No início dos anos 80, o guru do software livre, Richard M. Stallman, resumiu esse conceito seguindo quatro princípios: liberdade para executar o software para qualquer uso, liberdade de estudar o funcionamento de um programa e adaptá-lo às suas necessidades, liberdade de redistribuir cópias e liberdade de tornar as novas modificações públicas de modo que a comunidade inteira se beneficie da melhoria.
Com essa filosofia o software livre acabou surgindo como a grande salvação para ameaçar a hegemonia de programas comerciais como o Windows, o Sistema Operacional da gigante Microsoft e acabar de vez com os custos das licenças de uso e o seu monopólio.
Vinte anos depois o software livre já é uma realidade em muitas empresas, porém a migração para o sistema operacional Linux, hoje o maior representante do Software Livre, gera custos significativos também e nem sempre é a melhor solução. Os programas que operam sob o sistema operacional (SO) Linux estão melhorando cada vez mais, tornando-se mais fáceis de serem instalados e manuseados de maneira que até o usuário doméstico já pode pensar em usar no seu desktop, o Linux como sistema operacional e o OpenOffice, por exemplo, como pacote de utilitários de escritório.
A grande barreira para o uso doméstico são os drivers (programas que fazem a comunicação de um periférico com o SO) que são mais difíceis de encontrar para o software livre, pois a maioria dos equipamentos ainda só é compatível com o Windows. O SO Linux tem ganho mais espaço em aplicações com menos uso de recursos como comércio varejista, muito mais pela sua estabilidade, facilidade de migração de velhos Unix, e obviamente a economia com licença de uso.
Há muitos casos de sucesso nessa área e a tendência natural é os programas que rodam em Linux ficarem melhores, mais fáceis de serem instalados e manuseados. Na mesma linha, cada vez mais profissionais na área de TI também estão se especializando nessa área, barateando dessa forma, os serviços de suporte que atualmente são caros e escassos.
Já há inclusive, certificações nos produtos de distribuições como Red Hat e Novell e o Linux Professional Institute com cursos pelo mundo todo. Outra tendência é o SO Linux operando nos servidores com aplicações específicas, como acesso à internet, gerenciamento de e-mail, proxy e firewall. Essa é uma boa alternativa para diminuir os custos e não fazer uma migração radical.
Porém, cada caso tem que ser analisado separadamente. Assim como há casos de sucessos, há exemplos que a migração para o software livre acarretou grandes prejuízos. A mídia apresenta vários exemplos de casos de insucesso devido à migrações não planejadas ou estruturadas. Por isso é muito importante, que as empresas na hora de considerar a migração para o software livre se lembrem que, embora os desenvolvedores de software livre disponibilizem freqüentemente manuais de uso e instalação, eles não prestam nenhum tipo de suporte. Ao contrário dos softwares comerciais, que geralmente oferecem de 1 a 5 anos de suporte já incluídos no pagamento da licença de uso do software.
O que dificulta também em algumas empresas a adoção de ferramentas de código aberto é migrar soluções que já funcionavam perfeitamente em outros SOs e fazê-las funcionar no SO abertos. Até mesmo, a migração do pacote de utilitários menos técnicos com o Office da Microsoft para o código aberto OpenOffice pode ocasionar problemas, pois existem rotinas desenvolvidas para automatizar alguns serviços internos que simplesmente não respondem da mesma maneira em sistemas abertos.
Na área de Geoprocessamento, o software livre também está avançando bastante, surgindo no mercado ótimas opções de sistemas voltados para essa área. Como exemplo de servidores de mapas, temos o MapServer que é o carro chefe das aplicações de código aberto para área de Geotecnologias com inúmeros casos de sucesso pelo mundo todo, oferecendo boas soluções de SIG em um ambiente WEB e o GeoServer.
Para os desktops temos os softwares clientes Jump, Thuban, Grass GIS, Terra View e o Quantum GIS. Como bibliotecas para desenvolvimento existem o GDAL, o Proj4, JTS Topology Suíte, GEOS, TerraLib e o GeoTools e finalmente para o Bando de Dados Geográficos temos o PostgreSQL/PostGIS. O famoso SPRING do INPE é um exemplo brasileiro clássico da adoção do código livre na área de geoprocessamento.
Hoje, é possível aceitar a menor dependência dos softwares comerciais, pois, seja qual for o SO de seu computador, há boas opções de software de código aberto. E o software livre está ganhando adeptos importantes como a IBM, Oracle, HP, Sun Microsystems que estão capacitando profissionais para atender às demandas por novos produtos que rodam em SO abertos. E isso vai contribuir e muito para a evolução tecnológica dos produtos que seguirem essa linha.
O fator decisivo pela adoção do software livre ou comercial será o resultado de uma série de respostas que o interessado deve ter em mente, tais como a necessidade de suporte para desenvolvimento de seu projeto ou aplicação, a capacidade operacional deste software, a sua interface com outros programas e equipamentos, a existência de pessoal especializado, a aceitação do mercado, e principalmente recursos financeiros.
Eliana Ferreira Cascaes Correia
Tecnologia da Informação
eliana@esteio.com.br
E você, o que pensa sobre a distribuição de dados geográficos no Brasil?
Escreva para opiniao@mundogeo.com
Seu texto pode ser publicado na seção Fórum ou no portal MundoGEO.
Participe!