O que se deve considerar na composição de custos de serviços de Agrimensura e Cartografia
No ambiente profissional freqüentemente nos deparamos com a questão de como definir com clareza os custos do nosso serviço. Definir os custos de serviços como aqueles realizados em levantamentos topográficos e geodésicos, apesar das aparências, não é muito fácil. Se praticarmos preços incorretos, correremos o risco de ter a falsa noção de lucro, quando na realidade estamos caminhando para a obsolescência tecnológica, a perda de competitividade, a incapacidade de sobreviver às oscilações do mercado e assim por diante, até que a empresa não mais possa se sustentar ou até que aquele profissional liberal caia em si e perceba de repente que trabalhou um longo período da vida e não possui nada além de um carro velho, um equipamento ultrapassado que vale pouco, um baixo padrão de vida e portanto sem estímulo; e ainda por cima, pode estar sendo suplantado por outro profissional que acabou de investir em uma tecnologia mais nova. Este último corre o risco de cair na mesma armadilha do primeiro; maravilhado pelas facilidades de produção dos novos equipamentos e desatento ao que o cerca, acaba pensando que o custo do seu trabalho será coberto unicamente pela sua capacidade de produzir mais rapidamente e com menor esforço físico. Certos equipamentos causam tal sensação que se deixa de praticar inclusive as estratégias de controle de propagação de erros de medidas.
É certo também que qualquer serviço que envolva tal proporção de trabalhos executados em campo aberto deve considerar um maior grau de ocorrências imprevisíveis. Saber avaliá-los com a devida clareza é uma questão importante. Aquelas próprias aos levantamentos de campo são afetadas por diversos fatores, que poderão ou não ocorrer de forma independente ou simultânea. São exemplos destes fatores: intempéries, deslocamentos constantes de pessoas e equipamentos frágeis por terrenos diversos, condições distintas em cada estação, bem como a questão da segurança, que se traduzem em considerável risco. Este último um fator que vem tomando proporções maiores, principalmente em grandes cidades a ponto de haver necessidade de segurança armada junto às equipes de campo. O roubo de equipamentos topográficos é de tal ordem que a maioria das seguradoras deixaram de segurar estes equipamentos.
Mas não são somente estas as variáveis da composição e custos. Para não ser pego em uma auto armadilha é necessário avaliar bem os custos que são próprios a cada serviço que se propõe realizar. Existe a necessidade de considerar o valor do capital humano que foi investido e que deverá continuar a sê-lo. Aquele que sai hoje de uma faculdade, em poucos anos terá um grau elevado de defasagem no seu conhecimento; torna-se necessária a atualização permanente, e consequentemente o re-investimento em conhecimento para continuar a carreira. Este é um primeiro aspecto a ser considerado na composição de custos.
Entretanto, outros aspectos mais abrangentes devem ser considerados. Um deles é o custo de propriedade e manutenção dos bens necessários à execução dos serviços. Tome-se por exemplo um computador e os programas mínimos para que se possa usá-lo em um escritório. Por quanto tempo você poderá usar o seu computador atual e ainda ser competitivo E o seus programas? Você ainda usa um pentium 100 MHz. com windows 95? Estes bens têm alto fator de obsolescência devendo-se considerar índices da ordem de 20% ao ano. Para cada R$ 100,00 investidos nele, você perde R$ 20 no ano seguinte para repor por um novo.
Também o custo de propriedade e manutenção dos veículos devem ser considerados, principalmente aqueles usados no trabalho de campo. Há maior desgaste, maior probabilidade de acidentes, um pneu rasgado, uma pequena batida, uma pedra ou buraco são suficientes para causar prejuízo. São fatores imprevisíveis no tempo e no espaço; a única certeza sobre eles, é que ocorrem. A somatória deles é traduzida em custo, se você não se importar com o amassado agora, lembrará dele na hora em que tiver que vender o carro para amortizar o custo de um novo, ou semi novo, que poderá diminuir o seu atual custo com manutenção, permitir melhor produção, etc.
Da mesma forma deve-se atentar também para o custo de propriedade dos equipamentos de topografia e geodésia. Por diversas razões, entre elas a questão da evolução tecnológica e custo de produção destes instrumentos, eles devem ser repostos com maior freqüência do que, no passado, eram os tradicionais teodolitos óptico-mecânicos. Esta constante oferta de novos produtos também acarreta num menor valor de revenda. A título de exemplo preparou-se uma planilha para demonstrar o custo de propriedade de um equipamento GPS geodésico. A qual é mostrada a seguir.
