A tecnologia e suas aplicações na agricultura
Ortofotocartas coloridas auxiliam a detecção de áreas com falhas de plantio indicando futuras perdas na colheita de culturas como café, milho e soja.
Colaboração Rubens ("Papa")
Laboratorista da Engefoto
Uma planta fazendo fotossíntese absorve maiores quantidades de luz azul e vermelha. A porção verde, menos absorvida e portanto mais refletida, acaba dando a cor à maioria dos vegetais saudáveis. Caso haja deficiência hídrica, doenças, deficiência nutricional do solo ou outros problemas ambientais, as plantas vão ter uma atividade fotossintética menor e a luz solar visível será mais refletida do que absorvida. Pode-se afirmar então que a quantidade de luz visível absorvida pelas plantas tem relação direta com sua atividade fotossintética e com o seu próprio desenvolvimento.
Imagens de satélite são utilizadas na identificação, mapeando e monitorando diversas culturas
Técnicas de sensoriamento remoto são usadas para identificar problemas em culturas. Uma imagem feita por satélites ou câmeras aéreas apresentará padrões diferenciados para áreas saudáveis ou com problemas (áreas que reflitam ou absorvam a luz de diferentes partes do espectro), possibilitando a detecção de anomalias e permitindo aos agricultores tomar as medidas necessárias para aumentar a produção. Além disso, proporcionam o direcionamento dos esforços e aplicações de defensivos agrícolas em regiões específicas, reduzindo custos e impactos ambientais.
Com a quantidade de produtos de sensoriamento remoto disponíveis atualmente, envolvendo imagens de diversos satélites (sistemas ópticos e radares) e fotografias aéreas em várias escalas, o monitoramento e previsão da produção de culturas agrícolas é uma realidade. Juntamente com o sensoriamento remoto, outras tecnologias tais como GPS e sistemas de informações geográficas, integrados a bancos de dados, permitem que produtores, cooperativas e profissionais ligados a agribusiness possam gerenciar informações agrícolas com muito mais eficiência.
Dentre outras aplicações do sensoriamento remoto relacionadas ao setor agrícola podem-se citar as atividades de levantamento de solos, avaliação da aptidão agrícola de terras, levantamento da capacidade de uso do solo, zoneamentos e mapeamentos de naturezas diversas.
Ortofotocarta utilizada para monitoramento da cultura do fumo no Estado do Paraná.
Sensoriamento remoto no setor agrícola nacional
Nunca se teve tanto recurso, abundância de técnicas e produtos de sensoriamento remoto aplicáveis à agricultura. No entanto, muito pouco se tem feito no sentido de aproximar o produtor rural da tecnologia.
Já conhecemos de longa data a dificuldade de introduzir uma nova tecnologia em um sistema agrícola tradicional, onde predominam as técnicas de cultivo e manejo que passam de pai para filho. Por outro lado, os profissionais ligados à extensão rural, na sua maioria engenheiros agrônomos, muitas vezes não estão devidamente preparados. Desconhecem o potencial da tecnologia, não dão a importância necessária ao tema e tampouco se esforçam para divulgar e utilizar o sensoriamento remoto junto à comunidade agrícola.
O mesmo ocorre com as empresas que prestam consultoria em planejamento agrícola. Dá para contar nos dedos as que já acordaram para a era tecnológica e que usam as ferramentas de imageamento disponíveis.
Um exemplo do descaso com a tecnologia é o setor das cooperativas. Existem no Brasil quase 1.500 cooperativas que atuam na produção, beneficiamento e comercialização agrícola, totalizando cerca de um milhão de cooperados. O uso de uma técnica por estas cooperativas poderia difundi-la por todo o Brasil rapidamente. No entanto, raras são as que utilizam sensoriamento remoto como fonte de informação para dar suporte aos processos de tomada de decisão. Ainda hoje, na maioria dos casos a distribuição espacial das terras de seus cooperados está na cabeça de alguns técnicos.
Agricultura de precisão
E a Agricultura de Precisão, vedete do momento nas feiras agrícolas do País? Na última semana de abril, em Ribeirão Preto (SP), tive a oportunidade de estar presente na AGRISHOW 99, considerada atualmente uma das maiores feiras de equipamentos e tecnologias agrícolas no Brasil. Colheitadeiras equipadas com antenas GPS e sensores para monitoramento de produção; tratores equipados com antenas GPS e equipamentos para plantio de grãos e aplicação localizada de fertilizantes; aplicadores de defensivos agrícolas de forma seletiva; coletores automatizados de amostras de solos guiados por sistema GPS; utilização de sensores eletrônicos para coletar dados sobre propriedades do solo…
A tecnologia que vem revolucionando o setor agrícola norte-americano nos últimos anos está chegando ao Brasil. Porém deve-se lembrar que nos EUA existe mapeamento sistemático de quase todo território em escalas que se aproximam a 1:10.000. A maioria das propriedades possui uma base cartográfica digital contendo as divisas de talhões ou parcelas georreferenciadas em sistemas de informações geográficas. Nestes sistemas são inseridos os dados obtidos no campo, onde são tratados, compilados, analisados, interpretados e finalmente apresentados em forma de mapas e relatórios.
Como funcionará no Brasil, onde o mapeamento sistemático nas escalas 1:100.000, 1:50.000 e 1:25.000 está engatinhando e são raras as propriedades agrícolas detentoras de uma base digital precisa?
Bases digitais em sistemas de informações geográficas e sensoriamento remoto devem ser o ponto de partida e fazer parte integrante de todo programa de agricultura de precisão. Só assim a tecnologia poderá ser aplicada plenamente criando condições para obtenção de resultados satisfatórios financeiramente.
Dirley Schmidlin é engenheiro agrônomo, mestre em Interpretação de Imagens e Cartografia de Solos pela UFPR, responsável pelo Sensoriamento Remoto Orbital na Engefoto Engenharia e Aerolevantamentos S.A. (PR). email:engefoto@sul.com.br