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GIS no Supermercado da Informação

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por Marília Kubota e Rogerio Galindo

Detalhe do Mapa Urbano Básico de Goiânia
Grandes feiras de informática são o termômetro da febre da informatização no Brasil. Nestes eventos vê-se o que há de mais avançado em bits, bytes, softwares e todo tipo de gadget da indústria de computação nacional e internacional. A oferta de softwares e produtos GIS, entretanto, é limitada. São raras as empresas que vendem softwares ou bancos de dados geográficos digitais, como a Ambiente Informática, de São Paulo, que apresentou um desktop mapping em um megaevento informático, que recebeu 1 milhão de visitantes, ano passado.

A Ambiente vendeu 300 cópias de um software geográfico com funções simples, para técnicos de marketing e informática, interessados em mapear regiões de maior venda de seus produtos e serviços. Mas segundo a gerente da Ambiente, Sandra Mara Martins, a maioria dos usuários comuns não sabe o que um GIS pode fazer, por falta de maior divulgação na comunidade de informática.

É também o que constata Lésia Petrillo, sócia-gerente da empresa paulista de publicação de mapas didáticos, Geomapas, outra que apresenta produtos geográficos digitais em feiras de informática. "Pela especificidade, nem se encontra um software GIS em loja de produtos de informática. Muitos usuários que estão trabalhando com arquivos digitais de repente precisam de mapas para serem colocados em um computador e os pedem à nossa empresa", diz Lésia. No mesmo megaevento citado acima, a Geomapas fez demonstrações de um CD com o mapa de São Paulo, que foi um hit de vendas.

Segundo Lésia, o CD foi tão procurado (na feira e depois), que chegou a vender 5.000 cópias e esgotou a edição. O guia não tem funções GIS, apenas informações como ruas, bairros, CEPs e pontos de referências para fazer cálculos de distâncias e imprimir mapas. Para imprimir seus mapinhas, o usuário paga R$ 69 pelo CD.

Desktops mappings e CDs tipo guias eletrônicos são os mais populares entre os produtos de informação geográfica, porque o usuário vê logo a sua aplicação. Quando o uso não é imediato e visível, tende a ser encarado como esotérico. É o que acha Carlos Fernando Simm, diretor comercial da Esfera, uma softwarehouse de Curitiba, que desenvolve soluções informatizadas há 9 anos e nos últimos 2 passou a usar softwares geográficos nestas soluções. "A maior causa de desinteresse do usuário é que ele não enxerga a aplicação comercial de um GIS. É preciso que alguém mais esclarecido apareça para dizer o que se pode fazer", comenta.

A Esfera desenvolve aplicativos para o Sebrae, o grupo paranaense Inepar e o Batalhão de Polícia de Trânsito do Paraná. Para o BPTran, criou sistemas para registrar ocorrências de acidentes de trânsito e organizar melhor pessoal e material em cada eventualidade. Em breve tal sistema deve ter base cartográfica para, em tempo real, visualizar o número de acidentes em cada região e despachar equipes para lá. Deve ser possível ver do computador luzes verdes ou vermelhas, alertando sobre situações de normalidade ou emergências.

Segundo Simm, este recurso permitiria inverter o caminho tradicional da informação: seria possível partir, não da informação para o mapa referente a ela, mas do mapa para alguma espécie de informação. "Em vez de digitar o que se quer saber e esperar que isso apareça transformado em mapa, clicar em um mapa em alguma região e esperar para ver o que ele tem a dizer sobre aquele lugar", explica.

O engenheiro cartógrafo Udo Siebert, diretor da UX Informática, de Curitiba, acha o trabalho de empresas como a Esfera fundamental para a difusão dos softwares geográficos entre programadores e analistas de sistemas. O esforço da UX seria justamente juntar estes dois tipos de profissionais, para que os programas baseados em GIS não tenham falhas em nenhuma de suas pontas. "O principal problema do GIS, que faz com que ele não seja tão aproveitado quanto poderia, é a dificuldade de encontrar pessoas capacitadas a trabalhar com as duas áreas envolvidas na confecção deste tipo de produto: informática e geografia. A maioria dos profissionais de informática, que são quem desenvolve os programas, não conhece as possibilidades do georrefenciamento, ou não está habilitada a trabalhar com esta área. E, também não estão acostumados a trabalhar em um ambiente multidiscliplinar."

