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Topografia no Passo da Modernidade

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Por Valtemir Soares Jr.
Fotos: Denis Ferreira Neto

Transporte de teodolitos. Medições com trena. Cálculos, cálculos, cálculos. Erros. Topógrafos têm que conviver com isso. Ou tinham: agora, graças ao avanço tecnológico, superaparatos digitais vêm aliviar o trabalhos das equipes de topografia. Estações totais e softwares substituem a mão-de-obra quase artesanal de métodos tradicionais, trazendo economia de tempo e de esforço aos que optaram pela modernização. Mas a opção soma o custo dos equipamentos e o da adaptação tecnológica. Nem sempre a passagem das técnicas tradicionais às modernas tem sido tranqüila.
Veja porquê.

Em 1997, quando a montadora de automóveis francesa Renault começou a fazer os primeiros trabalhos para a instalação de uma fábrica na região metropolitana de Curitiba, uma equipe de topografia da Agritec (empresa de mapeamento local) descobriu que o serviço de terraplenagem feito por outra empresa tinha falhas. A equipe da Agritec, encarregada de fiscalizar a execução do serviço, verificou que as coordenadas geográficas usadas para fazer a terraplenagem eram diferentes das previstas para a construção do prédio que abrigará a unidade de pintura de automóveis da futura fábrica. Graças ao uso de uma estação total, os topógrafos verificaram erros na posição dos pontos em menos de uma hora. Foi providencial: o erro de 4 metros lineares a menos obrigaria uma rotação de todo o projeto civil. Se a fiscalização fosse feita com teodolitos óticos ou eletrônicos, os erros levariam muito mais tempo para serem detectados.

A história ilustra como as estações totais estão entrando rapidamente no dia-a-dia de topógrafos, agrimensores e engenheiros, substituindo teodolitos óticos (há algumas décadas a única aparelhagem disponível) e os eletrônicos, até bem pouco tempo, a maior novidade tecnológica para esse tipo de trabalho. O nome técnico, traduzido literalmente do inglês, dá idéia da potencialidade do instrumento. Com uma unidade de estação total, é possível efetuar leituras angulares e lineares sem que seja preciso acoplar instrumentos adicionais.

No mercado brasileiro desde o início dos anos 90, as estações totais já estão em empresas de engenharia e topografia, órgãos públicos e escritórios de autônomos, mesmo que, às vezes, o usuário pense duas vezes antes de bancar o investimento. Uma unidade do equipamento custa em média R$ 13.000 contra os R$ 4.000 pagos por um teodolito eletrônico. O custo não é o único empecilho para a modernização de equipes de topografia. Muita gente ainda tem medo de apertar botão e desconfia que uma máquina possa fazer boa parte de seu trabalho sozinha, automaticamente.

Na Agritec, o trabalho de adaptação à nova tecnologia não foi fácil. O pessoal de campo e de escritório tinha um mínimo de conhecimento da língua inglesa e os menus de operação do equipamento e programas de computador eram todos nesse idioma. Para quem não tinha nenhum contato com Informática, a assimilação foi mais trabalhosa, já que teve que aprender também a manusear o computador. A empresa ainda teve que arcar com um custo de investimento maior em equipamento em relação àquele ao qual estavam acostumados. O supervisor técnico da empresa, Marcelo Rossa diz que havia incerteza sobre os retornos financeiro. "Hoje avaliamos que valeu", diz. A empresa gastou R$ 39.000 na compra de 3 aparelhos, que são usados em topografia básica, aerofotogrametria e locação e fiscalização de obras.

Já a construtora Andrade Gutierrez, de Minas Gerais, investiu US$ 100.000, em 1992, na compra de quatro estações totais, convicta que o trabalho topográfico ganharia qualidade. E não se decepcionou, já que ganharam em agilidade e precisão, aumentando, por isso, a produtividade. "Houve diminuição de tempo gasto nas atividades de campo e escritório, principalmente no que se refere a refazer trabalhos com erros", diz o gerente de desenvolvimento de sistemas, Lauro Zanforlin. Ele conta que os aparelhos são usados em diferentes obras, como mineração, projetos imobiliários e distribuição de gás. "A aplicação vai do levantamento de uma área até a locação das estruturas da obra", completa. A construtora tem hoje 15 estações totais em território brasileiro e outras 10 no exterior.

O cartógrafo Marcelo Rossa e um operador fazem medições com estação total em uma rodovia em Curitiba

Versatilidade
Zanforlin e Rossa apontam como pontos positivos nas estações totais a precisão, confiabilidade nos dados armazenados (dispensa anotações em cadernetas e digitações), agilidade (leituras são feitas usando prismas) e facilidade de transferir dados ao microcomputador via cartão coletor ou comunicação por cabo. Um problema, porém, segundo eles, é a necessidade de qualificação de pessoal de campo e de escritório. O supervisor técnico Rossa comenta que já aconteceu de um de seus topógrafos sair em campo com a estação total e não conseguir coletar nenhum ponto porque não sabia como operá-la.

