Era 1990. De lá para cá muitas coisas evoluíram, deixaram ou passaram de existir. Mas nada se compara ao avanço da tecnologia. Ela foi o pivô de transformações profundas em quase tudo que existe, da economia ao relacionamento humano. Imagine então o que era fazer um estudo de geomarketing ou localizar um objeto no globo terrestre. Tais tarefas eram realizadas com grande esforço e em baixíssima escala, na maioria das vezes inviabilizando sua aplicação.
Um computador com 500 MB de disco rígido ocupava um espaço equivalente a uma geladeira e precisava ficar em uma sala exclusiva, pois além de exigir refrigeração adequada, qualquer tremor no chão causaria um ruído na gravação e danificaria o arquivo. E não estamos falando de qualquer arquivo. O mapa digital da cidade de São Paulo estava sendo produzido pela primeira vez, em sua versão de eixos de ruas, com informações inseridas dentro de cada vetor.
Os MOCs (Mapas Oficiais da Cidade) deram origem aos primeiros mapas digitais inteligentes. Produzidos pelas prefeituras, continham faces de quadras, postes, calçadas e o nome da rua descrito no próprio mapa, podendo conter ainda outras informações. Mas a idéia de produzir um mapa apenas com eixos de ruas veio dos Estados Unidos. Lá estavam sendo lançados os primeiros softwares capazes de transformar uma lista de endereços em pontos no mapa, a nova tecnologia que permitia analisar mercados espacialmente, o que hoje é conhecido como geocodificação, ferramenta básica dos estudos de geomarketing.
Para que essa tecnologia tivesse mercado no Brasil, seria necessário produzir mapas de eixos de ruas para as cidades brasileiras. De olho nessa oportunidade, duas empresas se uniram: a Geograph, que passou a representar a MapInfo no Brasil, investiu na primeira tradução desse software; e a Multispectral, que investiu na produção da carta da cidade de São Paulo, o primeiro mapa digital inteligente do Brasil.
O MOC da cidade de São Paulo continha cerca de 170 folhas A2, em escala 1:7.500, originalmente desenhadas com nanquim em papéis semi-transparentes. Cada uma dessas folhas era posicionada em uma mesa digitalizadora, que tinha as dimensões de uma estante. Mesmo sendo um equipamento grande, o processamento era todo feito por outro computador, aquele da sala refrigerada. E a área de trabalho do digitalizador era parecida com os primeiros CADs, com recursos gráficos mínimos. Naquelas condições, o mapa de São Paulo levou dois anos para ser concluído.
Após sua conclusão, a Multispectral passou a licenciar o mapa de São Paulo no sistema de royalties, como era praticado nos Estados Unidos, o que também foi inovador. Antes disso, as empresas estavam acostumadas a comprar o mapa, pagando por todo o serviço de mapeamento, e agora poderiam pagar uma pequena parte do custo do produto e, em troca, aquele mesmo produto poderia ser vendido para muitas outras empresas.
No entanto, essa tecnologia era recente demais e licenciar esses produtos não foi uma tarefa fácil no começo. O primeiro anúncio foi publicado no jornal Folha de S.Paulo. Milhões de leitores e nenhuma ligação. Seis meses depois, o primeiro mapa seria licenciado no Brasil. A Gillette foi a primeira empresa a se interessar em plotar suas informações em um mapa digital. Como sua matriz ficava em Manaus, foi necessário produzir o mapa dessa cidade, esse sim o primeiro a ser licenciado. O mapa de São Paulo foi licenciado pela primeira vez dois meses após, para a Vigor.
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