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GIS para prefeituras

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Visualizador de mapas digitais

por Flavio Yuaça

O projeto GIS para uma prefeitura é complexo, de longo prazo e envolve uma quantidade enorme de dados. Acrescente-se a este conjunto pouco atrativo de características o fato de que ainda temos poucas experiências de sucesso em prefeituras no Brasil. Boa parte dos projetos estão na fase de aquisição de dados e de georreferência de cadastros. À medida em que estes bancos de dados espaciais e alfanuméricos vão ficando prontos, fica cada vez mais evidente a necessidade de se responder a algumas dúvidas: O que vamos fazer com estes dados? Que produtos o GIS vai gerar?.

É provável que a equipe que conduz o projeto já tenha respondido a estas e a outras perguntas através de inúmeros levantamentos junto aos potenciais usuários, que tenha modelado não só os dados que estão sendo convertidos mas também as funções que atuarão sobre estes dados (modelo funcional) e que já esteja desenvolvendo as primeiras funções do novo sistema.

Neste cenário, uma proposta é providenciar o quanto antes um visualizador de mapas e cadastros georreferenciados. Simples, despretensioso, limitado em funcionalidade, voltado para o usuário não especializado, mas que possa ser distribuído de forma rápida e em larga escala. Na prática, este visualizador permite que os dados comecem a ser usados imediatamente, auxiliando na divulgação da tecnologia e preparando os usuários para usar futuramente um GIS poderoso.
Supre ainda uma das necessidades mais primitivas de qualquer usuário de GIS urbano, que é a consulta aos lotes, bairros, ruas e outras feições da cidade, sem nenhum tipo de análise espacial mais sofisticada. Além disso, como nem sempre as funções do GIS ficam prontas no prazo previsto este visualizador ajuda a manter o mapa em uso e atende, mesmo que de forma precária, algumas necessidades dos usuários. Um mapa que não é usado provavelmente não será atualizado nem terá pessoas identificando erros e solicitando sua correção – tarefas fundamentais para manter o mapa vivo. Não é incomum descobrir, à medida em que os programas vão ficando prontos, que o mapa está comprometido pela desatualização e pela quantidade de erros ainda por corrigir.

Características do visualizador
Não existe uma lista padrão de características para este aplicativo de visualização de mapas. Alguns têm usado softwares CAD ou desktop GIS mais simples (e baratos) enquanto outros têm desenvolvido seus próprios programas. Considerando que o objetivo principal é permitir acesso aos mapas digitais a um grande número de usuários não especializados, é interessante observar alguns aspectos:


Exemplo de um visualisador simples para mapas digitais

Preço e distribuição – Um primeiro aspecto, não técnico, é: quanto custa cada cópia? Se for um software comprado, é provável que os valores envolvidos desestimulem a prefeitura a fazer uma distribuição em larga escala a todos os interessados. Uma opção é desenvolver o próprio software – veja, estamos falando de um visualizador simples e não de um GIS completo – ou negociar com o fornecedor licença única para toda a prefeitura, sem limite de usuários. Aquelas prefeituras que decidirem distribuir o visualizador para o público em geral devem evitar fazê-lo nas primeiras versões: a opção por distribuir primeiramente a alguns departamentos internos ajudará a eliminar erros mais grosseiros, tornando o produto mais estável e confiável. Ajudará também a quantificar as necessidades de suporte e treinamento.

Stand alone – Enquanto o GIS corporativo usa bases de dados corporativas, on-line, o visualizador deve funcionar sem necessidade de redes e gerenciadores de bancos de dados. Deve ser do tipo instalar e usar, mantendo os dados no disco local ou mesmo no próprio CD de instalação. Isto permite que mesmo em um posto de saúde distante e sem linha telefônica, por exemplo, seja possível usar o mapa no microcomputador.

Publicação de dados através de versões – Como os dados estão no próprio microcomputador, é preciso atualizá-los periodicamente. Isto pode ser feito através da publicação de uma nova versão. Os usuários cadastrados recebem periodicamente um CD contendo a versão atualizada. Uma periodicidade de 3 ou 4 meses está muito bem para a maior parte dos usuários de mapas em papel, acostumados a passar muito mais tempo sem receber documentos atualizados.

Plataforma de hardware e software – A maioria dos computadores instalados hoje é baseada em padrão Intel e Windows. O visualizador tem que rodar pelo menos neste ambiente. Como plataforma básica é razoável pensar em um Pentium com 16mb de RAM e Windows 95. Produtos mais recentes e mesmo últimas versões das linguagens de desenvolvimento exigem plataformas como essa.
Integração com outros produtos – Uma necessidade básica de quem usa mapas é poder fazer pequenas edições: inserir textos, colorir um lote, ressaltar um trajeto. Para isso é importante que o visualizador seja capaz de exportar o mapa para outros softwares. Se for possível exportar mapas que possam sofrer pequenas edições em Word ou PowerPoint, por exemplo, a tarefa de preparar esses mapas ficará bastante simples. Para aumentar a funcionalidade, o mapa deve ser exportado em formato que permita edição vetorial e preserve a identidade de cada objeto. O padrão Windows Metafile possui essas características. É claro que existem necessidades – a maioria, talvez – que este tipo de software não consegue atender. Estamos tentando ajudar, como já foi dito, uma grande quantidade de usuários não especializados. O usuário especializado deverá aguardar o GIS e receber treinamento adequado para operar produtos mais poderosos e complexos.