A UX desenvolve um sistema para a Diretoria de Apoio a Rodovias Municipais, órgão do Departamento de Estradas de Rodagem, parte de dois programas do governo do Paraná, chamados "Rotas da produção" e "Rotas da Educação". Os programas visam controlar o volume de recursos destinados à restauração e manutenção de estradas municipais com fins educacionais e agrícolas, a fim de fazer melhor distribuição de verbas públicas. No GIS (Genasys) dá pra ver as rodovias, as escolas, os pólos industriais de produção e suas interrelações. Outras informações para consulta: limites municipais, pontes, área urbana, estrada de ferro, hidrografia, outras localidades (povoados, aldeias), toponímia.

Três empresas estão desenvolvendo o sistema: a UX, que está fazendo o georreferenciamento, a Ecodata, que fez o mapeamento e a Softplan, que está fazendo o cadastro alfa. A previsão é que o sistema esteja em teste no DER em junho.


Map-it!: desktop da Ambiente

Por que GIS Não É Pop
A inserção de seminários sobre GIS em eventos de informática (como Coninfo, seção regional da Fenasoft e Infoweek, seção paranaense do mesmo evento) mostra que aos poucos os técnicos de informática estão se familiarizando com as geotecnologias. É a opinião do analista de sistemas Flávio Yuaça, coordenador de um projeto de GEO na Prefeitura de Goiânia. Para ele, um travo na disseminação dos softwares geográficos é a existência de poucos projetos de sucesso no país. "Os projetos de sucesso são poucos porque são caros, demoram a dar resultados e exigem muito técnicos de diferentes áreas para trabalhar neles", opina Yuaça.

Para se ter uma idéia, os primeiros contatos com a tecnologia em Goiânia começaram em 1991, mas o convênio entre a prefeituras e empresas de infra-estrutura para a criação de um mapa digital comum só aconteceu em 1994. O mapa digital, com 430 km2, foi feito em 2 anos, na mesma época em que se formava uma equipe para conduzir o projeto do sistema de informação geográfica. O mapa digital custou R$500 mil e está sendo integrado aos softwares geográficos (Arc/Info, Arc/View, Vision entre outros). Funções já desenvolvidas abrangem dados de escolas, postos de saúde, zoneamento, pavimentação, funções de consultas simples e localização de objetos. Em andamento, funções para apoiar o recadastramento imobiliário.

Agora é que os técnicos da equipe do sistema de informações geográficas enfrentarão o maior desafio: a difusão entre usuários que precisam de mapas para executar seu trabalho. A difusão pode ser dificultada não só pelo desconhecimento de funcionários de outros órgãos da prefeitura sobre o que são softwares geográficos, mas também pela falta de computadores e desktops para rodar os dados. A compra de material de trabalho no serviço público, como é notório, é complicada: leva de 6 meses a 1 ano para fazer um edital de licitação, publicar, fazer a seleção e dar o resultado. Para contratar técnicos também leva pelo menos 6 meses.

Por isso, Yuaça vê como tendência para democratizar o uso de softwares geográficos a aplicação em pequenos projetos, com poucas informações, funções limitadas e que usam software e hardware simplificado, com ênfase no sistema de informação e não na informação geográfica. Esse tipo de sistema poderia ser aplicado, por exemplo, para localizar restaurantes de uma rede e gerar um mapa temático mostrando o faturamento de cada um deles ou localizar linhas e pontos de ônibus, como a solução desenvolvida pelo sindicato de transporte público de Goiânia. Este tipo de realidade pode ser possível com o aprimoramento da linguagem dos softwares geográficos, segundo Yuaça. "Até alguns anos, os produtos de GIS eram estanques, específicos, bancos de dados proprietários, etc. Hoje temos produtos com bancos de dados comuns e funções de GIS que podem ser agregadas a linguagens tradicionais como Visual Basic, Delphi e C, permitindo que sistemas usuais incorporem algumas capacidades antes restritas aos GIS", acrescenta.


GUIAGIS: CD da Geomapas

Quantos são os usuários

Segundo um estudo da Fenasoft, em 1998 haveria cerca de 7,8 milhões de PCs no Brasil (ou seja, pelo menos 7,8 milhões de usuários de Informática no país). O especialista Rui Campos, que fez o estudo em 1996, acha hoje que este total pode estar superestimado, havendo de 4 a 5 milhões de PCs instalados no país. O segmento da informática é um dos que mais crescem no mundo : de 15 a 20% anuais em todos os lugares e o Brasil é um dos 10 maiores mercados (talvez o sétimo ou oitavo, estima movimentar US$15 bilhões este ano). Ainda segundo o estudo de Campos, o mercado do software no Brasil, em 1998, atingiria a marca dos 7,5 milhões de pacotes vendidos ou cerca de US$ 731 milhões.

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