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Eu voltei ao passado

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Fred Fonseca diz como navegar pela nova e antiga Belo Horizonte através de site com fotos e mapas

Hoje estava navegando no Infostrata (www.belohorizonte.com.br), antigo VistaAérea, procurando uma imagem da minha rua, do lugar onde eu morei por muitos anos, em Belo Horizonte. O que eu queria era uma foto para pendurar na parede do meu escritório para me lembrar de Belo Horizonte. Morando fora do Brasil há quatro anos, a saudade tem aumentado cada vez mais. Principalmente de Belo Horizonte, onde nasci e vivi a minha vida toda.

Eu escrevi aqui na coluna, há um ano, sobre este mesmo VistaAérea e sobre Belo Horizonte. Naquela ocasião falei sobre as mudanças da cidade e como a gente podia ver na foto o imenso buraco feito pela extração do minério de ferro na Serra do Curral. Lembrei, então, Drummond e seu famoso poema sobre Belo Horizonte.

Hoje, porém, o espírito é outro, mais alegre, embora fale de recordações, e use o mesmo título da música interpretada por Roberto Carlos. Eu sempre me lembro de músicas e as relaciono com fatos. Quando iniciei a navegação no Infostrata, foi isto que fiz, eu comecei a voltar ao passado. A canção é de Mauro Motta e Eduardo Ribeiro, e eu acredito que a letra possa ser entendida (pelo menos na minha interpretação) como a relação que tenho com minha querida Belo Horizonte. Mas como cheguei a esta divagação sobre o passado e Belo Horizonte?

Bem, é que o Infostrata está com uma opção de mostrar fotos antigas de Belo Horizonte, pertencentes ao acervo do Museu Histórico Abílio Barreto, da Prefeitura Municipal. As imagens disponíveis são fotos aéreas da cidade, de 1953, 1967, 1972, 1989, 1994, e 1999, e um mapa projetado em 1942.
Depois de navegar um pouco, eu encontrei minha casa, ou melhor a casa de meu pai, onde eu vivi tantos anos. O endereço é na rua Contría, no bairro Alto Barroca. Foi só então que percebi que o Infostrata oferecia a opção de navegar no passado! E é claro que eu queria viajar no passado. Comecei a clicar nos anos e as fotos foram aparecendo. Esta opção de navegação está simplesmente ótima. Você apenas clica no ano que você quer e o Infostrata mostra a foto da mesma região em que você estava antes. Funciona bem, e rápido. É fácil de usar e, devo dizer, emocionante! Aqui na coluna eu gosto sempre de mostrar como a tecnologia, embora fria e impessoal, usada como uma ferramenta de apoio, nos ajuda a reforçar nossos valores mais básicos. Seja na preservação, seja na reprodução da cultura humana. Mas deixa agora eu falar desta minha viagem ao passado.


Telas do site Infostrata

Eu tenho as melhores recordações do meu bairro. A Barroca, assim como Belo Horizonte, cresceu e mudou muito nestes últimos quarenta anos. Uma das minhas melhores lembranças é o passeio com meu pai aos domingos pela manhã. A gente subia as ladeiras da Barroca e ficava olhando os morros ao longe. Nós fomos uns dos primeiros moradores do bairro, e apenas um ou dois quarteirões em volta da nossa casa eram pavimentados. As ruas acabavam em despenhadeiros e a gente ficava olhando o mundo lá em baixo. Bem, foram estas manhãs com meu pai que eu fui procurar no Infostrata, e estava tudo lá. As fotos de 1967 mostram o bairro ainda por fazer. Eu voltei mais ainda, em 1953 (eu não era nascido ainda), para ter uma idéia de como era antes, ou imaginar como foi a evolução de 53 a 67. As fotos de 1953 me lembram outro poeta, Jorge Luiz Borges, que falando sobre recordações e sobre seu avô, escreveu: "Vuelvo a Junín, donde no estuve nunca".

Mas eu continuei minha viagem. Outra recordação, nos meus olhos de menino, foi o que hoje é uma grande avenida, a Silva Lobo. No meus tempos de criança, este era um dos pontos de referência da garotada: era o "corguinho" (de córrego, corregozinho). Este era o ponto mais distante que eu podia ir. Lembro-me bem de descer a rua Catete e chegar até as arvores lá em baixo no final da rua, onde a gente avistava aquele curso miúdo de água. Pois lá estava a foto, com as árvores e o "corguinho". Segundo o Marco Antonio Silva, da Prodabel, o nome do córrego é Córrego das Piteiras, que ia desaguar no Rio Arrudas.

O progresso canalizou o córrego. Teria também pavimentado as minhas recordações? Não. A tecnologia ajudou a preservar as imagens de Belo Horizonte e me ajudou a voltar ao passado.

Frederico Fonseca – é doutor em Ciência da Informação Espacial pela Universidade do Maine e atualmente é professor na Escola da Ciência da Informação e Tecnologia da Penn State University nos Estados Unidos fredfonseca@ist.psu.edu

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