publicidade

Contra o (iminente) apagão de mão-de-obra

publicidade

Despertando o interesse pela Geomática no Ensino Médio

A influência da atividade humana no planeta é tão expressiva que a comunidade científica já se refere ao período que estamos vivendo como Antropoceno. Existem evidências significativas das atividades antrópicas nos oceanos, atmosfera e na superfície dos continentes. A capacidade de sistematizar o conhecimento e produzir tecnologia é o que permite aos seres humanos realizar atividades, a ponto de alterar tão significativamente os ecossistemas terrestres.

Não resta dúvida que é através do conhecimento e da tecnologia que o homem modifica o local onde vive. Contudo, será que todos temos a capacidade de lidar com esse crescente volume de informações? Como as pessoas estão se apoderando do conhecimento e tecnologias disponíveis para modificar positivamente suas vidas? Por isso a importância das pessoas serem instruídas em como extrair informações úteis para que possam tomar suas decisões.

Neste sentido, está sendo desenvolvido o projeto “Desvendando o Sistema de Posicionamento por Satélite” com estudantes do 2° ano do ensino médio na Escola de Educação Básica Casimiro de Abreu, em Curitibanos (SC). A proposta de realizar a atividade em uma escola de ensino médio surgiu em resposta à chamada para financiamento de projetos realizada pelo CNPq e a mineradora Vale (edital nº 05/2012 – Forma Engenharia). Através desse projeto busca-se estimular atividades que potencializem a elucidação vocacional dos estudantes de ensino médio por graduações em engenharia e, com isso, buscar mitigar os efeitos do apagão de mão de obra qualificada experimentado em vários setores do país.

Neste aspecto, o projeto realizado na escola de ensino médio tem três objetivos principais: i) elucidar com os estudantes como opera a tecnologia de posicionamento por satélites artificiais; ii) potencializar a interdisciplinaridade nos conteúdos de ensino médio; e iii) despertar nos estudantes o interesse pela profissão de engenheiro(a).

As atividades na escola constituem-se em responder um questionário previamente à participação no projeto, além da posterior participação em aulas expositivas e práticas.

Por dentro do GNSS

Durante a aula expositiva os estudantes participam de uma discussão em torno do contexto histórico em que o Sistema Global de Navegação por Satélite (GNSS) surgiu, e quais são os países envolvidos. São discutidos os três segmentos: espacial, controle e usuários, bem como quais as finalidades e particularidades de cada um dos segmentos. Além da atividade expositiva, os estudantes participam e uma aula prática na qual têm a oportunidade de operar um receptor de GNSS modelo navegação. Para a aula prática os estudantes realizam uma série de tarefas executadas em duplas com um receptor de navegação. Entre as atividades estão observar a influência de obstáculos como árvores e prédios na intensidade do sinal dos satélites captado pelo receptor, e sua relação com o erro nas coordenadas indicadas pelos aparelhos.

Respostas dos estudantes do 2° ano do ensino médio as perguntas do questionário. 1a) Você já pensou ou pensa em cursar uma graduação?; 1b) Você já manipulou um aparelho GPS?; 1c) O que faz o sistema GPS?; 1d) Como funciona um aparelho GPS?

Em relação ao questionário respondido pelos 139 estudantes participantes, podem ser feitas inferências quanto às intenções destes estudantes em cursar uma graduação e o seu entendimento da tecnologia de posicionamento por satélite. Quando perguntados “Você já pensou ou pensa em cursar uma graduação?” 87% já pensou ou deseja cursar uma graduação. Porém, diversas alternativas foram mencionadas quando perguntados sobre que dificuldades podem ter para entrar ou permanecer em uma Universidade. Entre elas, 44% elencaram a dificuldade financeira, 17% incompatibilidade de horários/falta de tempo, 20% estudo difícil/complexo e 12% ser aprovado no vestibular. Foram elencados ainda: falta de acesso à tecnologia, adaptação à nova forma de vida, distância da universidade até sua casa, falta de apoio familiar, discriminação de alguma espécie, falta de maturidade, que corresponderam a 17% das respostas. Como resposta para a pergunta “Qual curso você pretende fazer?” foram elencadas 28 alternativas, além dos indecisos ou dos que não pretendem cursar uma graduação. Dentre os descritos, os mais cogitados são Medicina (8%), Direito e Medicina Veterinária (7% cada). Observa-se, também, que muitos alunos pretendem cursar graduações nas áreas correlatas a engenharia (23%), porém, apenas 3% dos estudantes demonstraram interesse por engenharia agronômica (oferecida na UFSC campus Curitibanos) e nenhum por engenharia cartográfica ou de agrimensura, comprovando, assim, a importância deste projeto em divulgar essas áreas profissionais. Ao serem indagados sobre o que não lhes atrai em uma profissão ligada à engenharia, 32% mencionaram a falta de afinidade com disciplinas envolvendo cálculos. O que reforça a importância de serem desenvolvidos projetos integradores junto aos estudantes do ensino médio.

Outro dado produzido no projeto foi de que 41% responderam sim a pergunta “Você já manipulou um aparelho GPS?”, o que indica que estaé uma tecnologia bastante popularizada. Observou-se também que quando questionados sobre “O que faz o sistema GPS?” 8% dos estudantes afirmou que ele indica a latitude, longitude e altitude. Já a grande maioria, 65% citaram localização sem detalhamento, demonstrando possuir saberes básicos sobre o assunto. Outro grupo de 24% possuía um conhecimento errôneo, acreditando, dentre outros, que a função do sistema é unicamente criar rotas ou rastreamento, e 3% não possuíam conhecimento algum.

Carreiras profissionais, listadas pelos alunos, que trabalham com aparelhos de GPS. O tamanho da fonte indicada a frequência com que os estudantes mencionaram a profissão

Para completar o grupo de perguntas relacionadas a esta ferramenta, quando indagados sobre “Como funciona um aparelho GPS?”, 3% explanaram, por exemplo, tipo de onda, triangulação de sinais e quantidade de satélites, demonstrando amplo entendimento sobre a temática. Já 35% citou satélite e receptor, porém sem informações mais complexas como as anteriores, sendo consideradas noções básicas. Outros 29% mencionaram informações errôneas e 33% não possuíam conhecimento algum. No entanto, quando questionados sobre carreiras profissionais que trabalham com esta tecnologia, todos os alunos mencionaram ao menos uma opção.

A execução do projeto junto às turmas do 2° ano do ensino médio viabiliza a sua competência de dominar as linguagens próprias à análise geográfica como potencializa a habilidade de reconhecer a representação do espaço através da cartografia. Além de capacitar para articular conceitos e reconhecer as dimensões do espaço para a análise geográfica. Acreditamos que os resultados deste projeto se mostram bem positivos, visualiza-se claramente a proatividade dos estudantes em buscar conhecimento para debater em aula, bem como a fascinação que demonstram pela ferramenta tecnológica do aparelho GPS e suas aplicações. Esperamos que o projeto amplie um olhar crítico e questionador dos estudantes para com evolução tecnológica e o modo com que o homem ocupa e modifica o espaço.

Prof. Alexandre Ten Caten

Universidade Federal de Santa Catarina campus Curitibanos

tencaten@gmail.com

Bruno Fellipe Bottega Boesing

Graduando de Eng. Florestal

brunofellipebb@hotmail.com

publicidade
Sair da versão mobile