Temos acompanhado uma mudança na maneira de se planejar e executar serviços na área de geoprocessamento e aerolevantamento, sendo constantemente realizados serviços com foco em uma análise superficial, literalmente “ao pé da letra” da solicitação feita pelo cliente.
A necessidade de se compreender, analisar, entender e buscar solucionar o problema existente para o cliente tem sido deixada de lado. Esta mudança tem sido impulsionada, inclusive, pela própria pressão do cliente na redução nos custos dos serviços, o que vem ocorrendo sem um aumento na exigência e fiscalização em sua execução e entrega.
Como resultado, têm sido extremamente comuns os casos de desperdício de gastos, especialmente públicos, através da não utilização de produtos gerados, necessidade de nova execução dos serviços e, finalmente, não recebimento dos serviços contratados.
Esta realidade preocupante pode reduzir a utilização de serviços especializados, com um impacto na gestão dos recursos geográficos existentes. Como solução, é necessário analisar com mais rigor a capacidade das empresas selecionadas para uma determinada licitação, valorizar a técnica e os recursos que serão disponibilizados por cada uma e ser mais exigente na fiscalização dos serviços contratados.
Qualidade e densidade de dados
É nesta realidade que venho apresentar a quebra de uma nova barreira na qualidade e densidade de dados na aerofotogrametria, com a aquisição de precisão final, em produtos cartográficos, na ordem de 1:10.000 da altura do sobrevoo realizado, além da popularização no uso de imagens oblíquas e ortofotos volumétricas.
O lançamento de novas câmeras digitais, de tamanho cada vez maior, e o abuso na digitalização de imagens analógicas, geram pontos de informação com tamanho da ordem de 1:10.000 da altura do sobrevoo. A precisão e densidade dos dados passam a coexistir nesse processo, através da necessidade de se ter feições laterais em áreas urbanas, justificando o uso de novas tecnologias em geoprocessamento que permitam o tratamento de imagens de tamanho superior a 200 megapixels, mantendo cálculo efetivo de uma coordenada para cada pixel. Entretanto, conseguir uma precisão final na ordem deste tamanho de pixel é uma tarefa difícil, pois envolve uma excelente execução de serviço de apoio geodésico, execução de triangulação em bloco com alta qualidade, identificação com grande precisão do apoio terrestre nas fotos, o uso de câmera perfeitamente calibrada e processamento altamente denso desses dados.
A eliminação de erros na execução do serviço de apoio de campo passa, impreterivelmente, por uma visualização real da posição desse apoio nas fotografias obtidas, especialmente em locais e regiões mais afastadas de centros urbanos densos. Tal visualização pode ser feita através da metodologia de pré-sinalização ou pós-sinalização, correspondendo a primeira a uma marcação física no terreno antes da execução do sobrevoo e a segunda a um imageamento de referência em grandes escalas do serviço de campo durante sua execução.
A realização da triangulação de alta precisão passa por um processo de conferência e ajuste fino da mesma, com a fiscalização e correção de erros que possam ter sido gerados pela marcação automática ou manual de pontos de ligação. Os equipamentos utilizados para o imageamento, a densidade e qualidade do processamento e obtenção dos modelos densos, com a restituição automática de modelos de superfície e ortofotos volumétricas, além da sensibilidade dos sistemas de restituição manual, completam os cuidados necessários para se obter uma precisão da ordem de 1:10.000 da altura do sobrevoo em aerofotogrametria.
A maior parte dos processos citados, e sua correta realização, são de conhecimento de grande parte dos profissionais da área, portanto a questão da qualidade e precisão de dados não envolve apenas o aspecto tecnológico, mas também uma correta análise do problema existente, com foco em sua solução, sendo de responsabilidade do cliente ouvir e compreender esta análise, além de fiscalizar corretamente o serviço a ser realizado.
Adriano Huguet
Cientista da computação e mestre em processamento digital de imagens.
Sócio presidente e diretor de pesquisa e desenvolvimento da HGT Geoprocessamento
adriano.huguet@gmail.com