Elogios ao equipamento se devem à simplificação das atividades. A estação total permite efetuar medidas angulares e lineares eletronicamente e gravar os dados no coletor ou na memória interna, sem depender de outro equipamento, enquanto os teodolitos eletrônicos ou óticos só permitem efetuar as medidas angulares a medição linear é feita aí por trena, mira graduada ou distanciômetro. "Num levantamento planialtimétrico, é possível implantar a poligonal de apoio e fazer o detalhamento do terreno por irradiações só com a estação total", diz o engenheiro Takushi Narumi, da revendedora de equipamentos paulista Santiago & Cintra.

Tanta versatilidade não significa infalibilidade nas operações. Conforme explica Sérgio Manda, consultor da revendedora de equipamentos Hezolinem, de São Paulo, a inexistência de anotações em caderneta e posterior digitação de dados reduz bastante os erros. Mas como nada no mundo é perfeito, os erros ainda assim podem ocorrer, porque alguns dados como altura do prisma e altura do instrumento são inseridos manualmente na memória interna,. "A automação traz vantagens, mas não elimina o fator humano", comenta Manda.

Redução de Custos
A agilidade oferecida por uma estação total se traduz em redução de tempo e gastos operacionais. Segundo Narumi, uma construtora de porte nacional fez um estudo e descobriu que, no levantamento planialtimétrico de uma extensão de 18 km, destinada à construção de uma estrada, poderia economizar 84% só com o custo da mão de obra. Com um teodolito ótico ou eletrônico, seriam necessárias 320 horas de trabalho de um topógrafo e 1280 horas de um ajudante. Em salários seriam gastos R$ 4.611,20. Com a estação total, o tempo de coleta seria reduzido a 50 horas de trabalho do topógrafo e a 200 horas de seu ajudante. Total dos gastos: R$ 720,50.

Porém, usar a estação total sem um software que se comunique com o equipamento e processe os dados coletados é contraproducente. É a situação vivida pelo chefe da Divisão de Estudos e Projetos do Departamento de Estradas de Rodagem (PR), Viktor Baras, que tem cinco estações totais no órgão e faz os cálculos com ajuda de calculadoras e desenhos de mapas à mão. "A eficiência obtida no campo não chega à área de projetos", lamenta. Segundo ele, o custo elevado torna os softwares inacessíveis. O preço varia conforme as características do produto, mas a média de um nacional é R$ 3.000. Pode chegar a R$ 6.000, se forem adquiridos todos os módulos operacionais.

Desenvolvidos aqui no Brasil e em outros países, os softwares topográficos existentes no mercado permitem fazer várias tarefas. As mais comuns são cálculos de poligonais e de irradiações, inserções de várias poligonais num mesmo projeto, interpolação de curvas de nível, geração de Modelagem Digital do Terreno (visualização tridimensional no AutoCAD de perfil longitudinal e seções transversais do terreno) e desenhos topográficos. "Esses programas simplesmente acabam com os cálculos ponto a ponto, rascunho e desenho final a nanquim", explica Danilo dos Santos, técnico que desenvolve um software topográfico para a revendedora de equipamentos paranaense Manfra.

Aqui também a tecnologia resulta em economia. Para processar os dados levantados no exemplo da estrada, seriam necessárias 80 horas com cálculos de caderneta de campo e 500 horas de desenhista, que custariam R$ 2.021,00. Em contrapartida, o usuário tem que bancar o custo operacional do software, ou seja, assistência técnica, que custa R$ 87,80 por 10 horas.

Vendas Podem Crescer
Apesar do alto custo dos equipamentos hoje, as vendas de estações totais no Brasil devem crescer anualmente entre 30% e 50% nos próximos 5 anos. A previsão é feita por empre-sários do setor de equipamentos topográficos, que vislumbram novo ciclo de desenvolvimento no país com a iniciativa privada assumindo setores como telecomunicações, geração e fornecimento de energia elétrica e a estrutura rodoviária. O mercado brasileiro movimenta hoje cerca de R$ 12 milhões na comercialização de equipamentos automatizados.

O otimismo é explicado por uma máxima que diz que o topógrafo é o primeiro a chegar e o último a sair de uma obra. "O país precisa de obras de infra-estrutura, o que ampliará o mercado", diz o empresário Emílio Manfra. Ele aponta ainda exigência cada vez maior de qualidade nos trabalhos topográficos contratados pelo governo como motivo a mais para acreditar no crescimento do mercado. "Os contratantes impõem o uso do instrumento como critério de contratação", acrescenta. Como reflexo, profissionais da área procuram sintonia com a nova tecnologia. Para o empresário Eduardo Oliveira, um incentivo à aquisição dos equipamentos automatizados poderia acontecer com diminuição da carga tributária. Sem fabricantes nacionais, o mercado brasileiro de estações totais hoje é atendido por 4 grandes marcas mundiais – Nikon, TopCon, Wild-Leica e Zeiss – e os equipamentos chegam ao país por importação, pagando taxas alfandegárias de 20%. "Poderíamos repassar o desconto desse índice ao consumidor", diz Oliveira.

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