Funções básicas – dentre as funções que um visualizador de mapas deve ter estão:
zoom in e out, para diminuir e aumentar a escala. Um botão que altere a escala para permitir que a cidade inteira seja visualizada também é muito útil. Outro conforto adicional é mostrar ao usuário qual a escala atual e permitir que ele forneça a escala desejada – o visualizador ajusta o nível de zoom para a escala fornecida.
impressão – pelo menos a capacidade de enviar para a impressora o que se vê na tela. Um recurso útil associado à impressão é a possibilidade de se eliminar o preenchimento dos polígonos, deixando somente as bordas. Exceto em casos como o de mapas temáticos, o preechimento (que permite uma boa estética no vídeo) pode ser eliminado, permitindo impressões mais legíveis. Considere também que na maioria dos casos a intenção é gerar uma impressão que está mais para rascunho do que para produto cartográfico completo, com títulos, legendas e referências.
movimento do mapa – uma formas das mais intuitivas é o uso das barras de rolamento do Windows e o recurso de arrastar e soltar.
medição de distâncias e áreas sobre o mapa.
localização de objetos – localização de bairro, rua, rua e número, rua e quadra, esquina entre duas ruas, pontos de interesse público (shoppings, aeroportos, rodoviárias) e outros componentes do mapa a partir de seu nome. É muito útil a pesquisa a partir de parte do nome: se o usuário sabe que o nome da rua que deseja localizar contém a palavra Santana, o sistema deve mostrar a lista de todas as ruas que tenham esta palavra e permitir que o usuário aponte a desejada.
consulta aos atributos – ao clicar sobre um objeto qualquer do mapa – lote, bairro, rua – os dados alfanuméricos associados devem ser mostrados. Na ausência de cadastro mais completo, mostrar pelo menos o nome do objeto já é bastante útil.
edição de características do mapa – permitir, por exemplo, que o usuário escolha cor dos lotes, espessura do traço dos meios-fios ou símbolo a ser usado para representar escolas.
permitir que o usuário escolha o que deseja ver. Pode-se querer ver quadras sem lotes ou bairros mas não nomes de bairros. Além disso, o visualizador deve ser capaz de mostrar ou deixar de mostrar uma camada ou texto de acordo com a escala: números dos lotes, por exemplo, não são mais que um borrão em escalas muito pequenas. Neste caso o visualizador decide não mostrar os textos de lotes.
geração de mapas temáticos – talvez esta função esteja fora do escopo de um visualizador simples de mapas. Entretanto, se os bancos de dados estiverem recheados de detalhes, vale a pena tentar implementar alguma coisa neste sentido.


Mapa com pequenas edições feitas no Microsoft Word: inserção de balão com texto, alteração de textos, movimento de polígono (lote 6), alteração de cor (lote 8) e alteração de formato (lote 10)

Dados – o visualizador, pelo menos nas primeiras versões, deve atender de forma genérica a uma grande quantidade de usuários. E deve ser simples. Evite colocar todos os dados possíveis. Tente selecionar aqueles que serão úteis para a maioria. Lotes, quadras, bairros, ruas, pontos notáveis ou de interesse público com certeza fazem parte deste grupo. Esta lista pode ir crescendo aos poucos, de acordo com o perfil dos usuários. Eventualmente, podem ser geradas versões específicas para algum segmento: saúde, educação, finanças. Mas nunca perca de vista a simplicidade. Funções poderosas e abundância de dados farão parte do Grande Projeto de GIS.

Treinamento e suporte – como o software será distribuído para muitas pessoas – provavelmente todos os usuários de mapas da prefeitura, além de curiosos em geral – dedique um esforço adicional para escrever manuais de auto instrução e para construir telas de ajuda. Considere, pelo menos no início, promover cursos de curta duração (1-2 horas) e ter uma linha telefônica para tirar dúvidas.
Conclusão
Esta abordagem torna os mapas mais úteis e permite que sejam usados mais rapidamente. Mas cuidado: resista à tentação de implementar cada vez mais funções e dados. Não deixe que um simples visualizador de mapas ofusque o potencial dos dados e a enorme capacidade de análise do GIS. Um nasceu para ser pequeno, simples e para ser distribuído em larga escala. O outro é complexo, caro, de construção mais demorada e incrivelmente mais poderoso. Há espaço para ambos.

E, finalmente, sonhar não é proibido: teremos dado um grande passo rumo ao desenvolvimento do GIS em prefeituras brasileiras se pudermos adotar um visualizador padrão. Antes mesmo que as bases de dados da prefeitura começassem a ser desenvolvidas já existiria um software para visualizá-las. Se o software fosse utilizado por um grande número de prefeituras, não seria difícil convencermos os fornecedores de softwares GIS e CAD a criar conversores de e para o visualizador. Outra vantagem é que alguns erros mais comuns de modelagem e de conversão bem como de georreferenciamento (ligação da parte espacial com a alfanumérica) seriam mais rapidamente identificados, provavelmente já na conversão para o visualizador. O Brasil passaria a contar também, ainda que de forma precária, com um modelo padrão para mapas urbanos: cada prefeitura poderia ter o seu próprio modelo, implementado em softwares diversos, mas todas atenderiam, no mínimo, ao padrão do visualizador.


Tela de localização de objetos


Mapa exportado do visualisador para o Microsoft Word, antes da edição.

Flávio Yuaça é analista de sistemas e especialista em geoprocessamento formado pela Universidade Federal do Paraná. Chefia o Departamento de geoprocessamento da Comdata e é coordenador técnico do projeto de geoprocessamento da Prefeitura de Goiânia. email:yuaca@comdata.rgi.br

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