Esta última semana foi de muita expectativa e alegria para quem, assim como eu, é apaixonado pela conquista do espaço. A quinta, o sábado e o domingo mobilizaram uma grande audiência para o retorno dos americanos ao espaço, não mais de carona, mas a bordo de um veículo americano. Diversos amigos meus acompanharam todos os momentos deste grande empreendimento.
Desde 2011, com o voo do ônibus espacial Atlantis (Atlantis foi o primeiro navio de pesquisa oceanográfica dos EUA e o quarto modelo de ônibus espacial americano, sucedendo Columbia, Challenger e Discovery e precedendo o Endeavour), os astronautas americanos só tinham acesso à Estação Espacial Internacional (ISS – International Space Station) por meio das espaçonaves russas Soyuz.
Essa semana trouxe a excitação experimentada nos anos 1960, o auge da corrida espacial, parte importante da guerra fria entre a União Soviética (URSS) e os Estados Unidos da América (EUA). Antes, em 1957 (3 de novembro), a cadela russa Laika foi o primeiro animal a orbitar a Terra a bordo da espaçonave Sputinik-2. Em 1961 (12 de abril), o cosmonauta russo Yuri Gagarin se tornou o primeiro homem a circular a Terra no espaço, a bordo da espaçonave Vostok-3KA.
Os soviéticos lideravam a corrida quando, no fim da década, em 1969 (16 a 24 de julho), os astronautas norte-americanos Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins foram os primeiros a pousar na superfície lunar (20 de julho). O pouso teve uma enorme audiência em todo o mundo. Apenas os dois primeiros tiveram o privilégio de pisar na Lua.
Se vocês repararam, a disputa entre russos e americanos inclui inclusive a denominação de quem viaja ao espaço: cosmonauta (russa) e astronauta (americana).
Mas as viagens espaciais tornaram-se corriqueiras. São mais de trezentas viagens tripuladas, com apenas 6 pousos na Lua (somente 12 astronautas pisaram na Lua) e mais de 70 viagens à ISS.
Mas o que este fim de semana trouxe de novidade? Pela primeira vez, um veículo espacial construído por uma empresa privada (SpaceX) foi lançada ao espaço com tripulação.
A Missão Demo-2 foi responsável pelo lançamento da espaçonave Crew Dragon-2 em direção à ISS. O lançamento foi realizado em 30 de maio de 2020.
E o acoplamento à ISS, depois de mais de 19 horas de voo, ocorreu no dia seguinte, 31 de maio de 2020.
Hoje, os astronautas Robert Behnken e Douglas Hurley descansam observando uma vista maravilhosa: a bela e redonda Terra azul. Além disso, o foguete (ou Veículo Lançador de Satélites – VLS) retornou à Terra, pousando em uma plataforma marítima.
Isto representa um grande avanço tecnológico e uma grande economia no orçamento do programa espacial. Por fim, a SpaceX se preocupou com o design dos trajes espaciais, indo além da segurança e funcionalidade. Para mim, os trajes remontam ao ambiente da séria Guerra nas Estrelas. Gostei muito.
Mas é preciso interpretar bem o momento. O sucesso da missão Demo-2 é fruto de uma bem sucedida parceria público-privada (SpaceX e NASA). A NASA investiu bilhões de dólares, assumindo o risco da missão. Deve-se destacar que o Estado chegou ao espaço 60 anos antes da iniciativa privada chegar.
Mas a missão Demo-2, com recuperação do VLS e outros avanços tecnológicos, deve representar uma grande economia para o estado americano, coroando de sucesso a parceria NASA-SpaceX.
Esse modelo, do Estado investidor, indutor do desenvolvimento científico e tecnológico, é o que o setor espacial brasileiro, formado por inúmeras pequenas e algumas médias empresas, precisa para devolver o Brasil à posição de líder na América Latina, auxiliando em soluções para inúmeros problemas que necessitam de tecnologia espacial, seja de observação da Terra, de meteorologia, de comunicações ou de navegação e posicionamento.
Esperamos que este momento de enorme visibilidade das atividades espaciais seja um facilitador para que tenhamos um orçamento anual, de curto, médio e longo prazos, correspondente às necessidades identificadas pela Agência Espacial Brasileira (AEB) e que tem o apoio da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB).
É hora de colocar em movimento a tão propalada tripla hélice para a inovação e o desenvolvimento científico e tecnológico: Estado, Empresas e Academia. O Estado por meio principalmente da AEB, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, INPE (esses dois do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, MCTIC) e do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial, DCTA / Comissão de Coordenação e Implantação de Sistemas Espaciais, CCISE, da Força Aérea Brasileira (Ministério da Defesa).
As Empresas representadas principalmente pelas filiadas à AIAB e a Academia representada pelos institutos de pesquisas e universidades, com destaque para o INPE e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica, ITA.
Não posso encerrar sem antes parabenizar todos que contribuíram para o sucesso da missão Demo-2. Vocês nos proporcionaram um grande fim de semana. Obrigado.
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