De Thiago Braz a Michael Phelps, entenda como a ciência e a metrologia influenciam na determinação de medalhas e recordes nas Olimpíadas
Seis metros e três centímetros. Foi a altura em que Thiago Braz pediu para colocar o sarrafo e com a qual desafiou o francês Renaud Lavillenie ao conquistar o ouro no salto com vara nos Jogos Olímpicos do Rio em 2016. O ouro já expõe sua grandiosidade por si só, mas o feito é maior ainda se analisados os números: enquanto a melhor marca de Braz em competições oficiais era de 5,93 m, o atleta francês ostentava o recorde mundial com um salto de 6,16 m – 13 centímetros a mais do que atual recorde olímpico alcançado por Thiago na noite de ontem. A superação e técnica do brasileiro são inegáveis, mas será que a ciência consegue explicar, em parte, esse fenômeno?
Ambos os resultados anteriores haviam sido alcançados pelos atletas na modalidade indoor, ou seja, em ginásios fechados. Na modalidade outdoor, como é a olímpica, os atletas estão sujeitos a uma série de variáveis ambientais, sendo a principal delas o vento, como detalha o pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, Gilder Nader. “A força do vento no atleta é uma resistência ao seu movimento, e nos competições outdoor de salto com vara, pode, inclusive, provocar a queda dos atletas”, diz. Até por isso, Federação Internacional de Atletismo separa seus recordes nas duas modalidades – indoor e outdoor.
E o salto com vara não é a única modalidade afetada pelos ventos, como mostra o projeto Olimpíada e Metrologia (acesse clicando aqui) desenvolvido pelo IPT. Nos saltos em distância, por exemplo, os recordes só podem ser validados caso a velocidade do vento esteja abaixo de 2 m/s – razão pela qual o americano Mike Conley, nas olímpiadas de Barcelona, em 1992, saltou 18,17cm – 20 cm a mais do que antigo recorde mundial da época – e teve a marca negada pela Federação. Também é assim nas corridas, em que, além disso, são seguidas diretrizes específicas para a determinação de recordes de olho em outro instrumento: o cronômetro.
O avanço das tecnologias permitiriam registrar a diferença em centésimos de segundo sem nenhum problema – porém, na construção de instrumentos grandes, como as pistas, seria inviável uma precisão maior do que alguns centímetros, visto que as dimensões mudam com a temperatura e movimento natural do solo. A questão também é levada em conta nas piscinas, o que explica por que foi mantido o empate triplo entre Michael Phelps, Laszlo Cseh e Chad Le Clos na prova dos 100 m borboleta do Rio.
“A exatidão da medição é de centésimos de segundo, porque na velocidade dos nadadores citados, que foi de 1,955 metros por segundo, a distância percorrida em 0,01 segundo (um centésimo de segundo) é de dois centímetros, porém, no processo construtivo da piscina é dada uma tolerância de três centímetros. Ou seja, a exatidão da medição do tempo está dentro da tolerância da construção da piscina. Esse foi o fator limitante da exatidão na cronometragem do tempo”, finaliza o pesquisador Guilherme Zahn, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN).
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