Democracia pela Internet
Projetos de geoprocessamento mais desenvolvidos começam a agregar novos usuários e demandas. Esses usuários podem ser internos ou externos à empresa desenvolvedora do projeto. Como em projetos de governos boa parte dos dados são públicos, devem ser colocados à disposição para consulta pela população. A empresa de informática de Belo Horizonte, Prodabel, resolveu procurar meios de dispor as informações geográficas de caráter não confidencial à disposição do público. A solução, simples e de baixo custo, configuraria um aspecto democrático e, principalmente, atenderia à realidade imediata de administrações municipais e parte da população com interesse em informações geográficas. O projeto também atingiria usuários da prefeitura.
Favela Pindura Saia, situada na região centro-sul de Belo Horizonte, imagem disponível no www.pbh.gov.br/prodabel/geo
A solução proposta não visa atender usuários com grandes necessidades de processamento geográfico, com demandas extremamente específicas e com necessidade de respostas imediatas. Para estes, melhor seria o uso de bases locais com computadores de alto poder de processamento, ou uma rede de alto desempenho com servidores equipados com software também de alto desempenho.
A solução é bastante viável para usuários fisicamente distantes, com requisitos básicos de processamento geográfico, que precisem buscar informações e trabalhar localmente gerando mapas temáticos, fazendo pesquisas geográficas básicas.
Como dar acesso amplo a informações geográficas armazenadas em meio digital, de forma simples, barata e eficiente? O pesquisador Gilberto Câmara, em tese de doutorado pelo INPE, aponta tendências:
w No final dos anos 90 surgiria uma terceira geração de GIS (bibliotecas geográficas digitais ou centros de dados geográficos), caracterizada pelo gerencia-mento de grandes bases de dados geográficos, com acesso de redes locais e remotos e interface WWW
w Os sistemas seguiriam requisitos de intero-perabilidade, para permitir o acesso por GIS diferentes
w A terceira geração de GIS poderia ser vista como o desenvolvimento de sistemas orientados para troca de informações entre uma instituição e os demais componentes da sociedade (society oriented GIS).
Seguindo estas direções, o objetivo é construir uma interface que permita a qualquer usuário da Internet ter acesso a determinadas informações geográficas em poder da Prefeitura de Belo de Horizonte.
A interface deve prover uso intuitivo para quem está acostumado a usar dados geográficos. Ou seja, deve ser fácil de usar. Como isto implica em simplicidade, a interface deve ser dirigida a atender apenas necessidades básicas de um usuário comum de geoprocessamento, como:
Responder às perguntas "O que existe aqui?" e "Onde está isto?"
Permitir pesquisas interativas sobre dados gráficos e alfanuméricos de objetos geográficos
? Criação de mapas temáticos
? Recursos de zoom
? Pesquisa de polígonos (region query)
Uma das abordagens mais usadas atualmente para acesso a informações geográficas pela Internet é a interface do tipo formulário, onde o usuário preenche informações alfanuméricas informando qual folha de mapa precisa. Outra abordagem é a que apresenta um mapa chave. O usuário pode indicar com o mouse a região de seu interesse. Em ambas, a requisição é processada pelo servidor e o usuário recebe as informações como uma imagem em formato raster, como se fosse uma foto do mapa.
Estas abordagens deixam a desejar em alguns aspectos. Podemos destacar a baixa flexibilidade para escolha da região desejada pelo usuário e a baixa interatividade na pesquisa de informações, sejam geográficas ou alfanuméricas. Para superar estas deficiências, propomos uma interface de alta interatividade, principalmente na escolha de regiões de trabalho e na manipulação de objetos geográficos.
Nas abordagens tradicionais, as respostas das pesquisas geográficas na Internet são enviadas para os browsers como imagens. Como a maioria dos GIS trabalha com dados armazenados usando representação vetorial, é preciso fazer a conversão de vetor para imagem, para que os mapas resultantes sejam enviados pela rede. Como as imagens são maiores que as representações vetoriais, isto causa uma sobrecarga da rede.
Propomos o envio de vetores pela rede e não imagens raster. Para isto, é preciso que o browser seja capaz de entender o que são estes vetores e manipulá-los (display, zoom, etc.)
Para atender aos requisitos de interatividade e envio de vetores pela rede, foi escolhida a linguagem Java como suporte ao desenvolvimento da aplicação. Java é uma linguagem orientada a objetos, projetada desde o início para ser portátil e compacta. Um mesmo programa Java pode ser executado em diversas plataformas sem necessidade de alterações.
Tendo em vista estas proposições, a interface vai trabalhar com o conceito de objetos geográficos. A arquitetura da solução é composta por dois módulos, um extrator e um manipulador de objetos geográficos. A idéia é que o manipulador receba objetos geográficos e opere sobre eles sob comando interativo do usuário. Assim, fica independente da origem dos objetos, seja ele de que banco de dados geográfico for. A tarefa de extrair os objetos fica a cargo do extrator de objetos geográficos, que pode ser alterada de acordo com a introdução de novos bancos de dados e informações. O manipulador não precisa ser alterado. Assim o usuário final tem uma interface estável, independente da fonte de dados, que também pode ser alterada, sem que ele perceba. O usuário não precisa saber de que banco de dados geográfico está vindo seus dados.
O kit para desenvolvimento da aplicação é o Java (Sun Microsystems, versão 1.0.2: Java ™ Developed by Sun Microsystems, Inc.).
Não se usa nenhum software de apoio a desenvolvimento pela sua pouca disponibilidade no início deste trabalho. O sistema operacional é o Windows 95 da Microsoft. O trabalho pode ser visto hoje por um browser habilitado para a linguagem Java como o Netscape 3.0 ou Microsoft Explorer 3.0. o endereço da página WEB é www.pbh.gov.br/geo/prodabel/geo.
Frederico Fonseca é engenheiro mecânico, tecnólogo em Processamento de Dados e mestre em Administração Pública. Participa da equipe de geoprocessamento da Prodabel, responsável pela implantação do GIS da Prefeitura de Belo Horizonte. email: fred@pbh.gov.br