Trabalhar com mapas em equipamentos de mão é cada vez mais uma realidade

O professor Max Egenhofer gosta de falar sobre o futuro dos sistemas de informação geográficos que, aqui nos Estados Unidos, a turma da academia prefere chamar de Geographic Information Science em vez de Geographic Information Systems. Em português a tradução não deu certo, já que a sigla CIG/SIG (Ciência/Sistemas) não deu um bom casamento. Mas, como eu ia dizendo, o professor Max sempre está olhando para o futuro e, ultimamente, o principal tema tem sido os assistentes pessoais com características geográficas. Ele chama estes assistentes de Spatial Information Appliances (SIA). Estes aparelhos podem ser qualquer dispositivo portátil com capacidade de lidar com informações geográficas, ou melhor, com capacidade de lidar com localização. Geralmente devem estar conectados à telefonia móvel e também ao sistema GPS. Desta forma podem contar com o suporte da Internet para fornecer serviços a seu usuário.

Embora a ciência sempre esteja a frente da indústria, às vezes, a indústria corre um pouquinho mais e passa a frente da ciência. Durante um encontro de ex-alunos do departamento de Ciência da Informação Espacial da Universidade do Maine eu tive a oportunidade de conversar com Raju Chithambaram, que completou o mestrado no departamento em 1990 e é um dos responsáveis pelo projeto Maui/Autodesk on Site.

Esse projeto desenvolveu um software de GIS que roda em Palmtops. O objetivo é colocar um mapinha na mão do engenheiro que está no campo e precisa trabalhar com mapas. Este projeto é dirigido principalmente a companhias que prestam serviços no campo, como elétricas e telefônicas. Um dos problemas que sempre impediram o desenvolvimento de mapas em aparelhos portáteis é o volume de dados a ser transferido. Outro problema é o tamanho do software a ser carregado para a execução das funções geográficas. A solução adotada para isso foi a transferência de informações em lote. Esta é uma solução razoavelmente antiga mas que aqui, devido às características do projeto, funciona bem.

A idéia é que a pessoa que necessita das informações saia pela manhã e faça a conexão com o servidor de dados geográficos e transfira a área referente à ordem de serviço a ser executada. Uma vez transferidos os dados para o Palmtop, o software da Autodesk fornece as funções básicas de mapeamento, como consulta e zoom. O usuário pode clicar e, assim, obter e atualizar dados alfanuméricos. O programa é altamente interativo e o usuário pode fazer anotações e também esboços sobre o mapa original. Se for necessário, o usuário pode se conectar outra vez e atualizar dados ou obter mapas de outras regiões.
Mas, o mais interessante aqui são as soluções técnicas adotadas: um sistema de banco de dados que possui apenas as funções mínimas necessárias para o trabalho no campo, o Oracle8Lite, um GIS também com as mesmas características, o Autodesk Map Guide, e a linguagem Java. A opção pela linguagem Java (por um acaso, a minha preferida e sempre presente nas minhas colunas) é muito interessante porque este projeto usa a linguagem da maneira que ela foi concebida. Antes de ser uma linguagem da Internet – para alguns "a linguagem da Internet" – Java foi uma linguagem criada para ser executada em aparelhos portáteis ou, melhor até, em aparelhos eletrodomésticos. Imagine você abrindo a geladeira e vendo a mensagem: "Aguarde: carregando applet Java"!!!

A grande vantagem dessa linguagem é que ela gera programas bem pequenos, podendo assim se dar bem em ambientes que tenham pouca memória ou capacidade de processamento. Esse é exatamente o caso dos Palmtops. Embora cada vez mais poderosos, em termos de processamento e memória, eles ainda ficam longe dos computadores de mesa. Assim, uma solução para o uso de mapas ou sistemas de informação geográficos na palma da mão tem de ser capaz de funcionar com velocidades de conexão baixas, capacidade de memória e armazenamento limitadas.

A solução que apresentamos aqui pode não ser a definitiva mas é um modelo básico do que deve ser este tipo de computação nos próximos anos. Uma abordagem que usa uma linguagem simples e eficiente, um banco de dados e um GIS em versões simplificadas, e uma utilização inteligente da banda limitada disponível na conexão Internet neste tipo de aparelho. Ao mesmo tempo conta com um suporte das versões mais avançadas, tanto do banco de dados como do software de GIS, rodando no servidor e fazendo as conexões quando necessário. Quando você menos esperar, o mundo vai estar na palma de suas mãos.

O que é um Palmtop?
Por um bom tempo, o palmtop foi apenas um brinquedinho que as pessoas que queriam andar na moda usavam. Mas os problemas eram muitos. É difícil colocar as funções de um computador em um espaço tão pequeno. No entanto, as coisas estão mudando. Hoje, estes "brinquedinhos" já podem se ligar na Internet, a qualidade das telas melhorou muito e, finalmente, o programa que reconhece a caligrafia está funcionando!!! Hoje é possível ter a linguagem Java operando em seu palmtop ou mesmo a versão compacta do Windows da Microsoft, o Windows CE. Além do famoso PalmPilot da 3M, o mercado tem hoje uma grande concorrência com produtos da Compaq, HP, Cassio, Sharp e Philips, entre outros.

Frederico Fonseca
é engenheiro mecânico, tecnólogo em Processamento de Dados e mestre em Administração Pública. Participa da equipe de geoprocessamento da Prodabel, responsável pela implantação do GIS da Prefeitura de Belo Horizonte. Atualmente cursa doutorado na Universidade do Maine. email: fred@spatial.maine.edu