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Como a VertiMob planeja implantar vertiportos em São Paulo

Empresa brasileira vai implantar vertiporto em São José dos Campos para simular situações de operações e participar do sandbox regulatório da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) para a definição da regulamentação sobre o assunto

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São Paulo será o principal palco brasileiro das operações com eVTOLs, as aeronaves elétricas de decolagem e pouso vertical. Para que esse cenário se concretize, não bastará o eVTOL. Será mandatório uma infraestrutura de solo que permita não só o pouso e decolagem, mas também o carregamento das baterias e a manutenção dos equipamentos. É exatamente nesse espaço que a VertiMob Infrastructure pretende atuar e viabilizar a escalabilidade da tecnologia na capital paulista e no Brasil como um todo.

A empresa atua em um mercado que, a grosso modo, ainda não existe. Não há eVTOLs voando comercialmente no país. Sequer há regulamentação definida sobre o assunto, inclusive acerca dos vertiportos. Mesmo assim, a VertiMob tem bem claro de que se trata de um segmento com grande potencial — a presença da Eve Air Mobility, da Embraer, e futuros operadores como Azul, Gol, Avantto, Voar, entre outras, dá um mínimo de segurança nesse sentido.

E diferentemente do que se propaga usualmente, não serão os helipontos nos topos dos prédios da Avenida Faria Lima que farão os eVTOLs decolarem. Essa é a visão da VertiMob, que não pretende investir tempo e recursos para transformar os prédios em espaços aptos para a operação dessas aeronaves. Segundo a empresa, há mais impeditivos do que vantagens. Posição única, dificuldade para criar estrutura de carregamento e demora no acesso são alguns dos obstáculos.

“Não pretendemos trabalhar com helipontos. Os vertiportos podem ser instalados em shoppings, nos estacionamentos dos shoppings. Eles podem estar em edifícios-garagem, num parque, caso a prefeitura dê permissão, ou em terrenos greenfield. A ideia é que o espaço seja significativamente maior do que um heliponto e que dê a capacidade para carregar as baterias dos eVTOLs”, revela o CEO da VertiMob Infrastructure, Bruno Limoeiro. “É muito mais fácil ajustar um grid elétrico de um shopping, com capacidade de energia muito grande, do que ajustar de um prédio comercial. O shopping tem sempre essa ideia de expansão”, acrescenta.

As baterias são o principal desafio para as operadoras e empresas de infraestrutura, seja a recarga rápida que não passe de 15 minutos ou também questões de segurança, primordiais para a concretização dessa tecnologia. Quando há baterias com eletrólitos líquidos, como é o caso das baterias disponíveis e que as fabricantes estão usando nos eVTOLs, há um risco de aumento de temperatura e o eletrólito pegar fogo. E para apagar incêndios desse tipo não se pode usar sistemas disponíveis atualmente, mas sim de grandes volumes de água”, alerta o CDO da VertiMob, Manuel Ayres.

VertiMob prepara rodada para captação de recursos

Essas diversas questões relacionadas à operação dos eVTOLs tornam todo o cenário incerto. Mesmo assim, a VertiMob decidiu que entraria nesse ramo. E para garantir o melhor recurso técnico, formou uma equipe com profissionais experientes no setor da aviação, como o próprio Manuel Ayres, consultor de aeroportos no Brasil e no exterior, o comandante Cesar Tuna, consultor de tráfego aéreo e ex-chefe de divisão do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), o comandante Miguel Dau, cofundador da Azul, com passagem pela GRU Airport e hoje na CCR Aeroportos. Além deles, os sócios Bruno Limoeiro e Matheus Chiang, além do consultor de mobilidade Sérgio Avelleda.

