ARON WEISS, um dos participantes do grupo de discussão de geografia de Portugal, divulgou um artigo sobre fotos digitais georreferenciadas. Segue abaixo a reprodução do texto.
Quando se prime o botão de disparo de uma máquina fotográfica digital, ela pode gravar muito mais do que o sorriso da tia Mariazinha ou as caretas dos pequenos. A cada foto a máquina fotográfica associa um conjunto de dados – informação como a data e a hora, a marca e o modelo da máquina, os parâmetrosda regulação e se o "flash" foi ou não usado.
Entre os 300 ou mais tipos de dados que podem ser associados a uma foto há ainda as coordenadas que podem ser fornecidas por um sistema de posicionamento global (ou GPS, na sua versão inglesa), não deixando margem a dúvidas acerca do ponto preciso da superfície do planeta onde a imagem foi colhida.
Só que a maioria das máquinas fotográficas digitais não podem ser ligadas directamente a um receptor de sinal do GPS, pelo que não podem associar automaticamente as coordenadas geográficas a cada foto que tiram.
Mas Frederik Ramm, engenheiro de "software" alemão, residente em Karlsruhe, na Alemanha,teve essa possibilidade e aproveitou-a numa viagem que fez ao Norte da Escócia, em que usou a sua máquina fotográfica digital presa ao carro e ligada a um receptor de GPS. "Pareceu-me o passo lógica seguinte a dar. E fartei-me de tirar fotos. Quando voltei para casa, peguei nessas imagens e pô-las numa página da Web sob a forma de um fotodiário de viagem geograficamente referenciado." Ora isto permite ao visitante da sua página apreciar as fotos de Ramm como que em movimento ou, então, assistir a uma espécie de sequência de imagens (um verdadeiro "slide show") como se estivesse a repetir, passo a passo, a viagem do seu autor.
Mas não foi só este engenheiro de "software" alemão que teve tal ideia. No quadro de um programa intitulado California Coastal Records Project (em cujo endereço na Web é www.californiacoastline.org são amplamente descritos os seus objectivos e a metodologia usada para o levantamento pormenorizado da linha de costa deste estado norte-americano), Kenneth e Gabrielle Adelman fizeram algo idêntico a bordo de um helicóptero: com uma máquina fotográfica digital e um receptor de GPS ligados a um computador portátil, tiraram mais de 20 mil fotos aéreas da linha de costa da Califórnia – à excepção da parte restrita devido à vizinhança da base da Força Aérea de Vandenberg, próximo de Santa Barbara.
"A ideia surgiu-nos após termos feito uma série de fotos encomendadas pelo Sierra Club", disse Kenneth. "E foi a interface entre a fotografia digital e o GPS que tornou isto em algo praticável sem grandes problemas." Quem pilotou o helicóptero foi Gabrielle Adelman e Kenneth usou, neste seu contributo para o California Coastal Records Project, uma máquina fotográfica digital Nikon D1x – um modelo de topo de gama, para profissionais (cujo custo ronda os 3500 dólares, algo como 2900 euros), e dos poucos que dispõe de ligação directa para um receptor de GPS.
Poderia, no entanto, ter usado uma máquina fotográfica digital menos cara, a Ricoh Caplio Pro G3, que dispõe de uma opção para um módulo integrado de GPS e que, tudo junto, custa à volta de 1000 dólares (cerca de 900 euros na Europa). A geo-referenciação de fotos digitais é algo que está a tornar-se cada vez mais comum, sobretudo entre cientistas e estudiosos cuja actividade tem muito a vercom o espaço e a localização precisa dos seus trabalhos de investigação – como será o caso, para além dos geógrafos e cartógrafos (evidentemente), de botânicos, zoólogos, geólogos e arqueólogos, entre outros.