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O Mutirão Digital

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Os cidadãos podem ajudar e muito na coleta de dados. Precisamos de soluções criativas para problemas que custam caro para solucionar

A coleta de dados é geralmente uma das partes mais caras de um projeto de geoprocessamento. Precisão, atualização e quantidade, por exemplo, estão entre os problemas mais comuns de alguém que quer manter um sistema de informações em funcionamento. A nossa pergunta de hoje é como seria possível manter atualizadas bases de dados geográficos de maneira barata e confiável?

Alguns pontos do nosso mundo moderno podem nos ajudar a procurar a resposta para esta pergunta. Os recursos tecnológicos têm aumentado cada vez mais. GPS estão cada vez mais baratos e comuns. A educação e sensibilidade para questões ecológicas também têm aumentado. E não podemos deixar de mencionar a Internet.

A Internet é um acontecimento que, como já escrevi aqui antes, veio para revolucionar as nossas vidas. Ela é o retrato da nossa sociedade da informação. Nela pode-se comprar, vender, aprender, divertir e comunicar. A Internet dá oportunidade a cada cidadão do mundo eletrônico (não nos esquecendo é claro dos mais uma vez excluídos) de se expressarem, seja através de correio eletrônico (individuais ou as eternas correntes), seja através de páginas pessoais, educativas, ou de conteúdo social. A Internet é um livro aberto para idéias de diversos países em diversas línguas.

Pois então: como ligar a Internet à coleta de dados? Bem, é isto que tem sido feito aqui nos Estados Unidos num projeto que tem sido chamado de "Ciência do Cidadão". Observadores da natureza, de pássaros para ser mais específico, têm sido recrutados por cientistas para "ficar de olho" no que acontece com os pássaros no quintal de cada um. Então agora o observador de pássaros amador, além da cadernetinha de campo e do binóculo, precisa também de um computador pessoal. Ligado a Internet, é claro. Porque o fator motivador é o fato de cada um poder doar um pouco para o projeto. Os dados são enviados pela Internet e também os resultados podem ser consultados. Uma das mais importantes iniciativas é da Audubon Society. A página em inglês convida as pessoas a se associarem ao programa "Ciência do Cidadão". O endereço é
www.audubon.org/bird/watch/help.html

Esta idéia tem um grande potencial, principalmente para países pobres mas altamente criativos como o Brasil. Outro dia o Gilberto Câmara sugeriu aqui na revista a criação do Napster para dados geográficos. Um lugar virtual onde usuários que queiram compartilhar dados geográficos possam se encontrar. Nós precisamos criar também nossa versão do Ciência do Cidadão, o nosso Mutirão Digital.

Esta coluna acabou sendo uma continuação de minha última coluna, as formigas eletrônicas. Enquanto na coluna passada as formigas estavam nas entranhas eletrônicas da grande rede, as formigas da coluna de hoje estão do lado de fora da rede embora conectadas a ela. As pessoas, os cidadãos podem ajudar e muito na coleta de dados. A gente aprendeu na escola que se o usuário não está comprometido com o sistema, os dados que ele vai introduzir nele não são confiáveis e o resultado já se sabe qual é; é uma equação matemática – lixo que entra é lixo que sai. Esta é uma questão importante no nosso mutirão digital. Como controlar a qualidade dos dados? Para isto temos duas respostas. Primeiro, o comprometimento do cidadão com o sistema, a sua vontade de participar informando e sendo informado. Segundo, através de métodos estatísticos estes dados podem ser tratados e as aberrações eliminadas.

O mutirão digital é a cara do Brasil. Nós precisamos de soluções criativas para problemas que custam caro para solucionar. Precisamos também acreditar na participação do cidadão na sociedade da informação. O cidadão está em ambos os lados da equação, informando e sendo informado. A Internet bem usada é uma arma a favor da democratização da informação. A Infovia é uma rua de mão e contramão.

Os excluídos do Mundo Digital

Um acontecimento paralelo à democracia que a Internet traz (pelo menos em potencial) é a exclusão dos menos privilegiados. O acesso à Internet (ou a falta dele) propaga um modelo de exclusão, já que o acesso custa dinheiro não só em equipamentos mas também a conexão é cara. Embora diversas bibliotecas públicas venham procurando democratizar o acesso à Internet através de máquinas públicas, isto ainda é uma gota dágua no oceano. O acesso a Internet em escolas públicas é outra alternativa que tem sido explorada. Uma outra opção que tem sido tentada para dar acesso ao cidadão é através de associações comunitárias. Um exemplo é a Prefeitura de Belo Horizonte, com o programa Internet Popular (www.pbh.gov.br, link Internet Popular). Através deste programa o provedor de acesso à Internet da PBH é cedido gratuitamente para as entidades do movimento popular e da sociedade civil que em geral não estão interligadas à rede mundial. Na página está um exemplo dos serviços que podem ser prestados pela Internet. No link para saber mais existem apontadores para projetos semelhantes em Curitiba (http://www.curitiba.pr.gov.br, menu "digitando o futuro") e Porto Alegre. Veja também na página da Revista Informática Publica (http://www.ip.pbh.gov.br/) o artigo "Internet Popular e Democracia nas Cidades" do professor José Eisenberg. Neste artigo Eisenberg analisa quais são as principais alternativas para o poder público democratizar a vida pública das sociedades modernas.
Esta questão está sendo cada vez mais discutida. Aqui nos Estados Unidos ela é chamada de "Digital Divide", a barreira que separa os ricos e os mais preparados dos que não têm acesso à educação e às maravilhas da sociedade moderna e ficam, portanto, excluídos do compartilhamento de uma das maiores riquezas de nossa época: a informação.

Frederico Fonseca é doutor em Ciência da Informação Espacial pela Universidade do Maine e atualmente é professor na Escola da Ciência da Informação e Tecnologia da Penn State University nos Estados Unidos. Email: fredfonseca@ist.psu.edu

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