Por Marcello Benigno
A escassez da oferta hídrica é um dos problemas mais graves enfrentados a nível mundial. Na região nordeste do Brasil, este problema se agrava em função da variação climática, do crescimento da demanda e dos usos múltiplos da água, além da má distribuição dos recursos hídricos no espaço e no tempo.
A Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA) tem como principal atribuição, gerenciar com racionalidade os recursos hídricos do Estado, assegurando as demandas dos usuários, fazendo uso dos instrumentos das leis federal e estadual, resguardando o meio ambiente e o bem estar do homem, de forma a garantir o desenvolvimento sustentável.
Como ferramenta de apoio à tomada de decisão, os Sistemas de Informações Geográficas (SIG), possibilitam aos gestores uma série de funcionalidades que contribuem diretamente em um melhor gerenciamento dos recursos hídricos. Através do SIG é possível gerar mapas e cartas que mostrem, por exemplo, quais áreas estão desabastecidas, ou onde estão as localidades que necessitam de uma maior oferta hídrica, e a partir daí, realizar análises espaciais e estatísticas visando amenizar tais problemas.
No entanto, o usuário final deve ter acesso às informações processadas de um SIG de uma forma rápida e fácil em uma interface amigável. Neste contexto, os programas de Webmapping disponibilizam dados espaciais na Web, permitindo que qualquer pessoa, através de um navegador (browser), possa interagir com mapas dinâmicos através de comandos como zoom, pan, realizar consultas, além criar mapas temáticos e relatórios.
Com o objetivo de possibilitar ao visitante do Portal AESA acesso de forma rápida e fácil a diversas informações georreferenciadas do Estado, foi desenvolvida uma aplicação Webmapping utilizando Mapserver e o framework Pmapper. Através da interface deste aplicativo, batizado de SIGAESA-WEB qualquer pessoa pode consultar informações sobre bacias hidrográficas, sistemas aqüíferos, pluviometria média, adutoras, além das informações qualitativas e quantitativas sobre os rios e açudes, dentre outros níveis de informação.
Tecnologias utilizadas
A base cartográfica disponibilizada pelo aplicativo é composta de elementos que foram obtidos junto ao IBGE, tais como: limites estaduais, divisão municipal e sedes municipais. Outras feições como, rios, açudes, bacias hidrográficas, postos fluviométricos, dentre outros, foram confeccionados na própria agência através de técnicas de digitalização e de classificação de imagens de satélite, utilizando imagens CBERS 2 CCD (2006), LANDSAT 7 (2006) e SRTM (2006).
Já os programas utilizados foram os seguintes:
Sistema operacional: Linux Fedora Core 7;
Servidor: Apache com PHP;
Editor Web: NVU;
Editor de arquivos Mapfile: Scite;
Banco de Dados: PostgreSQL/PostGIS;
Pmapper v.3.1
Implementação do sistema
A configuração do aplicativo iniciou-se com a instalação e configuração do servidor Apache com o PHP no Fedora, em seguida foram instalados a partir dos fontes as seguintes bibliotecas: proj, gd, libpng, libgeotiff, zlib, geos, postgresql, postgis, gdal e o mapserver, a medida que eram requeridas algumas dependências destas bibliotecas no processo de compilação, outros pacotes também foram baixados e instalados utilizando o comando yum, presente nesta distro.
O próximo passo foi exportar as feições geográficas que estavam no formato shapefile para o Banco de Dados Espaciais, tal procedimento foi realizado através do comando shp2pgsql, que gera um script SQL a partir da leitura dos arquivos shapes. Em seguida entrou em cena a configuração do pmapper, que é um framework de fácil configuração, já que para colocarmos a aplicação para “rodar”, necessitamos apenas criar o arquivo mapfile, o qual define a forma como os níveis de informação serão exibidos, e em seguida configurar a aplicação através dos arquivos de configuração do próprio pmapper. O tempo total gasto durante todo este processo, se somarmos a isso a customização do pmapper, foi de aproximadamente 70 horas de trabalho.
A figura 1 mostra o esquema de funcionamento do aplicativo SIGAESA-WEB.
Resultados
Através da interface do aplicativo, qualquer usuário tem acesso imediato a uma série de informações, dentre as quais destacam-se o monitoramento diário do volume dos açudes (figura 2).
Figura 2
Estão também disponíveis dados sobre a qualidade da água dos rios e açudes monitorados pela Superintendência de Administração do Meio Ambiente do Estado – SUDEMA (figura 3).
Figura 3
Conclusões
Antes da disponibilização deste aplicativo Webmapping no portal da AESA, não havia oportunidades de análise e identificação dos problemas hídricos pela população em geral. Porém após sua implementação, observou-se um crescente interesse da sociedade e também de outros órgãos do estado por tais informações, que antes estavam disponíveis apenas para os técnicos da agência, ou a pesquisadores e estudantes que tinham que se deslocar até a mesma. Desta forma o aplicativo também contribuiu para diminuir a burocracia de acesso a essas informações.
Do ponto de vista financeiro, a solução adotada utilizou apenas softwares livres, proporcionando uma grande economia na aquisição das licenças de programas proprietários similares.
O SIGAESA-WEB destacou-se como uma ferramenta de fácil manuseio, e alcançou seu principal objetivo, que é o de disseminar informações espaciais na Web para a sociedade de forma mais fácil e rápida, tanto para os gestores quanto para a sociedade como um todo.
Como trabalho futuro, deseja-se incluir no aplicativo os pontos outorgados e cadastrados dos usuários de recursos hídricos do estado.
Por fim, a AESA espera tornar-se em alguns anos um modelo regional na gestão de recursos hídricos através de ações que possibilitem avançar em torno do desenvolvimento sustentável e da gestão participativa.