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Novas tecnologias espaciais podem auxiliar na detecção e prevenção de danos ambientais

Desmatamento, queimadas e eventos climáticos extremos estão entre os problemas que podem ser reduzidos ou previstos com o uso de soluções integradas à satélites

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De acordo com o último relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), as crises da mudança climática, perda de biodiversidade e poluição estão interligadas e colocam sob “risco inaceitável” o bem-estar das gerações atuais e futuras. Diante deste cenário, mais do que nunca, é essencial encontrarmos formas de detectar e prevenir danos ambientais e, no Brasil, tratar deste assunto ainda é um grande desafio.

Um dos motivos para isso é o desenvolvimento da agricultura, uma das principais bases da nossa economia e também o maior motivador do desmatamento de florestas no país. “Sabemos que a agricultura brasileira garante parte da segurança alimentar global e gera cerca de 500 bilhões de reais por ano em exportações para o Brasil. Porém, os danos ambientais causados criminosamente por grileiros, como a remoção da floresta amazônica por exemplo, são responsáveis por mudanças no clima que podem afetar diretamente as áreas agrícolas”, aponta Luiz Aragão, coordenador Geral Substituto da Coordenação Geral de Ciências da Terra e Chefe da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Outro problema que tem afetado o nosso ecossistema é a ocorrência de incêndios devido a queimadas sem controle e sem manejo adequado, que, além de degradar a nossa biodiversidade e reduzir a capacidade de desenvolvimento bioeconômico, podem desencadear uma sobrecarga do serviço público de saúde, uma vez que essa poluição atmosférica pode causar problemas respiratórios em meio a uma pandemia que afeta diretamente o sistema respiratório.

Também temos visto cada vez mais eventos climáticos extremos acontecendo no Brasil como potenciais resultados desses danos ao meio ambiente. Um exemplo disso são as fortes chuvas que têm castigado alguns munícipios no interior da Bahia e em Minas Gerais, contabilizando uma série de prejuízos.

Uma das soluções que podem ser utilizadas para melhorar o planejamento e o desenvolvimento de soluções de adaptação e resposta para esses fenômenos é o uso de novas tecnologias espaciais que nos fornecem dados a partir de satélites que estão na órbita da Terra. “Atualmente, mais de 700 satélites de observação da Terra estão orbitando o nosso planeta e permitem o monitoramento de todos os processos relacionados ao clima e as mudanças ambientais, enchentes, secas, queimadas etc. Com isso, é possível, a partir de um planejamento estratégico de ações, que os dados obtidos mitiguem esses problemas ou promovam adaptações”, destaca Aragão.

Um exemplo de tecnologia que temos à disposição para auxiliar com essa questão é o Copernicus, Programa de Observação da Terra da União Europeia. Criado e desenvolvido pela UE, o sistema coleta, monitora e fornece diversas informações do planeta, incluindo qualidade do ar, situação da camada de ozônio e radiação ultravioleta, emissões e fluxos da superfície, radiação solar e gases de efeito estufa.

Os dados disponibilizados livremente pelo programa são de interesse público e também para a realização de diversas atividades de pesquisa e de monitoramento no Brasil e no mundo, incluindo, por exemplo, a quantificação das mudanças climáticas e do desmatamento. “Com os dados do Copernicus, ganhamos um arsenal de informações que são imprescindíveis para a gestão do nosso território e dos nossos recursos naturais. Com a geração de mapas provenientes dessas imagens de satélites conseguimos verificar as áreas que estão expostas a mais e menos riscos e planejar as atuações no território, visando o próprio desenvolvimento nacional focado no zoneamento dos potenciais de cada região para desenvolver a indústria ou a bioeconomia ou a parte energética, por exemplo”, comenta Luiz.

Este ano, com a ativação da primeira conexão direta entre Brasil e Europa completamente dedicada para atividades de ensino e pesquisa, através do uso do cabo submarino EllaLink, as informações chegam de forma ainda mais rápida por aqui, facilitando as análises preditivas. Parte da capacidade do cabo submarino Ellalink é usada pelo projeto BELLA (Building the Europe Link to Latin America), que atende às necessidades de interconectividade das comunidades de pesquisa e educação europeias e latino-americanas nos próximos 25 anos. O consórcio BELLA é formado pelas redes acadêmicas da Europa (Géant) e da América Latina (RedCLARA), incluindo o Brasil (RNP).

 “A cooperação internacional com o Copernicus enriquece os recursos para a observação da Terra disponíveis na nossa região, enquanto permite aos europeus o acesso às observações feitas por satélites monitorados pelo INPE, beneficiando os dois parceiros. A aliança entre infraestrutura de comunicação do cabo EllaLink e seus grandes usuários de interesse público é um modelo atraente para financiar as novas redes de pesquisa e educação”, explica Michael Stanton, cientista de redes da RNP.

O aumento do número de imagens também permite termos alertas mais frequentes, permitindo uma ação mais assertiva dos órgãos fiscalizadores. “Graças a esse cabo transatlântico, temos como detectar áreas que estão sendo desmatadas praticamente em tempo real e alertar as autoridades. Um ganho tanto para a nosso ecossistema quanto à imagem do Brasil, que presta contas ao mundo sobre a manutenção da fauna e da flora locais, e recebe recursos financeiros para isso”, finaliza Aragão.

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