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Artigo: Decifrando a ferramenta Slope com arquivo raster no ArcGIS

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Rodrigo Lacerda Rangel Santos,  Danilo Heitor Caires Tinoco Bisneto Melo e Franciele Francisca Marmentini Rovani

Introdução

A declividade do terreno é uma variável básica para a segmentação de áreas em praticamente todos os procedimentos no planejamento territorial, por apresentar estreita associação com processos de transporte gravitacional (escoamento e erosão). A declividade é a inclinação da superfície do terreno em relação à horizontal, ou seja, consiste na relação existente entre o desnível topográfico entre dois pontos e a distância horizontal entre esses pontos (GRANELL-PÉREZ, 2004). O seu cálculo depende do intervalo de medidas, seu resultado deve ser considerado uma estimativa, ou seja, “o cálculo de declividade será sempre o resultado de um diferencial altimétricos entre vizinhos e, portanto, dependente da distância considerada” (VALERIANO, 2008, pg. 26).

Os valores de declividade podem ser expressos em percentual (%) e/ou em graus (º). As informações obtidas a partir deste mapa poderão orientar ações que enfoquem a delimitação de Área de Preservação Permanente (APP), áreas sujeitas à inundação, áreas com possibilidades de mecanização da agricultura, limites para parcelamento e uso do solo, e demais aplicações destinadas ao planejamento urbano e ambiental.

O objetivo do presente trabalho é apresentar uma descrição dos procedimentos utilizados para a elaboração do mapa clinográfico, utilizando a ferramenta Slope, do software ARCGIS para Desktop, versão 10.4 (ESRI, 2016), demonstrando de maneira sucinta e descritiva o roteiro das operações técnicas, bem como a sua base conceitual.

Para tanto, foi adquirido uma imagem da Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), com resolução de 3 arco segundo (ou 3” ou 0,000833º) corrigida cartograficamente (SRTM – MDT, versão 4), no sistema de coordenadas UTM, datum WGS84 (JARVIS et al. 2004), e disponibilizadas pela Consultative Group for International Agricultural Research – Consortium for Spatial Information (CGIAR-CSI, 2004).

A ferramenta

A ferramenta Slope está disponível no ArcToolbox, podendo ativá-la na caixa de ferramentas 3D Analyst Tools > Raster Surface > Slope, ou Spatial Analyst Tools > Surface > Slope. Esta duplicidade ocorre simplesmente porque estas caixas de ferramentas (3D Analyst Tools e Spatial Analyst) são adquiridas separadamente.

Observe a presença de pontos vertes na frente de duas etapas do processo. Isto indica a obrigatoriedade de interação com o usuário. Nos demais locais, a interação é opcional. As etapas obrigatórias para a ferramenta Slope são: Input raster e Output raster; e as opcionais são Output Meansurement e Z-Factor. Cada uma destas etapas será descrita abaixo.

Em caso de irregularidade em alguma etapa do processo, aparecerá um círculo em vermelho com um X na cor branca. Há também a presença de um triângulo em amarelo com um ponto de exclamação na cor preta, o que indica atenção do usuário para esta etapa do processo. Para obter maiores informações sobre estes apontamentos, basta passar o cursor do mouse sobre estes símbolos que aparece uma caixa com informações sobre o erro.

 

Input raster

Corresponde ao arquivo de entrada, o qual servirá de base para o processamento da informação, neste caso a declividade. No ARCMAP podemos selecionar o arquivo de entrada de duas formas:

 

Output Raster

Neste item o usuário informa o local de destino, o nome e a extensão do arquivo de saída. O ARCGIS reconhece e possibilita salvar diversos tipos de extensão, como BIL, BIP, BMP, BSQ, DAT, GIF, GRID, ERDAS IMAGINE, JPEG, JPEG 2000, PNG e TIFF. Para maiores detalhes sobre estas extensões, leia o artigo de MELO et al. (2015).

 

Output MEASUREMENT (OPTIONAL)

Em Output Meansurement (optional) o usuário deve escolher o tipo de cálculo da declividade a ser elaborado o arquivo de saída. Existem duas opções de escolha, a primeira é Degree (Graus) e a outra é Percent_Rise (porcentagem).

Esta observação é de suma importância na elaboração da informação sobre declividade, sendo importante uma revisão conceitual. Base conceitual De acordo com o IBGE (1999), a declividade é a relação existente entre o desnível topográfico

(ou altura) entre dois pontos e a distância horizontal (ou base) entre eles, como ilustrado na Figura 1.

 

 

Figura 1.Representação entre variação altimétrica e distância. Com base na figura, nota-se que quanto maior a base, menor é a declividade e vice-versa. Ou seja, são grandezas inversamente proporcionais. Com base nesta triangulação (Altura, base, declividade), os valores de declividade podem ser expressos em:

Onde: h corresponde a altura BC (Equidistância vertical); e b reporta a distância horizontal AC.

Onde: tg α corresponde ao arcotangente do ângulo α. Assim para expressar a declividade em graus:

 

O Algoritmo da declividade

Para compreender melhor o algoritmo utilizado para extrair a declividade de uma imagem matricial no SIG, será analisado os valores de pixel, como ilustrado na Figura 2.

