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BIM pode impulsionar uma transformação na contratação de projetos em infraestrutura

O uso do BIM melhora a confiabilidade, produtividade, inovação e sustentabilidade nos projetos, ao usar modelos multidisciplinares e gestão mais integrada e colaborativa

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A entrada em vigor da obrigatoriedade do uso do Building Information Modeling (BIM) em projetos de grande relevância para alguns órgãos de administração pública, estabelecendo programas pilotos, representa um marco tecnológico para o setor da construção e para o Brasil. Mas, também pode ser o grande impulsionador para transformar o que está sendo feito na prática em licitações públicas e até mesmo mudar alguns marcos regulatórios na área de infraestrutura, diminuindo a vulnerabilidade dos empreendimentos construídos.

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Captura de Realidade e BIM para projetos de As Built/As Is

“O BIM permite equacionar o ciclo de vida dos empreendimentos, permitindo maior assertividade na definição de quantitativos e a antecipação da análise de desempenho do espaço construído. Com ele, é possível fazer estudos e simulações de desempenho desde questões estruturais até etapas de manutenção e operação do edifício, ao construir virtualmente nosso empreendimento”, disse o arquiteto Eduardo Sampaio Nardelli, vice-presidente de Arquitetura do Sindicato Nacional da Arquitetura e Engenharia (Sinaenco), durante o Webinar Aplicações do BIM em obras de Infraestrutura, organizado pela Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema), no dia 18 de março.

Para ele, não haver a exigência de um projeto executivo para contratação da obra, tendo como referência apenas um projeto básico; e a preferência pelo leilão de preços sem qualquer consideração pela qualidade das propostas técnicas acarretam em uma má contratação de projetos. Somado a isso, há ainda a falta de manutenção adequada dos ativos, sem a devida atenção ao impacto ambiental da produção e da operação desses empreendimentos. “Infelizmente, o investimento em manutenção no Brasil é próximo a zero; faltam recursos financeiros e sobram barreiras institucionais”.

Por isso, o vice-presidente do Sinaenco defende que as contratações do projeto deveriam levar em conta a análise do ciclo de vida dos ativos, que possibilita perceber o custo total do empreendimento e de cada etapa desde sua concepção, passando por seu uso e manutenção, até sua demolição. No setor privado, existem indústrias que buscam essa análise assim como instituições financeiras que exigem essa avaliação para financiar novos projetos.

Na abertura do evento, o engenheiro Afonso Mamede, presidente da Sobratema, ressaltou que o BIM é uma realidade principalmente na área imobiliária. “A tecnologia possibilitará o setor de infraestrutura padronizar métodos e processos, com projetos saindo com os critérios ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa), passando a atuar no ciclo de vida do empreendimento”.

Nesse sentido, Alexandre del Savio, professor da Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade de Lima (Peru) e partner na Conexig, ressaltou no Webinar da Sobratema a importância de um avanço mais consistente no setor da construção para atender as expectativas do cliente. “Nossa engenharia em infraestrutura está muito baseada na produção e planos 2D e a partir disso chega-se no 3D, o que não é ideal. Por isso, precisamos inverter esse processo, com os modelos em BIM gerando todos os planos e materiais para a fase de compra, construção, operação e manutenção”.

Segundo del Savio, o BIM é um componente de uma grande engrenagem para que a gestão de um projeto funcione. “E, essa visão precisa estar alinhada com a do cliente, que por sua vez, é definida nos objetivos do projeto para conceber o melhor produto possível”, disse. Para que isso se torne realidade, ele afirmou serem necessárias ferramentas, tecnologias e metodologias potentes, como o IPD (Integrating Project Delivery), que possibilita integrar informação, organização, processos, sistemas e pessoas, incluindo até a questão de contratos para que tanto na economia quanto no risco haja um compartilhamento entre cliente e construtora.

No caso da metodologia VDC (Virtual Design and Construction), o professor afirmou que melhora a confiabilidade, produtividade, inovação e sustentabilidade nos projetos, ao usar modelos multidisciplinares e gestão mais integrada e colaborativa.

Na visão de Leonardo Santana, analista de Produtividade e Inovação da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), a Estratégia BIM BR é uma política de Estado, com 10 anos de duração, com o objetivo de ajudar o mercado e a administração pública se adaptar a metodologia BIM”. Outros dois marcos para a estratégia serão em 2024, com o uso de BIM também em execução de grande relevância, e em 2028, soma-se a fase de pós-obras.

Sobre a Plataforma BIMBR, Santana afirmou que ela está em constante evolução. Atualmente, conta com mais de 9700 usuários cadastrados, cerca de 105.600 downloads e mais de 1740 objetos BIM disponíveis para download. De todo o conteúdo disponível, 17% do material é voltado para a área de infraestrutura, sendo a maioria advindo de contribuições do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). Por fim, ele citou a importância das parcerias com diversos públicos, incluindo a Sobratema.

Em termos de aplicação do BIM no setor da infraestrutura, executivos da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) comentaram sobre os desafios e os benefícios da tecnologia em seus projetos de adequação de acessibilidade em suas estações. O principal obstáculo citado por Eduardo Tavares de Lima, gerente de Projetos da companhia, foi que a empreiteira vencedora da licitação não tinha conhecimento sobre o BIM. Com isso, foi necessária a consultoria do SENAI como facilitador para a implementação da tecnologia na execução.

“Apoiamos a definição do processo As-Built em BIM, as informações que precisavam ser atualizadas e/ou validadas e como os processos estavam sendo feitos no canteiro, além das especificações consolidadas pelo processo de compra”, disse Rogério da Silva Moreira, Supervisor de Projetos e Tecnologia no IST em Construção Civil do SENAI-SP, durante o Webinar da Sobratema. Foram aproximadamente três meses de desenvolvimento, um mês de interface para modelar processos e para capacitação de seis profissionais da empreiteira. O SENAI acompanhou os primeiros modelos e, no intervalo de seis meses, a empresa contratada criou todos os demais documentos.

A empreteiria ainda realizou uma segunda obra para a CPTM em BIM, mas sem a contribuição do SENAI por ter os modelos já definidos, o que garante a conformidade técnica dos produtos utilizados na construção bem como a validação e conferência dos componentes, materiais, elementos, acessórios. Segundo os palestrantes, com a tecnologia é possível ter todo o histórico da obra, assegurando sua execução.

A CPTM pretende avançar no processo de evolução do BIM, com o propósito de utilizar a tecnologia também na gestão de ativos. Nesse sentido, Fernando Boselli, gerente de Projetos e chefe do Departamento de Consistência e Inovação de Projetos da companhia, contou que um dos próximos passos é a realização de um projeto piloto para realizar a orçamentação em BIM. “Esse será a primeira aplicação fora da área de projeto”.

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