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Satélites, Melhor Isca

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por Marília Kubota e Carlos Leandro Jr.

Depois de 20 anos de tentativas sem sucesso, a imagem de satélite começa a ser usada para rastrear locais de pesca no litoral brasileiro. Desde 1996 a Quaker do Brasil, empresa com cerca de 35% do mercado de enlatados de atum, e a Oceansat, especializada em pesquisa ambiental, têm usado satélites para saber onde os barcos pesqueiros podem obter maior volume de captura. A Quaker, que tem uma fábrica em Itajaí (SC), tinha interesse em aumentar a frota pesqueira, então estagnada, e incrementar a produção de atum. A produção brasileira em 1996 foi de 20.000 t por ano, bem abaixo das 700.000 t anuais do Japão, principal produtor mundial.

No Brasil a pesca de atum é feita com vara e isca-viva (sardinha) porque o bonito, a espécie brasileira mais produtiva, vive em águas mais profundas, a 50 m da superfície, em temperaturas entre 25 e 27 graus. A pesca com rede, que obtém maior índice de captura, é inviável neste nível de profundidade os peixes acabam escapando das redes por baixo do cerco. A Quaker criou um projeto para aumentar a produção brasileira, em que cerca de 80% seria investido em imagens de satélite, para que os barcos chegassem aos locais de pesca em menor tempo, obtendo maior índice de captura.

Segundo o gerente Edison Beltrão, a empresa tinha técnicos, mas não equipamentos para o trabalho. Na época, o oceanógrafo Leandro da Silva, após estudos no Chile (dos países que mais investe em tecnologia na pesca), criou o projeto SatPeixe e o apresentou à Quaker. A partir daí os peixes começaram a ser capturados lá de cima. O SatPeixe usa imagens do satélite National Oceanic Atmospheric and Administration (NOAA) para obter informações sobre temperatura e ajudar barcos pesqueiros a atingir com mais precisão áreas propícias à pesca de atum. Os satélites, mais especificamente, devem localizar cardumes de bonito-listrado (Katsuwonus pelamis), em regiões costeiras e oceânicas do sul e sudeste do Brasil. "As imagens de satélites devem mostrar superfícies marinhas de temperatura em que vivem os atuns", explica o oceanógrafo Leandro.

Parte das operações são feitas em São José dos Campos, onde as imagens transmitidas pelo sensor Advanced Very High Resolution Radiometer (AVHRR/NOAA), são gravadas na estação de recepção Smartech no modo High Resolution Picture Transmission – HRPT na sede da Oceansat. Estas imagens passam por uma série de calibrações e processamentos antes de transformarem-se em Cartas de Temperatura da Superfície do Mar (TSM), são interpretadas e enviadas para a sede do Sindicato da Indústria de Pesca de Itajaí (Sindipi).

Em Itajaí, as cartas TSM são transformadas em cartas de pesca e transmitidas com um boletim oceanográfico para as empresas participantes do projeto. Os resultados até agora têm sido tão bons que os pescadores, a princípio desconfiados da tecnologia, pedem para ter uma carta de pesca na mão. Os dias de captura caíram de 3 para 1, ou seja, sem os satélites, os pescadores passavam 3 dias no mar até achar o local do pesqueiro, agora passam 1. Em 1996 a produção de atum cresceu quase 60 % em comparação ao ano anterior. Estes números fizeram a Quaker continuar investindo, nestes 3 anos, cerca de R$ 160.000 no SatPeixe, segundo o gerente Edison Beltrão. "A idéia inicial é que a Quaker pagasse 50% do projeto e o restante fosse rateado entre os pescadores", explica. No início a empresa teve que bancar todo o investimento. "Só agora a maioria se convenceu da importância da tecnologia e alguns estão pagando a sua parte", diz Beltrão. O projeto teve tanto êxito que a Oceansat está construindo um sistema de informações geográficas aplicado à pesca do atum, com o software Spring, do Inpe.

O sistema de informações geográficas deve conter imagens de satélite (668 até março), cartas náuticas, dados de planilhas de bordo coletados pelos barcos e estatísticas de pesca de instituições de pesquisa como o Cepsul do Ibama, além de dados ambientais como temperatura subsuperficial, salinidade, oxigênio dissolvido, propriedades óticas da água, nutrientes e correntes oceânicas. "Em ambiente de sistema de informações geográficas, dados como estatísticas de pesca, totais de capturas, esforços de pesca, locais de maiores capturas por época do ano podem ser melhor analisados conjuntamente", comenta Leandro da Silva. A previsão é que em agosto este banco de dados possa responder questões como qual a área em que se fez capturas acima de 10 t nos últimos 3 anos ou qual a temperatura e profundidade em cada pesqueiro, ou ainda fazer projeções para 5 anos, estimando se a safra seria boa ou não.

Uma das vantagens do uso do sistema de informações geográficas seria fazer simulações em dias nublados, quando não se pode obter imagens de satélites. A última imagem do banco de dados pode ser resgatada do arquivo e, com interpolações, fornecer posições de possíveis locais de pesca .

"Com as imagens, mapas, dados batimétricos, oceanográficos e meteorológicos históricos e mecanismos para combinar as várias informações por algoritmos, o usuário terá um ambiente interativo para visualizar, manipular e editar imagens e dados cartográficos. Terá acesso a um banco de dados para arquivar e recuperar dados espaciais e seus atributos e ainda disporá de ferramenta para criar novas aplicações, diz o oceanógrafo Milton Kampel, consultor técnico da Oceansat .

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