A empresa vai atuar em um nicho que ninguém ainda se atreveu no Brasil. Há várias companhias estrangeiras fazendo o que a brasileira quer fazer, mas nenhuma delas tem planos para desembarcar por aqui em um primeiro momento, mesmo com um grande potencial — o Brasil, ao lado dos Estados Unidos e China, deve ser protagonista na mobilidade aérea urbana. Uma companhia brasileira atuando no Brasil, segundo os diretores da VertiMob, é uma vantagem competitiva, inclusive com mais possibilidade de atrair investidores.

Para viabilizar os projetos que têm, por enquanto, no papel, a VertiMob vai precisar de recursos. Para isso decidiu que abrirá em breve uma primeira rodada de captação de investimentos.“Pretendemos fazer uma ou duas rodadas de captação, ou até mesmo três, para conseguirmos nos alinhar a empresas que possuem algum tipo de sinergia, sejam elas empresas de infraestrutura, empresas de aeroportos, bancos e fundos de investimentos. Ainda não abrimos nenhuma conversa, mas é algo que queremos seguir”, antecipa Limoeiro.

O caminho é muito parecido com o trilhado por companhias estrangeiras desse setor, notadamente Skyports, UrbanV, Urban-Air Port e Ferrovial, que têm projetos em andamento, com diversos testes já realizados. O exemplo dessas empresas não se limita à parte financeira, mas também do ponto de vista tecnológico. Por isso os diretores da VertiMob vêm acompanhando de perto o que as pioneiras dos vertiportos estão fazendo e, mais importante, como estão fazendo. A VertiMob pretende usar essas referências, mas adaptando à realidade e à cultura brasileiras.

Primeiro vertiporto será em São José dos Campos

O primeiro passo prático da VertiMob já foi dado. Em 10 de julho, a empresa anunciou uma parceria estratégica com o SJK Airport, o aeroporto de São José dos Campos, para a construção do que pode vir a ser o primeiro vertiporto da América Latina. A previsão é de que a infraestrutura esteja disponível em janeiro de 2025 e fique dois anos passando por exaustivos testes.

Esse período seria usado como participação do sandbox regulatório da ANAC, que chamou interessados a apresentar projetos que possam pavimentar o caminho para uma regulamentação específica sobre vertiportos, adotando um ambiente regulatório experimental e monitorado constantemente pela agência reguladora.

“Já desenvolvemos uma minuta de proposta e eles [ANAC] têm conhecimento da experiência que temos, então acreditamos que há uma grande possibilidade a partir dessa pesquisa que incorporamos na proposta, inclusive com alguns temas adicionais que a ANAC não incluiu no edital. Esperamos cobrir adequadamente os requisitos e cumprir até mais do que o necessário. Acreditamos que a ANAC vai aceitar”, projeta Ayres. “A nossa proposta vai ajudar a dar respostas que ANAC está procurando para desenvolver uma regulamentação sólida”, complementa.

O vertiporto será implantado na área de teste de motores (run-up area), que já conta com pavimentação adequada para a iniciativa. Caberá à VertiMob criar toda a infraestrutura necessária para a operação do vertiporto, incluindo estrutura de carregamento de baterias, acesso de passageiros, segurança contra incêndio, entre outros aspectos. Antes, porém, a empresa fará estudos para avaliar as melhores localizações dos equipamentos de medições de ruído e de velocidade de deslocamento de ar para definir áreas de proteção, desvios laterais e verticais de voos.

Pela falta de eVTOLs certificados e voando no Brasil, a VertiMob terá de realizar testes com base em simulações. Pelo menos em um primeiro momento. Mas a expectativa é de que em 2026, quando a Eve pretende entregar as primeiras aeronaves aos clientes, incluindo a Voar — outra parceira da VertiMob —, testes com eVTOLs reais possam ser realizados. Isso, aliás, é determinante para o vertiporto em São José dos Campos. “Colocamos na nossa proposta à ANAC que é necessário que tenhamos eVTOL para validar o que foi feito na simulação. Por isso, vamos deslocar o cronograma de acordo com a disponibilidade dessas aeronaves”, destaca Ayres.


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