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Toda a sua vida dentro de um mapa 3D

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O americano Michael Jones, 46, tem uma carreira invejável. Quando trabalhava na gigante americana Silicon Graphics, nos anos 90, ele desenvolveu a tecnologia gráfica OpenGL, que inaugurou a era dos games 3D. 

Querendo mais, Jones partiu para outra: inventou um software, o Keyhole, que permitia ver todo o planeta Terra. Em 2004, esse programa foi comprado pelo Google e se transformou no popular Google Earth (earth.google.com). Agora, Michael trabalha desenvolvendo os serviços Google Earth e Google Maps (maps.google.com) – que já ganharam até uma versão com imagens do solo marciano (confira em www.google.com/mars).
     
Nas horas vagas, Jones viaja pelo mundo tirando fotos com uma câmera superpoderosa – que um amigo dele construiu e atinge a inacreditável resolução de 4.000 megapixels. Na semana passada, Michael Jones deu uma entrevista exlcusiva a um jornal brasileiro. Confira os principais trechos.

      Recentemente, você disse que a missão do Google Earth "não é mostrar informações geográficas, é revelar geograficamente o mundo". Como assim?
      Quando as pessoas pensam em mapas, elas pensam em coordenadas, endereços. Nós temos uma missão muito maior, que é mostrar todas as informações do mundo num mapa. Se você lê uma reportagem que foi escrita em São Paulo, ou no Rio, deveria poder clicar nela e "voar" até aquele lugar. Isso daria um contexto geográfico às coisas. Hoje, nós praticamente só mostramos os mapas em si, mas estamos adicionando informações, como uma lista de lojas, aeroportos e hotéis – para que você possa planejar a sua viagem. Também seria legal ter informações de trânsito (serviço que o Google Maps acaba de lançar, para usuários de celular, nos Estados Unidos).

      O Google Maps já tem um recurso que, quando acionado, mostra nos mapas informações fornecidas pela revista National Geographic. Vocês aceitariam incluir coisas mais comerciais – como a localização de lanchonetes McDonald’s?
      Com as informações da National Geographic, você pode aprender sobre os lugares. Eu não sei quanto ao McDonald’s. Se eles fornecessem informações adicionais, como indicar quais lanchonetes têm playgrounds, seria ótimo. Mas, se fosse apenas a localização das lojas, não seria tão legal.

      O destaque do Google Maps são os chamados "mashups", serviços que misturam os dados do Google com outras informações. E eles são independentes, criados por terceiros. Como você vê os "mashups"? Tem algum favorito?
      Há informações que só os usuários do Google podem fornecer. Por exemplo: o seu jornal poderia ter um mapa mostrando onde os repórteres estão. Os "mashups" servem para coisas assim. Existem tantos "mashups" que já seria difícil fazer uma lista completa com todos – quanto mais apontar o melhor. O site googlemapsmania.blogspot.com reúne novos "mashups", e a cada dia aparecem uns 30 ou 40. Já são milhares de opções. Há um "mashup", por exemplo, com o qual você pode se mover pelo planeta e descobrir em que ponto sairia se atravessasse o centro da Terra cavando. Não é muito útil, mas é bem divertido. Quem está na Argentina sairia na China (risos).

      Você tem algum lugar preferido, que olha sempre no Google Earth?
      O meu lugar preferido é a Holanda, porque é onde nós temos as melhores fotos. É a maior resolução de todas as imagens do Google Earth, com precisão de 10 cm. Você pode ver, por exemplo, uma pessoa aparando a grama – e reparar até se ela está bem cortada.

      O Google Earth e o Google Maps são feitos com imagens de satélite, certo? Quantas fotos são ao todo? E com que freqüência elas são atualizadas?
      Nós não revelamos o número exato, mas são milhões de imagens. É uma combinação de fotos de satélite e aéreas (tiradas por aviões). Nós adicionamos fotos todos os meses. Mas cada localidade demora 2 a 3 anos para ser atualizada, porque a Terra é muito grande.

      As fotos são "costuradas" para formar o mapa. Como isso é feito?
      Os nossos fornecedores (de fotos) têm que determinar exatamente as coordenadas de cada foto. Isso é bem difícil, e feito à mão. Quando os dados chegam para nós, a montagem dos mapas é automática – exceto se houver oceanos na foto, pois a água não aparece bem quando fotografada do espaço.

      Quantos fornecedores de dados vocês têm?
      Uns 100 em todo o mundo. As fotos de avião são sempre melhores (que as de satélite). Acontece que é difícil sobrevoar a Coréia do Norte, por exemplo. Então nós usamos as imagens de satélite, complementadas por fotos aéreas quando possível.

      Falando em Coréia, recentemente a Coréia do Sul reclamou do Google Earth. Disse que poderia ser usado como arma de guerra pela Coréia do Norte. A Austrália e a Noruega também fizeram queixas. Como você vê a questão?
      Não foram os países em si que reclamaram. Foram políticos (risos). Nós monitoramos essa questão. Na Índia, saiu uma declaração desse tipo nos jornais. Eu fui até lá procurar os queixosos. Falei com três generais, e dois deles gostavam do Google Earth. Nós não desmentimos ninguém, pois atacar políticos locais não é boa idéia (risos). Já recebemos perguntas sobre as fotos. Mas nenhum governo nos pediu para tirar dados do Google Earth.

