O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) inaugurou na última sexta-feira (16/12) quatro novas estações da Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo (RBMC) dos Sistemas GNSS para o georreferenciamento de precisão. Elas estão localizadas nos municípios de Vilhena (RO), Campo Grande (MS), Imbituba (SC) e Criciúma (SC). Também hoje foi lançada a atualização da série temporal das estações da Rede Maregráfica Permanente para Geodésia (RMPG), obtida no período de janeiro a dezembro de 2021, e das estações da RBMC para o período de janeiro a dezembro de 2022.
A operacionalização e a manutenção das estações de ambas as redes (RBMC e RMPG) são atividades de responsabilidade do IBGE em parceria com universidades e instituições públicas.
A RBMC conta atualmente com 146 estações em todo o país, a maioria delas equipadas com receptores GNSS (sigla em inglês para Sistema Global de Navegação por Satélite), capazes de rastrear sinais transmitidos pelos satélites do sistema de navegação americano (GPS) e pelo sistema russo (GLONASS). Disponibilizados diariamente no portal do IBGE, os dados GNSS são públicos e gratuitos, sendo usados em diversas atividades de georreferenciamento, tais como: demarcação de propriedades urbanas e rurais; agricultura de precisão; pesquisas científicas sobre as perturbações que ocorrem na atmosfera e afetam a propagação de ondas eletromagnéticas; e estudos sobre a variação do nível do mar na costa.
Outro serviço prestado pela RBMC é o georreferenciamento em tempo real através de telefonia móvel, possibilitando coordenadas de precisão centimétrica desde que o usuário esteja realizando sua atividade num raio de até 30 km de distância de uma estação da rede.
“Desde 2017, com a inclusão da RBMC como um dos projetos estratégicos do Instituto, as estações vêm recebendo especial atenção na modernização dos equipamentos”, afirma a coordenadora de Geodésia do IBGE, Sônia Maria Alves da Costa. “Os novos equipamentos possuem maior capacidade de armazenamento, permitindo a publicação de arquivos com intervalo de coleta de 1 segundo, além dos arquivos diários de 15 segundos”, complementa. Com isso, a RBMC conta hoje com 42 estações coletando e publicando dados GNSS de 1 segundo. A ferramenta personalizada de download dos dados possibilita ao usuário a obtenção de dados de forma mais amigável. Além de rastrear os satélites dos sistemas GPS e GLONASS, os novos equipamentos também rastreiam sinais transmitidos pelos satélites Galileo (sistema europeu) e Beidou (sistema chinês), como é o caso das quatro novas estações.
Todas as estações da RBMC fazem parte da Rede de Referência Regional SIRGAS (Sistema de Referência Geodésico para as Américas), fruto da colaboração entre os países americanos que disponibilizam os dados das suas estações GNSS de operação contínua, sendo essa uma das redes geodésicas mais precisas do mundo. Por meio de processamento semanal destes dados é possível monitorar, de forma contínua, as variações nas coordenadas das estações, identificando eventuais deslocamentos sofridos de forma local ou regional, como o movimento contínuo das placas tectônicas ou aqueles decorrentes de terremotos.
Outro fenômeno também monitorado no processamento semanal são as variações na altitude decorrentes da carga hidrológica que ocorrem na região amazônica. Esses movimentos ou variações são representados através das séries temporais das coordenadas.
Séries temporais da Rede Maregráfica Permanente para Geodésia
O IBGE também apresenta hoje a atualização da série temporal da Rede Maregráfica Permanente para Geodésia (RMPG), compreendendo o período de janeiro a dezembro de 2021, uma vez que no final de 2021 foram publicadas as séries temporais para o período de julho de 2001 a dezembro de 2020. A atualização ocorreu de acordo com os critérios adotados no relatório “Monitoramento da variação do Nível Médio do Mar nas Estações da Rede Maregráfica Permanente para Geodésia – RMPG 2001–2020”.
A série única para cada estação é gerada a partir dos dados diários disponibilizados pelo IBGE, tendo realizadas as devidas correções de altura de referência dos sensores. Formada por um conjunto de seis estações maregráficas instaladas e operadas pelo IBGE, a RMPG monitora a relação entre o datum vertical (superfície de referência oficial formada pelo nível médio do mar nesses locais e períodos) e outros níveis de referência maregráficos utilizados na cartografia náutica e na engenharia costeira. Esses dados subsidiam estudos sobre a modernização das altitudes brasileiras e a variação do nível médio do mar.
