Por Eduardo Freitas Oliveira

A discussão é “antiga”, porém ainda é pertinente: afinal, o Google Earth ajudou ou atrapalhou as empresas de geotecnologia? Para alguns empresários, o serviço de mapas online foi muito benéfico por popularizar a geoinformação e trazer novos consumidores para esse segmento. Por outro lado, há quem considere que ele atrapalhou os negócios por acostumar mal os usuários, que ainda acham que é só ligar o computador e obter imagens de alta resolução sem nenhum custo.

Em uma fase bem mais amadurecida, o Google agora avança sobre o território das grandes companhias de geo, com soluções corporativas tanto para empresas privadas como para órgãos públicos. Na outra mão, os concorrentes tradicionais do mercado de geoinformação lançam soluções gratuitas de mapas online, acessíveis ao usuário doméstico, mostrando ao mercado que o Google e a Microsoft não são as únicas opções na GeoWeb.

Google Earth para empresas

O Google Earth Enterprise (GEE), a solução mais corporativa da companhia, permite a criação de um verdadeiro mundo virtual, disponível na intranet da empresa e acessível a vários colaboradores. Além disso, distribui espacialmente informações já presentes na organização, nas áreas de ERP, CRM, GIS, CAD, entre outras.

A interface única do sistema, acessível a qualquer usuário não técnico, combina imagens, plantas, ruas, pontos de interesse e modelos 3D de edificações em um mesmo globo. O GEE permite a visualização dos dados da organização tanto na base de imagens de satélites do Google como nos próprios servidores da instituição, aumentando assim a segurança para empresas e órgãos públicos.

De acordo com Paulo Takito, sócio-diretor da UrbanSystems, “o Google Enterprise propicia um ambiente privado com dados corporativos estratégicos, que ficam ‘separados’ dos demais dados abertos na internet, tudo isso em uma plataforma web com acessibilidade para os diversos membros de uma empresa, de maneira fácil e rápida”.

Os principais componentes do GEE são o Google Earth Fusion, o Google Earth Servidor e o Google Earth Cliente/Google Maps. Os dados geoespaciais, na forma de imagens e vetores, são organizados pelo Google Earth Fusion, formando o banco de dados, que é gerenciado e disponibilizado na intranet da empresa para diversos usuários através do Servidor. Por sua vez, os usuários passam a visualizar, imprimir, pesquisar e criar dados através do Google Earth Cliente (3D) ou do Google Maps (2D).

Segundo Humberto Cezar Garcez, gerente operacional da Vertax, nos EUA praticamente todos os órgãos de defesa usam a ferramenta, principalmente pelo fator segurança, já que o GEE roda independentemente da internet pública. O Virtual Alabama é um exemplo de sucesso da implantação do GEE, com toda a administração pública do Estado interligada através da ferramenta. De acordo com Garcez, outro diferencial da versão Enterprise é que pode rodar até mesmo a partir de um pen-drive, além de ser compatível com celulares e outros dispositivos móveis.

Em terras tupiniquins, uma iniciativa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em parceria com a Vertax, pretende criar o Ibama Virtual. Semelhante ao Virtual Alabama, a ideia é integrar todo o acervo de dados geoespaciais do Instituto a uma rede de dispositivos, como câmeras fotográficas, sensores de temperatura e chips RFID, tudo isso dentro da plataforma Google Earth.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já é usuário há dois anos do GEE como solução para o trabalho interno na instituição. Todo o patrimônio histórico de microdados do IBGE é integrado através da plataforma. Giovanna Altomare Catão, analista em geoprocessamento do IBGE, comenta que o GEE é uma ótima alternativa para a visualização de dados do Instituto. Com uma base de dados bastante volumosa, que já ultrapassa os 4 terabytes, o IBGE distribui os seus dados através de uma intranet protegida por Firewall que interliga 530 agências e 27 Unidades Estaduais espalhadas por todo o Brasil.