      Nem o governo dos Estados Unidos?
      Não. O governo dos EUA é o que mais nos apóia, pois foi ele que abriu as portas para o lançamento de satélites comerciais. E os governos não permitem que os satélites comerciais tenham resolução suficiente para uso militar. Eles não ligam para as fotos que nós tiramos, pois sabem que não são interessantes (para fins militares). Os satélites dos governos não tiram fotos como as do Google Earth. O Exército não é um turista, não quer saber se a grama é bonita. Eles querem ver a movimentação de veículos, coisas assim.

      Quais serão as novidades nas próximas versões do Google Earth e do Google Maps?
      Nós estamos globalizando os dados, com mais informações locais – relação de lojas, estradas – de cada país. E no idioma de cada país. Na Suíça, por exemplo, onde se usam 4 ou 5 idiomas e dialetos, nós temos que traduzir os nomes de todas as ruas e estabelecimentos comerciais em cada uma dessas línguas. E não é só tradução. Na Espanha, por exemplo, nós temos todos os restaurantes, organizados por tipo de cozinha. Estamos fazendo essa catalogação em todos os países do mundo. É o nosso maior desafio. Recentemente, nós compramos o programa SketchUp, que foi outro grande passo. Com o SketchUp (sketchup.google.com), você pode desenhar em 3D o seu prédio e incluir no Google Earth.

      Existe algum controle sobre os desenhos feitos pelos usuários?
      Não. No futuro, eu acho, vai existir controle, mas ele não será feito pelo Google. Será feito pelos próprios usuários, que poderão apontar os modelos 3D de que gostam ou não. São tantos usuários, e tantos dados, que jamais conseguiríamos ter funcionários suficientes para olhar os dados. É impossível. Como no Orkut, que no Brasil todo mundo usa. Nós não poderíamos montar um grupo de funcionários do tamanho do Brasil para olhar os dados (do Orkut). A única solução é fazer os usuários votarem – "esta foto é boa, este modelo tá no lugar errado, etc.". Nós confiamos nos moradores de cada lugar, mais do que em funcionários do Google.

      E a integração do Earth e do Maps com outros serviços do Google, como e-mail e bate-papo? Vocês vão fazer isso? Ou afetaria demais a privacidade das pessoas?
      Nós pensamos nisso, sim. O Google criou produtos para organizar as informações do mundo – fotos, sites, notícias. E como essas coisas são associadas a lugares, você deveria poder vê-las num mapa. Se eu escrevesse no meu blog um texto sobre as churrascarias de São Paulo, por exemplo, e colocasse os endereços delas, você poderia ver no mapa. No Blogger, a minha idéia é pegar os blogs públicos e colocar no Google Earth. O mesmo valeria para o Orkut. Se você tem uma comunidade com endereços, os membros dela poderiam ver os endereços no Google Earth. Não vejo nenhum problema de segurança – só precisamos ter respeito (com os usuários).

      A tecnologia para fazer isso já existe, certo? Então por que esses recursos ainda não entraram no ar?
      Ainda não lançamos, mas são muito importantes para nós. Nós não prometemos coisas. Algumas empresas dizem: "nós vamos ser os maiores, fazer isso e aquilo." Nós não. Nós estamos trabalhando duro e queremos colocar todas as informações do mundo nos nossos mapas. Mas queremos fazer bem-feito. Somos famosos por lançar serviços "beta" (em desenvolvimento). Mas os nossos betas são melhores do que os produtos finais da maioria das empresas (risos).

   Você mencionou "outras empresas". Como vê a concorrência da Microsoft, que também está investindo bastante em seu serviço de mapas? Ela preocupa?
Eu nunca vi a Microsoft como concorrente. Ela está mais para o terrorismo econômico (risos). Eles não venceram outras empresas numa disputa de mercado; eles destruíram outras empresas. O nosso objetivo é fazer produtos tão bons que você prefira usá-los. O nosso buscador é grátis, e o do Yahoo! também. Mas, por algum motivo, mais pessoas usam o Google. Gostam mais do nosso produto. Atualmente, não existe concorrência para o Google Earth. O Virtual Earth, da Microsoft, é um site, e compete com o Google Maps. (Não é um programa). Isso é um exemplo do marketing da Microsoft – o nome do produto não corresponde ao que ele realmente é. Acho bom que exista variedade. Nós não nos preocupamos muito com as outras empresas. Passamos dias discutindo por os recursos dos nossos produtos, e apenas segundos pensando em outras empresas.

Fonte: Estadão

Confira na InfoGEO 44 entrevstas exclusivas com Michael Jones e Franz Leberl, da Microsoft, concedidas durante o GEOBrasil Sumiit 2006.

 

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