A redução da penetração de luz na água dos rios onde existe atividade garimpeira, provocada pelo acúmulo de sedimentos sólidos despejados, foi objeto de estudo da tese de doutorado de Felipe de Lucia Lobo, bolsista de pós-doutorado do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O trabalho foi concluído este ano pela Universidade de Victoria (Canadá), sob orientação das pesquisadoras Maycira Costa e Evlyn Novo, esta da Divisão de Sensoriamento Remoto do INPE.
Os estudos se concentraram na região do rio Tapajós, no oeste do Pará. Quatro bacias sujeitas a diferentes intensidades de mineração foram analisadas: Crepori, Novo e Tocantinzinho (impactadas) e Jamanxim (não impactada).
Foi observado, em tributários com diferentes intensidades de atividade garimpeira, uma variação de concentrações de sedimentos variando entre 0,3 e 111,3 mg/L. Quando elevada, essa concentração causa a redução na penetração da luz. Em corpos d’água com baixa concentração de sedimentos, a zona eufótica (coluna de água em que há luz suficiente para a produção de fito plâncton) foi de 6,2 metros. Essa área é drasticamente reduzida para 1,2 metros em tributários com mais de 100 mg/L de concentração de sedimentos sólidos, podendo causar alterações na composição fito planctônica do rio.
A região do rio Tapajós vem sido alvo da exploração de ouro desde os anos 1950. Motivado pela alta do preço do ouro e pelo incentivo governamental de ocupação e exploração dos minérios, as atividades se intensificaram nos anos 1980, com consequências para o meio ambiente e populações locais, de maneira ainda desconhecida.
A contaminação pelo mercúrio, usado na extração do ouro, chamou a atenção internacional pelos potenciais efeitos danosos à cadeia trófica e consumidores de peixes (população ribeirinha e os próprios garimpeiros). Desde então, inúmeros trabalhos avaliaram os índices de poluição por mercúrio, mas poucos se ativeram à degradação e poluição aquática pela introdução de sedimentos oriundos margens dos rios. Por ano toneladas de sedimento foram e ainda são despejados na rede de drenagem do Rio Tapajós. As consequências para o sistema aquático ainda são desconhecidas.
O trabalho do pesquisador também incluiu a quantificação da concentração de sedimentos nos mesmos tributários a partir de imagens históricas do sistema de satélites Landsat, com o intuito de estender as informações para o período entre 1973 e 2013. Também foi mapeada a distribuição dos garimpos na região e examinado o papel do avanço da atividade garimpeira na mudança da qualidade da água, considerando as características geográficas, como tipo de solo, proximidade à rede de drenagem.
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Fonte: Inpe