As estações maregráficas estão localizadas nos municípios de Arraial do Cabo (RJ), Imbituba (SC), Salvador (BA), Fortaleza (CE), Belém (PA) e Santana (AP). “Foi a partir desses equipamentos que detectamos, na costa brasileira, anomalias provocadas pelo tsunami ocorrido em Tonga, no Oceano Pacífico”, explica o gerente de Redes Verticais do IBGE, Salomão Soares, referindo-se ao fenômeno registrado em janeiro de 2022.
As informações produzidas pela RMPG são úteis para diversas aplicações, como redução de sondagens para conservação e ampliação da capacidade de portos e vias navegáveis, implantação de infraestrutura (portos, rodovias, redes de água e esgoto) em regiões litorâneas e estudo de possíveis medidas de adaptação e mitigação dos impactos da elevação global do nível do mar.
No âmbito internacional, a rede contribui para o Programa Global de Observação do Nível do Mar e para o Programa de Alerta de Tsunami do Caribe, da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da Unesco, que apresentava significativa carência de informações no Atlântico Sul.
Novas APIs para acesso a dados e serviços geodésicos
Desde 16 de dezembro, os usuários dos dados e serviços geodésicos oferecidos pelo IBGE têm acesso a cinco novas interfaces de programação de aplicação (APIs, do inglês Application Programming Interface). Os produtos disponibilizados pelo instituto podem ser usados por desenvolvedores de software para incorporar esses dados e serviços aos seus próprios aplicativos e programas.
As cinco novas APIs (BDG, ProGrid, hgeoHNOR2020, IBGE-PPP e RBMC) já estão disponíveis aqui, que agora oferece 18 serviços. Nesse link também é possível consultar a documentação necessária para que os desenvolvedores executem o trabalho.
O gerente de Geodésia do IBGE, Aislan Ferreira, explica que as APIs podem ser entendidas como um contrato de serviço entre diferentes aplicações. A finalidade é oferecer recursos e serviços de forma simples e estruturada. “O IBGE funciona como provedor do serviço e estabelece as regras para uso, documentando o que o serviço faz, como pode ser acessado e quais respostas de sucesso e erro são geradas pelo serviço, por exemplo”, diz. Em geral, nessa troca de informações é usada uma forma de representação de dados compacta e de padrão aberto, como o JSON (JavaScript Object Notation).
De acordo com o gerente, o objetivo na disponibilização das novas APIs é automatizar o acesso aos dados, sem que o usuário precise navegar no site institucional e preencher formulários. O maior benefício trazido por elas é a entrega de funcionalidades previstas, o que faz com que o usuário precise apenas obedecer aos parâmetros necessários para efetuar a requisição e receber a resposta.
“Qualquer interessado que necessite de dados geodésicos oficiais pode integrar esses dados diretamente em suas aplicações, apenas efetuando requisições para API, sem a necessidade de efetuar downloads prévios da base de dados. Por isso o foco deste trabalho são empresas desenvolvedoras de software, que poderão criar novas soluções baseadas nestes serviços”, afirma.
Aislan ainda destaca o papel das APIs oficiais como instrumentos de inovação, ao estimular o desenvolvimento e criar novas oportunidades de negócios e produtos. Também ressalta que as novas interfaces são outras formas de acesso a dados geodésicos já disponibilizados pelo IBGE. “O grande diferencial é que a partir de agora eles podem ser usados de uma forma automática, programável. Isso permitirá agregação de valor em outras aplicações”, acrescenta.
A coordenadora de Geodésia do IBGE, Sonia Costa, exemplifica um dos possíveis usos das APIs. “Por exemplo, pode ser desenvolvido um aplicativo para celular sobre as estações geodésicas. Uma pessoa no campo identifica uma estação do IBGE e quer obter mais informações dela. Nesse aplicativo, ele informa somente o código encontrado na chapa identificadora e a consulta é realizada automaticamente no banco de dados geodésicos, sem a necessidade de acessar o portal do IBGE”, ilustra.
Com informações e imagens do IBGE
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