 

Figura 2.Valores do pixel de uma imagem. O cálculo da declividade no SIG é realizado com base nos valores altimétricos dos pixels adjacentes, perfazendo um total de 8 pixels (DUNN; HICKEY, 1998). A equação para o valor de declividade (relação base/altura) do pixel central será:

O valor de De-o corresponde a distância horizontal, e calculado pela seguinte equação:

 

O valor de Dn-s reporta a altura, e calcula-se da seguinte forma:

 

 

Dunn et al. (1998) menciona que este método não considera a elevação do pixel central, acarretando em imprecisão em áreas com pouco depressão e em cadeias montanhosas ou vales. Por conseguinte, recomenda-se aplicar um filtro para suavizar a informação de altitude antes de calcular a declividade (SRINIVASAN; ENGEL, 1991).

 

Fator Z

O fator z é um fator de escala utilizada para converter valores de elevação por dois motivos:

Visualização da imagem de declividade

 

Os valores de declividade da imagem são contínuos, portanto, visualizada em tons de cinza. Todavia, para uma melhor visualização, recorre a classificação da declividade, para os mais variados usos e ocupação do espaço. A Tabela 1 apresenta as classes de declividade utilizadas por alguns autores e órgãos.

 

TABELA 1. COMPARAÇÃO ENTRA AS CLASSES DE DECLIVIDADE

 

Para executar a classificação basta abrir as propriedades (Layer Properties) do plano de informação, e escolha Simbology>Classified> Classify. Com base nisto, foi realizada a classificação da declividade com base nas classes apresentadas pelos Tabela 02, demonstrado na Figura 3, onde a Figura 3A corresponde a classificação de Marques (1971), Figura 3B (HERZ; DE BIASE, 1989), Figura 3C (LEPSCH, 1991), Figura 3D (ITESP, 2000) e Figura 3E (EMBRAPA, 2006).

Figura 3. Classificação da declividade.

 

REFERÊNCIAS

CONSULTATIVE GROUP FOR INTERNATIONAL AGRICULTURAL RESEARCH – CONSORTIUM FOR SPATIAL INFORMATION (CGIAR – CSI). SRTM 90 m Digital Elevation Data. Washington, 2005. Disponível em: . Acesso em: 28 dez. 2015.

DE BIASI, M. A carta clinográfica: os métodos de representação e sua confecção. Revista do Departamento de Geografia. São Paulo: USP, n.6, 1992, p. 45-53.

DUNN, M.; HICKEY, R. The effect of slope algorithms on slope estimates within a GIS. Cartography, v. 27, n. 1, p. 9-15, dec. 1998.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA). Sistema Brasileiro de classificação de solos. 2ª ed. Brasília: EMBRAPA, 2006. ENVIRONMENTAL SYSTEMS RESEARCH INSTITUTE (ESRI). ArcGIS for Desktop, versão. 10.4. Redlands:ESRI, 2016. FRYE, C. Setting the z fator parameter correctly. Redlands: ESRI, 2007. Disponível em: . Acesso em: 22 jun. 2016. GRANELL-PÉREZ, M. Del C. Trabalhar geografia com as cartas topográficas. Ijuí: Ed. Unijuí, 2004, 128 p.

HERZ, R. DE BIASI, M. Critérios e legendas para macrozoneamento costeiro. Brasília: CIRM, 1989. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Noções Básicas de Cartografia. v. 1. Rio de Janeiro: Fundação IBGE, 1999. 130 p.(Manuais Técnicos em Geociências, n. 8).

INSTITUTO DE TERRAS DO ESTADO DE SÃO PAULO (ITESP). Sítios e ‘situantes’: planejamento territorial e cálculo de módulo para assentamentos rurais. 2ª ed. São Paulo: FITESP, 2000. JARVIS, A.; et al. Practical use of SRTM data in the tropics – Comparisons with digital elevation models generated from cartographic data. Cali: CIAT, 2004.

LEPSCH, I.F. (Coord.) Manual para levantamento utilitário do meio físico e classificação de terras no sistema de capacidade de uso. 2ª ed. Campinas: SBCS, 1991. 175p.

MARQUES, J. Q. A. Manual brasileiro para levantamento da capacidade de uso da terra. 3ª ed. Rio de Janeiro: ETB/EUA, 1971.

MELO, et al. Decifrando o georreferenciamento no ARCGIS. Revista MundoGEO. Curitiba: MundoGEO, ano 17, n. 81, mar./abr. 2015. (Conteúdo Complementar, on-line). Disponível em: . Acesso em: 03 jul. 2016.

SRINIVASAN, R.; ENGEL, B. A. Effect os Slope prediction methods on Slope and erosion estimates. Applied Engineering in Agriculture, v. 7, n. 6, p. 779-783, 1991.

VALERIANO, M. M. Topodata: guia para utilização de dados geomorfológicos locais. INPE: São José dos Campos, 2008. (INPE-15318-RPQ/818).

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