publicidade

Opinião: o BIM precisa – finalmente – “sair do papel”. Entenda

publicidade

Por Marcus Granadeiro

Quando se aborda o conceito BIM(Building Information Modeling)., normalmente se vê um ciclo completo, que inicia nas fases de viabilidade e estudos iniciais, passa por todas as fases de projeto, incluindo obra, comissionamento, operação com suas demandas de manutenção, eventuais reformas e ampliações e, por fim, encerra com o descomissionamento, sempre com realimentação de informações do ciclo

Embora seja um processo cíclico e não exista uma obrigatoriedade do BIM nascer na fase inicial, a grande maioria das aplicações práticas, discussões e projetos de implantação de BIM ficam restritas às fases de projeto. Há poucos casos de uso do BIM em obra, gerenciamento e operação, ou seja, seu uso no campo.

Qual seria o motivo? Talvez pela comum confusão sobre o conceito BIM ser software ou processo, ou porque BIM está muito relacionado com computadores e TI, assim como a atividade de projetar atualmente está. O fato é que ficar limitado a esta etapa ou pensar que é necessário esperar ter o conceito consolidado nesta etapa para explorá-lo nas demais é um verdadeiro desperdício de oportunidade.

O mundo ideal é o BIM permear todo o ciclo de vida, mas não precisa ser assim. Nas fases iniciais de adoção, quando conceitos e domínios de softwares e ferramentas ainda não estão plenos, pensar em modelos distintos para distintas operações e fases não é algo ruim. O modelo usado para compatibilizar pode ser que não seja o ideal para o planejamento, que pode não ser adequado para a operação.

Na fase de operação, podemos pensar no BIM aplicado em barragens de terra. A demanda por monitorar e operar adequadamente estas barragens ficou mais clara após o rompimento da barragem em Minas Gerais. Hoje este monitoramento é realizado através de equipamentos e sensores colocados na barragem, as leituras são coletadas e organizadas, há um processamento e uma análise, mas não é realizada em BIM.

Um passo seria fazer o modelo BIM da barragem, com todas as suas camadas, atribuindo a elas suas propriedades geotécnicas, representar o nível d’água real, gráficos das tensões, armazenar com sua respectiva posição geométrica os dados dos sensores, incluir a barragem dentro do contexto da bacia e da represa que ela forma e indicar locais de presença de pessoas, que são monitoradas em tempo real pela localização do sinal de seu telefone, entre outros Trata-se de um modelo vivo para apoiar a equipe de operação, seja para tomar decisões e corretamente documentá-las, seja para auxiliar nos eventuais planos de evacuação.

Há outros exemplos. O uso do BIM para gerir entregas de unidade, o processo de manutenção de garantias ou, até mesmo, como ambiente para armazenar dados para a operação e registro do seu histórico. Um exemplo interessante de aplicação que independe de um projeto feito em BIM é o descomissionamento, com objetivo de reduzir o impacto no meio ambiente. Este inclusive é real e já usado no Japão para desativar usinas atômicas depois do acidente de Fukushima. O material retirado é radioativo e precisa ser armazenado em contêineres enterrados, ou seja, segregado em função do grau de radioatividade medido. Assim, o modelo “BIM radioativo” é gerado e usado no plano de descomissionamento.

O caso mais grave e comum, no entanto, acontece nas locações e validações de obra, principalmente quando se tem um projeto feito em BIM. Embora o projeto esteja em BIM e desenvolvido com o que há de mais moderno, se vê a obra sendo construída com papel, piquetes de madeira, linhas e com estações totais antigas sem nenhum tipo de integração com o modelo. Toda a inteligência, clareza e precisão do projeto BIM é rebaixada para um desenho 2D e a construção se faz com a velocidade, custo e qualidade de uma época analógica.

O BIM precisa “sair do papel”, sair do ambiente de projeto. Ter BIM em projeto é importante, fundamental, mas ficar restrito a ele diminuiu o potencial do BIM, reduz seu valor. O investidor que foi encantado com o discurso conceitual se decepciona e é este o principal erro dos projetos de BIM no Brasil. O BIM precisa ir para a vida real.

Autor

Marcus Granadeiro é engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP, presidente da Construtivo.com, empresa de tecnologia com DNA de engenharia. Pioneira no conceito de nuvem, desde 1999 atende os maiores projetos de infraestrutura do Brasil, membro do ADN (Autodesk Development Network)e membro do RICS (Royal Institution of Chartered Surveyours).

Veja também: Pesquisadores da USP de São Carlos ajudam a mapear áreas destruídas do Nepal

publicidade
Sair da versão mobile