A experiência do IBGE com o Google Earth começou em 2007, durante a realização do Censo Agropecuário, para acompanhar o andamento da coleta com a geração de arquivos kml. No Censo 2010 a ferramenta Enterprise será usada, facilitando o trabalho já que será necessário apenas publicar a informação no servidor próprio do IBGE, e a mesma poderá ser visualizada pelos diversos clientes.

Prefeituras podem usar o GEE para criar verdadeiras “cidades virtuais”, possibilitando o gerenciamento de todos os recursos municipais. Várias informações importantes ficam disponíveis para todas as secretarias, autarquias e outras entidades municipais, melhorando os processos decisórios e o atendimento das necessidades dos cidadãos.

Como exemplos de informações que podem ser distribuídas estão os dados sobre agricultura e abastecimento, cultura e lazer, defesa civil, educação, finanças, indústria e comércio, meio ambiente, obras, segurança pública, trânsito e transportes, planejamento, entre outras.

Dentro de prefeituras, todas as informações espaciais do município ficam organizadas em um servidor do próprio órgão. O Google Earth Server gerencia as informações e os usuários das secretarias, através do Google Earth Cliente, podem acessar e atualizar as informações espaciais. Os munícipes, por sua vez, podem enviar informações espaciais às secretarias utilizando o Google Earth gratuito.

Um exemplo de aplicação na área de geomarketing é o UrbanMap, desenvolvido pela UrbanSystems, que possibilita ao usuário realizar análises de tendências e vetores de crescimento ao colocar seus dados sobre os mapas e comparar com demais dados do mercado existentes na base. Além disso, o cliente pode fazer monitoração de market share, construir relatórios online e real time, entre outras funções.

Pro

O Google Earth Pro é uma ferramenta de pesquisa e apresentação de dados geográficos. Possui vários recursos avançados para visualização e compartilhamento de informações, como plantas de terreno, listas de propriedades, endereços de clientes, entre outros.

Dentre as vantagens em relação à versão gratuita destacam-se a ferramenta para medição de área (em metros quadrados, quilômetros, hectares, etc.), importação de até 2,5 mil localidades (através de endereços ou coordenadas de latitude e longitude), resolução e recursos de salvamento que permitem impressões de imagens de até 28 x 43 centímetros (4.800 pixels), programa que permite exportar filmes de zooms e passeios, além de importação de dados GIS como SHP, GeoTiffs, etc..

O Google Earth Pro pode ser usado por arquitetos e engenheiros, através de passeios virtuais, medição de áreas, entre outras ações. Para imobiliárias, permite localizar imóveis, avaliar a região próxima, realizar voos virtuais, verificar pontos de maior valorização, etc.. Já os órgãos de governo e ONGs podem usar os recursos de mapeamento e importação de dados de GIS para análise e compartilhamento de dados geográficos.

Ações na área de segurança e defesa também podem ser apoiadas pelo Google Earth Pro, permitindo manter o foco na tarefa e não no uso da ferramenta, já que a interface é amigável a usuários leigos. Empresas ligadas ao setor de rastreamento de bens patrimoniais podem integrar sistemas GPS e RFID, mostrando a localização de qualquer patrimônio em movimento diretamente em uma imagem da Terra, em tempo real. O planejamento e treinamento tático de operações são outras possibilidades para essas empresas.

Corretores de seguros também podem obter uma visualização completa e detalhada de qualquer ponto geográfico em sua região, permitindo a análise e avaliação da localização de um imóvel sem precisar sair do local de trabalho. Por sua vez, veículos de comunicação podem ganhar em conteúdo e profundidade através do uso de mapas e imagens de satélites.

A Rede Globo tem um acordo com o Google para o uso de uma licença Pro. Hoje, a emissora usa a ferramenta para várias transmissões jornalísticas e esportivas. No último dia deste ano, durante a corrida de São Silvestre, avatares de corredores munidos com GPS serão acompanhados via Google Earth.

Outra opção corporativa é o Maps API Premier, a versão empresarial do Google Maps, com contrato de garantia de nível de serviço e suporte aos clientes.

