Atualidade das aplicações tecnológicas na agricultura
Está acontecendo uma verdadeira revolução, em nível tecnológico, com respeito à produção de grãos em nível mundial, devido basicamente aos Sistemas de Posicionamento Global e ao uso da Geomática aplicada à agricultura.
Os novos paradigmas globais, referidos à crescente e sustentável demanda por alimentos, em mercados cada dia mais competitivos e de margens cada vez menores, somados à escassez dos recursos, forçam a utilização de uma agricultura sustentável, que tem como consequência a profissionalização dos produtores de alimentos, atores principais neste cenário.
O objetivo principal é a busca da eficiência, quanto ao uso de insumos, que permita explorar ao máximo cada milímetro de hectáre, desenvolvendo a denominada Agricultura de Precisão.
A tecnologia avança a passos largos e, com respeito à agricultura, não fica atrás, com um nível de adoção e implementação alto. As grandes multinacionais de maquinário, como John Deere, Case, Massey Ferguson, Class, New Holand, Amazon, Sulkye, Stara, Jacto – estas duas últimas, do Brasil – investem grandes somas de dólares anuais em desenvolvimento de sistemas complexos e precisos, para que suas máquinas possam executar trabalhos em níveis de precisão milimétrica, com alto grau de automatização, impensados anos atrás por produtores que trabalhavam os solos com implementos a tração animal.
Baseados no posicionamento global (GNSS), que permite, mediante sensores instalados no maquinário fazer registros georreferenciados de atributos da produção – como rendimento por hectare, umidade do grão, velocidade de trabalho, data, hora, latitude, longitude, etc. -, obtendo um mapa de colheita, a partir dos quais se pode conhecer como varia a produção, determinando zonas de distinto potencial.
Ao mesmo tempo se desenvolveram sistemas de guia: “bandeirinhas satelitais”, que permitem usar como guia o sinal GPS e traçar uma trajetória virtual, podendo aproveitar com maior eficiência o espaço de trabalho, ao não sobrepor passadas, utilizando menos insumos; trabalhar em superfícies de formas irregulares, aumentando o período de trabalho e realizando tarefas noturnas. Estas guias contam com sistemas de correção de sinal GPS: e-dif, Waas, Egnos, e sinais pagos como a rede de antenas Beacon (Argentina), satélites Omnistar de maior precisão.
Os fabricantes de maquinário não foram os únicos a avançar nesta tecnologia; há alguns anos ingressaram empresas “novas no setor”, mas com trajetória em outras áreas, como a agrimensura; caso da Topcon, Trimble, Raven, Esri, entre outras, que avançam, com aplicação de tecnologia já desenvolvida, com produtos adaptados e específicos para esta área. Seu ingresso, na maioria das vezes, se dá mediante parcerias estratégicas com as empresas de maquinário agrícola, reunindo seu know-how, assim fortalecendo-se mutuamente.
Hoje, a maior precisão é a dos sistemas RTK, de uso massivo. Na Argentina, se conta com uma rede de cobertura privada de mais de 15 milhões de hectares, pertencente a uma das marcas líderes de maquinário, onde o usuário dispõe de sinal de precisão milimétrica, todo o ano, 24 horas do dia.
Ao incorporar sinais de maior precisão, surgiram os sistemas de auto-guia – “Pilotos Automáticos” – que permitem ao operador controlar o trabalho sem ter que pilotar o trator/colheitadeira, corrigindo a direção mediante o sinal RTK, podendo copiar curvas de nível, terraços, etc.. Inclusive, estes dados podem ser enviados por telemetria, em tempo real, via GPRS, a um servidor de mapas onde são consultados online a medida que se são gerados, indicando o funcionamento da máquina.
Cada empresa de maquinário desenvolveu seu próprio GIS, que permite ler este acúmulo de dados (50 a 70 mil registros por mapa de colheita), ano após ano, de uma mesma propriedade.
Outro uso da tecnologia GPS é a automatização de máquinas inteligentes denominadas Variable Tax Rate (VRT), que permitem realizar uma dosagem variável dos insumos, com alta precisão, em função de um mapa de prescrição previamente elaborado, gerando do mesmo modo um registro do trabalho.
A partir da necessidade de entender em mais detalhes a produção, se avançou no estudo de aplicação de distintas ferramentas que permitiram fazer levantamentos quantitativos. Assim, se implementou o uso de:
• Sensores remotos: imagens aéreas, satelitais, Veículos Aéreos Não Tripulados (VANT)- equipados com câmeras multiespectrais de alta resolução, Índice Verde Normalizado (NDVI)
• GPS geodésicos para determinações planialtimétricas, curvas de nível, terraços
• Medidores de condutividade elétrica do solo
• Medidores de profundidade efetiva do solo
• Medidores de conteúdo hídrico do solo
• Sensores de clorofila
• Outros dispositivos que permitem obter mapas de distintas variáveis.
Hoje, há muita informação gerada por estes sistemas, com profissionais da área se capacitando, para alcançar a integração de dados e poder fazer as melhores interpretações e definir estratégias de manejo de cultivos.
Neste contexto, o uso de software GIS é fundamental. As principais marcas de GIS já possuem módulos e extensões muito boas que automatizam processos, como estimação de NDVI, análises geoestatísticas, etc., e inclusive se tem desenvolvido programas regionais exclusivamente para a agricultura.
Projetos Regionais
Instituições como o Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária da Argentina (Inta) levam a cabo o Projeto “Rede Agricultura de Precisão”, realizando anualmente o “Curso Internacional de Agricultura de Precisão”, onde se reúnem palestrantes internacionais, assistem técnicos e produtores de toda América Latina, e também organizaram a 21ª Viagem de Capacitação Técnica aos EUA, com o mesmo objetivo de diminuir diferenças tecnológicas.
Do mesmo modo, no Brasil, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) possui a “Rede de Pesquisa de Agricultura de Precisão”, junto ao “Projeto Aquarius”, de 10 anos de experimentação. No ano passado foi realizado, junto com a Universidade Federal de Santa Maria, o “1°Congresso Sul-Americano de Agricultura de Precisão e Máquinas Precisas”, que também contou com expositores de nível internacional e assistência de engenheiros, estudantes e produtores de toda a região.
Instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Brasil, e a Comisão Nacional de Atividades Espaciais (Conae), da Argentina, são fontes muito úteis aos fins agrícolas, com seus distintos projetos com respeito a clima e disponibilidade de imagens satelitais de diferentes sensores.
Existem muitas experiências e desenvolvimentos com respeito ao tema em cada região da América do Sul, as empresas e instituições apostam forte nesta temática, e ainda estamos na iminência do desenvolvimento de novas formas de produzir alimentos, de maneira mais eficiente e saudável para o meio ambiente, das mãos da geomática aplicada à agricultura.
Responsável pela área de tecnologia agrícola e agricultura por ambientes da companhia argentina Los Grobo. Engenheiro agrônomo (Universidade Nacional de Córdoba), estudante de pós-graduação em produção de cultivos extensivos (Escola de Pós-graduação da Universidade Nacional de Córdoba). Responsável técnico em pesquisa, desenvolvimento e extensão da Rede de Ensaios de Agricultura de Precisão do Projeto Optimus. Consultor em implementação de tecnologias de agricultura de precisão para empresas e produtores.
aguilera-gabriel@hotmail.com