Para ter um entendimento melhor sobre o uso que as comunidades fazem de suas áreas, o Instituto Mamirauá agregou a suas atividades de monitoramento o uso do sensoriamento remoto e geoprocessamento. Imagens de satélite e análises complementam os dados levantados em campo pelo monitoramento das atividades agroflorestais e de pastoreio.
Esse projeto prevê quatro anos de pesquisas com as imagens de satélite. “Elas vão dar uma visão maior sobre a área de estudo, complementando os dados coletados em campo. Onde a pesquisa em campo não chega, a imagem de satélite pode fornecer informações. E as pesquisas em campo vão dar as características sobre o que está acontecendo ali, no lugar. Como se uma informação estivesse validando a outra”, afirma Jéssica dos Santos, pesquisadora do Instituto Mamirauá.
O monitoramento de atividades agrícolas ocorre desde 2009, em comunidades das Reservas Mamirauá e Amanã. Atualmente, dois pesquisadores do Instituto Mamirauá, Fernanda Viana e Carlos Toniazzo, são responsáveis pela atividade. Carlos acrescenta que “por meio dessas duas pesquisas podemos acompanhar a dinâmica da agricultura migratória, o porquê do uso de determinados locais em detrimento de outros. Se a gente mapeou uma área de roça, que na imagem de satélite tem uma determinada característica de cor e textura, em outra área não visitada, quando vemos na imagem as mesmas características, sabemos que ali possivelmente é uma roça. Essa é umas das técnicas de classificação utilizadas no trabalho”.
As imagens utilizadas nessa pesquisa são de alta resolução espacial, ou seja, os níveis de detalhes e discriminação de alvos na imagem são captados com mais precisão do que em imagens de baixa e média resolução. Jéssica conta que “a empresa que fornecerá as imagens está fazendo a aquisição dos dados mediante a programação do satélite, para duas áreas específicas, uma no Lago Amanã e outra para o setor Coraci, ambos na reserva Amanã, totalizando 1110 km² de imageamento. Isso demanda bastante tempo, por causa das condições meteorológicas”.
Para uma imagem de qualidade é necessário que a presença de nuvens seja de no máximo 15%, o que é bastante difícil na Amazônia. Em cada área imageada, os sensores dos satélites, com bandas multiespectrais, captam informações sobre a região de estudo e podem fornecer, por exemplo, indicativos da fotossíntese nas plantas por meio de índices espectrais aplicado na imagem de satélite. Isso porque a vegetação, em estágios distintos, apresenta um comportamento espectral diferenciado. “O dado do satélite é um dado físico, mostrando a relação da interação da radiação eletromagnética, que vem do sol, com diferentes alvos presentes na superfície terrestre. No caso da agricultura teremos respostas dos diferentes estágios do uso da floresta: áreas de plantio, sítios, capoeiras em regeneração, mata bruta e outros. Essas variações que a gente estuda”, mostra Carlos.
Como as áreas de agricultura nas Reservas Mamirauá e Amanã não ultrapassam dois hectares, somente a “imagem de alta resolução vai permitir visualizá-las. Aqui nós temos toda essa dinâmica de uso bem particular, que requer reconhecer diferentes tipos de cobertura de vegetação e como o meio em que essas comunidades estão inseridas, por exemplo, o regime de cheias e vazantes, interferem no modo de apropriação e produção, que elas fazem desse espaço. Nosso trabalho pretende dar uma visão sobre o uso que é feito da floresta tanto pela agricultura migratória, quanto pela atividade pecuária, também existente na reserva”, afirma Jéssica.
“Este é um trabalho de sensoriamento remoto, aliado ao geoprocessamento. Usamos os softwares Erdas Imagine e ArcGIS no processamento e análise das imagens, criando correlações espaciais e quantificações. Vamos trabalhar essa questão da informação física que a imagem passa, acrescentando também algumas análises espaciais. A importância do sensoriamento remoto, nesse caso, é que ele otimiza tempo, sendo uma ferramenta importante no auxílio às tomadas de decisões, gestão e planejamento espacial. As pesquisas em conjunto estão coletando informações novas sobre as atividades da agricultura migratória e a pecuária”, conclui a pesquisadora.
Essas ações fazem parte do projeto “Participação e Sustentabilidade: o Uso Adequado da Biodiversidade e a Redução das Emissões de Carbono nas Florestas da Amazônia Central” – BioREC – desenvolvido pelo Instituto Mamirauá com financiamento do Fundo Amazônia.
Texto: Vanessa Eyng
Fonte: Instituto Mamirauá