A sala de aula como a conhecemos está com os dias contados. Muitas instituições estão adotando diferentes metodologias que buscam sair do modelo tradicional. A nova educação passa pela inovação nos métodos e técnicas e pela adoção de tecnologias em sala. E as geotecnologias são recursos valiosos para essa empreitada

Por Naomi Anaue Burda*

Vivemos em um mundo onde as crianças e os adolescentes estão inseridos cada vez mais nas tecnologias. Para eles, inclusive, a maioria dos jogos, gadgets e equipamentos de ponta não são novidades maravilhosas, mas simplesmente a realidade na qual nasceram. Por isso é tão intuitiva para eles e é também por esta razão, precisamente, que o que era aplicado a 20 anos atrás em sala de aula não funciona mais. O uso de aparelhos como smartphones, tablets, computadores, bem como de aplicativos e da internet; trouxeram à tona um novo público que se percebe um pouco “desconectado” do ambiente escolar vigente.

A sala de aula tradicional e o contexto social

Isso não é de hoje, é claro. Essa inadequação já vem ocorrendo há algum tempo e fazendo suas vítimas. Desde a década de 90 (quem passou pela fase escolar nesse período vai concordar com isso), a educação tem se mostrado atrasada para acompanhar tanto as demandas dos alunos quanto o avanço em tantas áreas da ciência e da tecnologia que surgiram e evoluíram de maneira impressionante. O fardo pesado sempre era deixado para o professor e a equipe escolar, que buscavam trazer as novidades por meios de projetos e trabalhos transversais, feiras ou excursões. Enfim, sem um caráter consistente e presente no cotidiano.

Um dos principais motivos dados para esse atraso em lidar com a questão foi a situação do país, que estava tão séria, em termos de desigualdade social, evasão escolar, pobreza, entre outros muitos problemas, que simplesmente não permitia que o foco da gestão pública fosse o de mudar as metodologias de ensino e investir em tecnologia. Mas essa desculpa, depois de quase 30 anos, não pode mais continuar válida.

Geotecnologias em sala de aula: aplicações

Tecnologia aplicada em sala de aula. Fonte: http://www.rioeduca.net/blogViews.php?bid=16&id=3936

O foco nas aulas de Geografia, História e outras matérias precisa mudar. Os mapas não deveriam mais ser desenhados à mão livre, coloridos com lápis de cor e a localização não é mais realizada pela bússola e os mapas impressos. Alguns podem até se lembrar da pelejade carregar os enormes catálogos das companhias telefônicas, com aqueles mapas de ruas, de páginas e mais páginas, que funcionaram, por muito tempo, como antecessores do Waze e Google Maps.

Agora, a presença do GPS, os mapas interativos e colaborativos, verdadeiras redes sociais espaciais, bem como os atlas eletrônicos e digitais, são exemplos das geotecnologias inerentes ao nosso dia a dia. Elas dão um novo tom para decisões geográficas simples; como se deslocar, se localizar, descobrir caminhos e viajar, além de conhecer o mundo inteiro sem sair de dentro de casa.

Isso não tem volta. Essa tecnologia, chamada disruptiva, relegou seus antecessores ao seu merecido lugar na história e ponto final. E se não vamos voltar a abrir mapas gigantes de papel dentro do carro para encontrar caminhos, por que deveríamos fazer nossos alunos lidarem com isso todo dia na escola? Não deveríamos focar no conhecimento aplicado e significativo? Quer dizer, não é que se pretenda banir o mapa de papel totalmente, pois é necessário ensinar a história por trás da tecnologia, mas acho que está claro que o estudo de Geografia só por meio do livro didático é muito inadequado para o mundo em que os alunos vivem.

Os materiais das Geotecnologias que podem ser utilizados como recursos didáticos em sala de aula são vários, tais como: os atlas escolares digitais e eletrônicos; imagens de satélite; atividades de localização com o uso do GPS; mapas digitais; ferramentas como Google Maps, Waze, ou Google Earth PRO, e até mesmo alguns jogos, softwares ou aplicativos. Além disso, instrumentos que carregam essas tecnologias acopladas, como os smartwatches (relógios inteligentes) e os smartphones, podem ser aliados interessantes (e não inimigos) para deixar as aulas de Geografia mais interativas, divertidas e engajadoras.

