Tempos atrás – estamos falando da década de 70 – a área de informática (nem se utilizava o termo tecnologia da informação) estava dividida entre aplicações ditas comerciais e aplicações científicas. Os próprios fornecedores de equipamentos tinham mais ou menos este mesmo posicionamento estratégico. Do lado comercial víamos competindo IBM, Burroughs, Bull; do lado técnico Control Data, Nixdorf, Digital, como o da foto abaixo: um PDP-10/70, adquirido em 1977 pelo Centro de Informações de Recursos Naturais do Chile, que apoiou a construção do provavelmente primeiro sistema de informações geográficas da América Latina.
->PDP-10/70
Os próprios SIGs, no início, possuíam uma forte segmentação. Havia os que buscavam suas respostas manipulando imagens com seus filtros, convoluções e transformações, e aqueles que cruzavam pontos, linhas e polígonos em seus modelos vetoriais.
Mas como o universo está felizmente sempre pulsando, e sem o yin não existe o yang, rapidamente se percebeu o poder da fusão da visão matricial e da visão vetorial. E nunca as aplicações científicas estiveram tão próximas das aplicações comerciais!
Um mapa temático, ao invés de uma tabela, passou a ser algo trivial dentro de uma apresentação. Cada vez mais se percebe o enorme valor que se agrega aos processos corporativos quando se insere a componente espacial. Fiat e IBGE agora caminham juntos!
Obviamente, para que isto se viabilizasse muita coisa teve que acontecer. Um grande esforço teve de ser empenhado até que esta base geográfica estivesse adequadamente digitalizada e a um custo acessível dentro deste tipo de transação.
Um dado corporativo, via de regra, não necessita do rigor geométrico com que os nossos eminentes cartógrafos desenharam os primeiros SIGs, mas por outro lado o nível de atualização tem que ser bastante alto para que esta informação possa fazer algum sentido.
Nas aplicações corporativas, as regras de negócio não são programadas sobre as plataformas “SIG”. Na realidade, outros sistemas corporativos como ERP, CRM e Billing já estavam lá presentes há muito tempo, e agora a “geografia” aparece para servir e incrementar as funcionalidades destes “sistemas de informação”.
Os software de GIS clássicos aparecem na construção e manutenção das bases geográficas corporativas, e como objetos embebidos dentro destas aplicações à medida que cada processo necessite.
Esta visão de “G” + “IS” e não do “GIS” é aparentemente compartilhada pelos quatro maiores fabricantes desta tecnologia, ao menos pelo que pudemos inferir dos últimos congressos em que participamos ou da própria forma com que cada um deles apresenta seus produtos em seus sítios web.
O lançamento do Google Earth foi o último movimento disruptivo ocorrido neste mercado. Quando surgiu, parecia apenas um brinquedo divertido, mas não tenho dúvida que ele incorporará cada vez mais dados e será o layer básico ou repositório primário de dados espaciais, tanto de aplicações corporativas quanto de aplicações técnicas.
Resta à Microsoft e ao seu Live Search correr atrás do prejuízo e mostrar que a coisa não vai ser bem assim. Mas, desta vez, o inimigo é simultaneamente (pela primeira vez) grande e inteligente e rico e ousado.
Para nós usuários, no entanto, em qualquer dos casos a briga será muito benéfica, pois aumentará a velocidade com que as informações serão inseridas nestas bases. Tecnicamente, não existe nenhum problema: uma conexão para cada base de dados, consolidando o que possa ser de interesse, e seguimos nossa vida com novas análises, pesquisas, inferências, projeções etc., de forma integrada, sem rupturas ou dicotomias obrigatórias. Ou, com o perdão do anglicismo e utilizando um jargão do nosso mercado, seamless.
Rubens Soderi
Diretor de planejamento da Sisgraph
rubens@sisgraph.com.br