Alguns dados, tal como a estimativa de dias trabalhados foram obtidos da publicação da AETESP – Associação de Empresas de Topografia do Estado de São Paulo, que mantém no seu site (www.aetesp.com.br) a sua já tradicional tabela de composição de custos para serviços de topografia, a qual constitui uma boa ferramenta para principiar um orçamento adequado. O cálculo do custo foi adaptado do Manual de Produção da Caterpilar.
Este trabalho tem ainda caráter preliminar pretendendo o autor complementá-lo e desenvolvê-lo futuramente e tornando-o mais adequado.
A planilha ainda é preliminar, fruto da curiosidade e de uma rápida pesquisa, mas possibilita dar uma razoável noção do custo diário. Dados como, por exemplo, o valor residual de reposição, foram estimados considerando-se como razoável o valor de 40% do custo de um bem novo, após cinco anos de uso. Definiu-se em 5 anos o tempo de uso do equipamento, considerando-se a evolução tecnológica e um período de uso suficiente para que se possa vendê-lo, amortizando o valor de um novo. Deve ser observado que os fabricantes lançam um modelo novo pelo menos a cada 2 anos. Chama-se atenção para este item do valor de revenda do equipamento, pois ele é o fator que tem maior impacto no custo de propriedade
Pode-se verificar na tabela que o custo de propriedade de um par de equipamentos deste é de US $ 100 por dia. Se compararmos com os aluguéis praticados no mercado pelas empresas especializadas em locação, veremos que está um pouco abaixo, evidentemente, devido a manutenções, o risco e logicamente o lucro do locador. Apropriação semelhante pode ser realizada com os outros equipamentos e bens de forma a se obter uma composição de custos e um valor adequado a cada serviço.
Deve ser considerado ainda que para equipamentos como a estação total, por exemplo, deverá haver também, além de uma manutenção preventiva (limpeza, lubrificação, ajustes, etc.), a necessidade de calibração a cada dois anos, no mínimo, conforme a NBR 13133. A título de informação destacamos que a Escola Politécnica da USP cobra o equivalente a um salário mínimo para realizar a calibração do EDM e aferição do desvio padrão da medição angular, na sua base de aferição. Lembra-se que os equipamentos que operam em locais com condições extremas, tal como obras de engenharia ou lugar quente e úmido, terão maio necessidade de manutenção.
Lembra-se também que para composição de custos de levantamentos, além de uma adequada especificação técnica e conhecimento dos seus custos diretos e indiretos, é fundamental uma vistoria a região ou local onde serão realizados os levantamentos de campo. Desta forma, poder-se há melhor avaliar e precisar a influência das condições ambientais e de logística que pesam na realização desta etapa dos serviços. Em muitos casos, além dos condicionantes técnicos e ambientais, existem aqueles devido a procedimentos inerentes à atividade do cliente e que também causam impacto no desenvolvimento dos serviços, tal como por exemplo horário de trabalho, cursos, entre outros.
Pode parecer óbvio tudo o que foi exposto acima, mas a julgar pelas observações realizadas no cotidiano, poucos estão atentos para estes fatores que influenciam a composição dos serviços de Agrimensura e Cartografia, tanto por parte do consumidor quanto, até mesmo, daqueles que têm proposto produzir. Para os que contratam é bom lembrar que estes serviços também exigem fiscalização durante a execução, sendo conveniente prever também consultoria.
Para avaliar o custo devemos considerar os fatores aqui expostos, bem como outros, e sua influência nos preços. Produzir sem considerá-los propriamente ou praticar preços abaixo do custo, de forma freqüente, pode causar a impressão de que o trabalho foi bem remunerado a princípio, quando não o foi. Persistir nestas circunstâncias é um bom caminho para o fracasso a médio e longo prazos. Portanto é necessário estar consciente de seus custos, munir-se de informações confiáveis para ter poder de convencimento perante o seu cliente.
Régis Fernandes Bueno é mestre em Engenharia pela EPUSP, engenheiro agrimensor pela FEAP, professor adjunto da Unisantos e diretor da Geovector Engenharia Geomática. rfbueno@attglobal.net