Recentemente, o IBGE inaugurou uma plataforma, de acesso público e gratuito, voltada para o apoio a estudantes de diferentes níveis escolares e a professores. Lá é possível acessar muito material de qualidade, adequado ao estágio de aprendizagem necessário e preparado de forma didática. Esse é um bom exemplo de geotecnologias apoiando o processo de ensino e aprendizagem e um grande passo para essa tão necessária transformação da sala de aula.

A capacitação do professor

Depois de tudo que foi dito, é obvio que o professor não deve ficar detido ao quadro negro, giz e ao livro didático. É claro que a responsabilidade de fazer toda uma revolução educacional não é do professor. Mas quem escolheu entrar para a licenciatura e trabalhar com educação, tem que assumir o seu papel como agente dessa transformação sim.

Por isso, sobretudo quem se formou há mais de 10 anos precisa de muita atualização. Quem ainda está estudando ou acabou de se formar e já vai começar a dar aulas tem que continuar sua capacitação e complementar a formação com especializações e cursos diversos.

As suas aulas devem ser adequadas à modernidade, uma linguagem que os alunos vejam como atrativas para a sua aprendizagem, para não correr riscos de ter o seu planejamento ultrapassado por diferentes tecnologias e métodos inovadores.

Os professores que já atuam em sala de aula há muito tempo não tiveram uma formação voltada para utilização de recursos tecnológicos e geotecnologias. A Cartografia limitava-se ao estudo e entendimento de mapas impressos, sem nenhuma dinâmica e virtualidade necessários. Não mais. O educador deve estar preparado, com cursos de capacitação que o habilitem a utilizar deste instrumental para as aulas de Geografia, Cartografia, Pedagogia, História e áreas afins. A necessidade do professor se capacitar e atualizar não se resume apenas à questão de elevação de nível em sua carreira, mas para tornar suas aulas mais atrativas e interessantes.

Sendo assim, você, educador da área, deve se atentar a perguntas como estas: Você já se imaginou criando um projeto de mapeamento digital com seus alunos em sala de aula? Já tentou usar os conteúdos geográficos com um enfoque a partir de imagens de satélite, atlas eletrônicos, gincanas de localização? Já deixou de lado a rosa-dos-ventos e partiu para uma interação utilizando o programa Google Earth ou aplicativos? Já elaborou seu próprio atlas colaborativo como recurso metodológico para suas aulas? E, por último, pergunte-se: Como devo utilizar as (geo)tecnologias a meu favor na sala de aula?

E lembre-se: um educador que não está se questionando e se desafiando a melhorar e a mudar não será capaz de ser o agente da mudança para o outro.

Quer aprender a utilizar as geotecnologias em sala de aula?

O Instituto GEOeduc está lançando novos cursos voltados para a Jornada de Educação e Ensino, com treinamentos direcionados para professores e pesquisadores da rede ensino para atualização de métodos aplicados em sala de aula.

Se quiser acessar um conteúdo gratuito, de muita qualidade, que trata da tecnologia aplicada à educação, confira o curso Tecnologia e ensino na Geografia. Se quiser conhecer o nosso mais novo curso, Geotecnologias para Educação e Atlas Escolares, que vai responder às perguntas feitas neste artigo e ensinar a trabalhar com atlas digitais em sala de aula, acesse o link abaixo:

Geotecnologias em sala de aula

Naomi Anaue Burda* – Doutora em Geografia Humana pela USP. Graduada pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (2005) e mestre em Gestão do Território pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (2007). Possui experiência em educação superior, com ensino em graduação presencial e em EAD, pós graduação e elaboração de materiais didáticos em Geografia. Também atua com oficinas e projetos sobre Atlas, Cartografia Digital, Geotecnologias e Patrimônio Cultural Arquitetônico. Atua principalmente nas seguintes áreas: geoprocessamento, gestão do patrimônio cultural , cidade, cartografia básica e temática.

Fonte: GEOeduc