Ou: não acredite no que você lê na grande mídia antes de fazer uma análise técnica… Será mesmo que é possível que um smartphone tenha somente 30 centímetros de precisão?

Este post já estava programado para ser elaborado nos últimos dias, mas foi adiantado devido a um pedido de nossos leitores:

“Por favor , gostaria que vcs desmentissem notícia divulgada no UOL que
trata de posicionamento preciso com celulares.
Li a notícia e notei que a mesma está eivada de erros e inverdades:”

Então vamos lá (não vamos aqui “desmentir” ninguém, mas somente esclarecer melhor algumas informações): imagine que maravilha seria se o seu smartphone, comprado com algumas centenas de reais, pudesse ter precisão de poucos centímetros.

Seria ótimo, não é mesmo?

E para empresas, então, se abririam novas oportunidades de negócios, principalmente para as que atuam com mobile marketing e LBS – sigla em inglês para Serviços Baseados em Localização).

Afinal, o erro médio dos receptores GNSS presentes em nossos celulares, hoje, gira em torno de 5 a 10 metros, o que inviabiliza um posicionamento mais preciso para atividades do dia-a-dia, como localizar quem chamou um uber no meio de uma multidão ou receber uma oferta baseada em localização, por exemplo.

A notícia divulgada semana passada, de que uma empresa havia lançado um chip para smartphone que iria possibilitar estes impressionantes 30 centímetros, caiu como uma bomba no setor de Geotecnologia.

Com uma precisão assim, seria possível – teoricamente – até mesmo fazer georreferenciamento de imóveis rurais padrão Incra. E isso utilizando um simples smartphone!

Mas, infelizmente, não é bem assim (pelo menos por enquanto).

Vamos por partes…

Primeiro, é importante lembrar que a maioria dos smartphones, hoje, já rastreia sinais GNSS. Esta é a sigla em inglês para Sistemas Globais de Navegação por Satélites e engloba o norte-americano GPS, o russo Glonass, o europeu Galileo, o chinês Beidou, além dos vários sistemas de “aumentação” que existem no mundo (Egnos, WAAS, MSAS, etc).

É só você conferir no manual ou nas especificações técnicas do seu smartphone que poderá verificar quais sistemas seu aparelho rastreia. O meu é um smartphone meio “velhinho” e mesmo assim já rastreia dois sistemas: GPS e Glonass.

No caso da notícia da semana passada, foi divulgado maciçamente o lançamento da empresa Broadcom, de um chip para smartphone que vai rastrar o sinal L5, o que possibilitaria, em tese, essa precisão submétrica.

Só esqueceram de avisar que o sinal L5 será transmitido após a modernização do sistema GPS, cujos satélites ainda estão sendo lançados. Este sinal também é compatível com o E5, do Galileo, que ainda não tem alcance global.

O governo dos EUA está em processo de lançamento de três novos sinais projetados para uso civil: L2C, L5 e L1C. O sinal civil que já utilizamos na maioria dos smartphones (L1) continuará sendo transmitido. E os usuários deverão, aos poucos, atualizar seus equipamentos para se beneficiar dos novos sinais.

Estes novos sinais civis estão em fase progressiva de implantação, uma vez que a Força Aérea norte-americana está lançando novos satélites GPS para substituir os antigos.

A maioria dos novos sinais será de uso limitado, até que estejam sendo transmitidos a partir de 18 a 24 satélites. Hoje, o status do sinal L5 consta como “pré-operacional”, sendo transmitido a partir de 12 satélites em órbita.

A modernização do GPS envolve, ainda, uma série de lançamentos consecutivos de satélites, incluindo os blocos IIR-M, IIF e III. Também inclui melhorias, em paralelo, no segmento de controle em solo do sistema.

Ou seja, ainda não dá para prometer que teremos, pelo menos em solo brasileiro, smartphones com 30 centímetros de precisão já no próximo ano…

Na imagem a seguir, bastante didática, dá para ter uma ideia dos sinais dos diversos sistemas disponíveis hoje:

Sinais GNSS

Quanto ao que saiu na grande mídia, uma das manchetes era esta: “Já era hora! Celulares terão GPS com precisão de até 30 cm em 2018”.

Veja que se fala em GPS, que seria já para o próximo ano. Ou seja, ao invés de informar, isso mais atrapalha do que ajuda. E nos textos que apareceram – inclusive em sites técnicos – não eram abordados os diferentes sinais e tão pouco a modernização do sistema GPS.

Na verdade, não se espera que os veículos de massa expliquem tudo isso ao seus leitores, mas que ao menos informem corretamente, fazendo as devidas ressalvas. Senão, vira um fiasco como aquela vez que o Jornal Nacional informou que o Japão teria “seu próprio GPS‘”.

Precisando de alguma consultoria técnica para fazer suas matérias? É só falar com os seguidores do MundoGEO, pois tem muita gente boa a disposição… #ficadica