A chamada conjunta de propostas de pesquisa em Agricultura Digital é a segunda lançada pela FAPESP e a IBM no âmbito de um acordo de cooperação firmado em março de 2016.

Em março deste ano as duas instituições anunciaram as propostas selecionadas na primeira chamada que lançaram, em maio de 2016, na área de computação cognitiva – voltada ao desenvolvimento de sistemas computacionais capazes de processar e integrar diferentes tipos de dados, aprender em grande escala, tirar conclusões lógicas com propósito e interagir com seres humanos de forma natural.

Um dos oito projetos selecionados foi o do pesquisador Ivandro Sanches, professor do Departamento de Engenharia Elétrica do Centro Universitário da FEI, em São Bernardo do Campo.

Os pesquisadores da instituição do ABC paulista pretendem desenvolver uma tecnologia que permita que os sistemas de atendimento eletrônicos, como de internet banking, estimem automaticamente a faixa etária do usuário pelo processamento do sinal de voz e possam interagir de forma diferente.

“Hoje as máquinas interagem com as pessoas de uma mesma forma, independentemente de sua idade. Um sistema como esse permitiria que esses sistemas de atendimento eletrônicos reconhecessem quando estão interagindo com uma pessoa idosa, por exemplo, prestando assistência de uma outra forma. Ou que identificasse se uma criança está usando um aplicativo impróprio para sua idade”, disse Sanches à Agência FAPESP.

Também participaram do evento de divulgação dos projetos selecionados na primeira chamada e propostas do acordo de cooperação em computação cognitiva e do lançamento da nova chamada em Agricultura Digital o diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, Carlos Américo Pacheco, e Bianca Zadrozny, coordenadora da área de Análise de Dados de Recursos Naturais do Laboratório de Pesquisas da IBM no Brasil.

 

Fonte: FAPESP