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Jornal de ontem?

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Faz algum tempo que não leio diariamente jornais impressos. Percebi que a maioria das notícias do jornal acabava lendo no dia anterior na web, e que não fazia mais sentido acompanhar o mundo com um dia de atraso. Hoje, enxergo três tipos de notícia que consumo: as em tempo real, as opiniões e as notícias, e cada uma tem o seu valor. Um jornal impresso é repleto de notícias. Do dia anterior, isso quando não tem dois dias de atraso, como é o caso do volumoso jornal de domingo.

Trazendo o assunto ao nosso cotidiano, quem gostaria de comer pipoca depois de uma hora, quando ela já começa a murchar?

Definida pelo blog ReadWriteWeb como uma das cinco tendências que despontou em 2009, a “internet em tempo real” – e com isso também a geoinformação – trata-se de acompanhar a todo momento o que está acontecendo, agora e onde. Seja um terremoto, seja um acidente de carro, seja um amigo levando o cachorro para passear.

Mas o que é a informação e geoinformação?

Informação são os dados tratados, apresentados de forma inteligível às pessoas que irão utilizá-los. Geoinformação são os dados tratados e associados a uma localização espacial.

As geoinformações e as informações, em alguns casos, não possuem um valor definido. O valor da informação em tempo hábil depende do contexto da organização. Uma informação de alto valor para uma empresa, em determinado segmento de mercado, pode não significar nada para uma empresa inserida num outro contexto. O valor da informação em tempo hábil é uma função do efeito que ela tem sobre o processo decisório.

Dependendo da área de aplicação, podemos refletir se interessa saber a localização de uma carga de alto valor com o atraso de três dias. Em catástrofes como a ocorrida no Haiti, será que a Mission des Nations Unies pour la Stabilisation en Haïti (Minustah) gostaria de ter acesso a uma imagem da região de Porto Príncipe somente um mês após o terremoto?

Outras aplicações exigem a geoinformação em tempo real. Imaginem a possibilidade de recalcular a trajetória de seu veículo baseado em dados de tráfego e condições climáticas. Isso já é possível. Uma floricultura, por exemplo, obtém informações para rastrear o entregador e possibilitar o envio da encomenda sem atraso.

Imagine localizar o cinema mais próximo, saber a programação, comprar entradas, traçar a rota para o local, ou então ir ao shopping e localizar amigos de sua lista que estejam próximos. Todas essas aplicações já estão disponíveis e acessíveis, em menor ou maior escala.

Para atender essas demandas é necessária uma atualização constante da base de geoinformações. Porém, para atualizar é necessário um tempo para adequar os dados e disponibilizá-los, gerando informação ou geoinformação. Em alguns casos, as atualizações não são previsíveis, resultando em irregularidades e inconsistências. Evidentemente, as atualizações em tempo real são mais oportunas, mas também exigem maiores esforços de manutenção da base de dados. Por outro lado, se a geoinformação “envelhecer”, torna-se obsoleta (por exemplo, um webmapping desatualizado).

A rápida disponibilidade, em escala adequada, é necessária para dar resposta aos clientes e aperfeiçoar decisões gerenciais. Mas aí surge uma dúvida: será que eu posso confiar nessas informações para tomar uma decisão? Como garantir o controle de qualidade?

Para o controle de qualidade de dados em tempo real existem técnicas sendo desenvolvidas e aprimoradas, como o caso da BAE Systems, onde todo o processo de geração dos dados cartográficos e atualização sofreram algum tipo de controle em tempo real.

De uma forma sintética, a qualidade da geoinformação pode ser analisada por alguns atributos, como exatidão (grau de liberdade do erro da geoinformação), alcance (integralidade da geoinformação), conveniência (relevância da geoinformação), oportunidade (tempo decorrido no ciclo produtivo da geoinformação) e acessibilidade (facilidade com que a geoinformação pode ser obtida pelo cliente).

Para ser relevante, a geoinformação tem de ser estratégica e ser interpretada pelo cliente. Precisa ser coerente e útil, isto é, relevante para o planejamento estratégico e, principalmente, estar disponível em tempo real. Geoinformação válida em tempo hábil pode aperfeiçoar o processo decisório em uma organização, posicionando-se como um dos maiores diferenciais competitivos.

Estar atento aos anseios de seus clientes, procurando oferecer soluções que forneçam respostas em tempo hábil e na escala que atenda suas necessidades, já não é mais uma tendência e sim uma necessidade.

Se a notícia do jornal no dia seguinte já é velha, ainda resta uma boa saída, e também importante, sobreviver de contextualização e análise de dados.

Wilson Anderson Holler
Engenheiro cartógrafo e supervisor da área de gestão territorial estratégica da Embrapa Monitoramento por satélite
holler@cnpm.embrapa.br

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