Da massa para as corporações

A versão gratuita do Google Earth é mais voltada para o uso pessoal e entretenimento. Proporciona uma exploração interativa do planeta Terra em 3D, com imagens aéreas e de satélite. Já a versão Pro do Google Earth possui recursos mais avançados e é mais adequada para fins profissionais e comerciais. Embora o banco de dados seja o mesmo, as funcionalidades são distintas. Já a versão Enterprise é uma solução totalmente corporativa, que pode rodar independentemente da internet, sob o Firewall das empresas.

Segundo Paulo Takito, no futuro “mapas e dados tendem a se tornar ‘commodities’ e os diferenciais com maior valor estarão nas análises que poderão ser criadas ligando bases de dados em mapas de maneira inteligente”. Para ele, as aplicações tendem a se tornar plataformas de análises.

Com 500 milhões de usuários no mundo, nas versões Grátis, Pro e Enterprise, o Google aproveita sua experiência no mercado de massa e implementa ferramentas corporativas. Durante o Seminário GeoWeb & GPS, que aconteceu no dia 15 de abril em São Paulo, o responsável técnico do Google Enterprise, Francisco Gioielli, afirmou que o Google recebe mais de 10 mil sugestões por hora de usuários para correção dos mapas online. Baseado nessa experiência com o mapeamento colaborativo, e com uma ferramenta que suporta milhões de acessos ao mesmo tempo, o Google se posiciona como um grande concorrente das empresas tradicionais no setor de geomática.

Google Earth e Maps para Negócios

Acontece em São Paulo, no proximo dia 3 de dezembro, o Seminário Google Earth e Maps para Empresas, com o tema “Descubra como as ferramentas corporativas do Google podem impulsionar o seu negócio”. Esse evento tem o objetivo de apresentar ao mercado as soluções da Google para aplicações nas áreas de análise geográfica e serviços de localização. O seminário vai descrever as funcionalidades dos produtos, bem como apresentar suas aplicações nas áreas de geomarketing, mercado imobiliário, gestão pública, rastreamento de veículos, logística, mídia e negócios em geral. O público alvo do evento é formado por profissionais especialistas na área de geoprocessamento e usuários recém chegados ao mercado.

Na ocasião haverá palestras sobre os produtos e apresentação de cases, com a possibilidade de falar com os responsáveis pelas plataformas e pela seleção dos dados disponíveis para o Brasil e América Latina.

Uma realização das revistas InfoGEO e InfoGPS, o evento tem apoio do Google e divulgação dos portais MundoGEO, InfoGPSonline, UOL e Apontador|MapLink.

Veja mais em www.mundogeo.com/seminarios/google

Geo contra-ataca

As empresas de geotecnologias, ao verem parte de seu território ameaçado pela presença de companhias de TI, têm lançado constantemente aplicações gratuitas e mais simples, para visualização e compartilhamento de dados, gerando grande concorrência nessa área.

A Esri, líder mundial em softwares para GIS, lançou em 2007 o ArcGIS Explorer, com algumas soluções que se consagraram no Google Earth, principalmente em termos de navegação. A ferramenta possui outras capacidades voltadas para serviços de geoprocessamento, sendo possível executar consultas e tarefas de ferramentas GIS, tais como análise de visibilidade, roteamento, modelos espaciais, entre outras.

Já a Erdas conta com o Titan, um globo virtual 3D para compartilhamento de dados geoespaciais que pode ser usado tanto online como offline. Na versão mais atual, usuários podem fazer pesquisas através de gerenciadores de imagens Erdas Apollo, pela rede de GeoHubs Titan e em dados locais.

A empresa Fugro EarthData lançou este ano o software de visualização de dados geoespaciais em três dimensões FugroViewer, para o uso em qualquer projeto com dados de elevação. O visualizador 3D permite o acesso a dados obtidos com tecnologia laser (Lidar), ou com outros métodos de levantamento de terrenos, sem a necessidade de softwares adicionais.

+INFO
www.esri.com/arcgisexplorer
www.erdas.com/titan
www.fugroviewer.com